nvestigação apontou negligência de técnico que recebeu mensagens pedindo reparo do fio, mas não teria deslocado equipes para atender ocorrência. Inquérito remetido à Justiça ouviu 18 pessoas e coletou documentos. Eventual responsabilidade da empresa será apurada na esfera cível
Um funcionário da CEEE Equatorial foi indiciado por homicídio culposo por causa da morte de um jovem que encostou em um fio rompido e energizado da empresa em Bagé, na Região da Campanha. Murilo Vieira dos Santos, 24 anos, morreu em 4 abril. Ele ficou recebendo descargas elétricas por três horas.
Segundo o titular da 2ª Delegacia de Polícia de Bagé, delegado Caio Imamura, o empregado da CEEE, cujo nome não foi divulgado, recebeu ao menos duas mensagens pedindo o reparo do cabo. Ele teria informado que estava deslocando uma equipe de urgência, mas de acordo com documentos e depoimentos de técnicos da empresa e de uma terceirizada, nenhuma medida foi adotada.
— Ele recebeu a informação na noite anterior e por volta das 9h do dia do acidente, mas não fez nada. Simplesmente negligenciou. Não acessou a ocorrência nem comunicou seus superiores, sendo que se tratava de emergência de risco — afirma Imamura.
Como Murilo morreu por volta das 10h30h, Imamura entendeu que não houve intenção de matar, mas a postura negligente do técnico resultou na morte. O inquérito foi remetido ao Judiciário na segunda-feira (8), após a investigação ouvir 18 pessoas e coletar documentos da CEEE e da empresa terceirizada que presta serviços para a companhia.
Conforme o delegado, foram feitos pedidos pelos canais oficiais da companhia, com emissão de protocolo, além de avisos pessoais ao funcionário indiciado. Em visitas anteriores ao Passo da Alexandrina, localidade onde ocorreu o acidente, ele havia fornecido o número do telefone particular aos moradores da região, como forma de abreviar a resposta às constantes quedas no fornecimento de energia. Interrogado duas vezes, o funcionário reiterou ter enviado técnicos para fazer o conserto.
Em 4 de abril, a primeira equipe só chegou ao local uma hora após a morte de Murilo, mas não portava luvas, alicate nem escada para desenergizar a rede de alta tensão. A rede só foi desligada por volta das 13h30min. Embora tenha identificado falhas também no sistema de atendimento da CEEE, o delegado disse que eventuais responsabilidades da empresa deverão ser apuradas na esfera cível.
A morte ocorreu quando Murilo e três amigos conduziam 50 cabeças de gado para uma prova de tiro de laço. A égua pisou no fio energizado, caiu sobre o peão, que por sua vez ficou em cima do cabo. Ele ainda pediu ajuda aos amigos, que correram em seu socorro, mas também sofreram descargas elétricas por indução. Murilo morreu em 10 minutos, mas sofreu queimaduras profundas no peito e nas pernas, devido à longa exposição à alta tensão. Seis dias após o acidente, o mesmo cabo de alta tensão se rompeu novamente no local.
A CEEE Equatorial arcou com os custos dos serviços fúnebres, no valor de R$ 3,6 mil, e fechou acordo extrajudicial com a família de Murilo. O valor da indenização não foi divulgado. De acordo com o advogado Roberto Ximendes, o desfecho da investigação satisfaz a família:
— Nada vai trazer Murilo de volta, mas a responsabilização criminal pode evitar que uma tragédia assim se repita.
A CEEE Equatorial ainda não foi cientificada formalmente sobre o desdobramento do caso. De todo modo, entende que não há elementos básicos para qualquer indiciamento e tomará as medidas jurídicas cabíveis assim que tomar ciência formal da questão.