RS tem casos dos sorotipos 1 e 2, que são os mais comuns; no Brasil, os tipos 3 e 4 também foram identificados recentemente
Com situação crítica de mais de 200 mil casos confirmados de dengue, o Brasil enfrenta um avanço da doença que já foi responsável por 75 óbitos no país (três deles no RS), em 2024. O vírus, transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti possui quatro sorotipos, denominados Denv-1, Denv-2, Denv-3 e Denv-4, diferenciados por variações genéticas. Todos estão em circulação em território nacional, no momento.
Os dois primeiros, os mais comuns, são os mais prevalentes no Brasil, em 18 estados — entre eles o Rio Grande do Sul — e no Distrito Federal, que enfrenta uma situação de aumento acelerado do número de casos. Longe do país por 15 anos, o sorotipo 3 reapareceu no ano passado e, atualmente, é registrado no Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Maranhão e Amapá, segundo o informe de semanas epidemiológicas do Ministério da Saúde.
Recentemente, segundo o documento federal, o sorotipo 4 foi detectado no Mato Grosso do Sul e no Tocantins neste ano. Para os especialistas, a circulação de todos os tipos da doença no país preocupa.
Quando uma pessoa é infectada por um dos quatro sorotipos, se torna imune a todos os tipos de vírus durante alguns meses. Posteriormente, estará livre de pegar, pelo resto da vida, apenas o tipo pelo qual já foi infectada. No entanto, contrair outro tipo de dengue pode trazer perigo.
— O principalmente fator de risco para ter uma dengue grave, é o paciente ter tido uma dengue anterior por um tipo diferente. Por exemplo, sem alguém teve o sorotipo 1 da doença e, no outro ano, contrai o 2, 3 ou 4, tem mais chance ter uma dengue hemorrágica, que pode matar — alerta o chefe do Serviço de Infectologia e Controle de Infecção do Hospital Moinhos de Vento, Alexandre Zavascki.
Apesar de os sorotipos 2 e 3 serem considerados mais virulentos, ou seja, se espalham com maior facilidade, os quatro se manifestam clinicamente de forma semelhante, podendo causar infecções assintomáticas, leves, graves e até óbitos:
— A diferença quanto a gravidade entre os sorotipos em uma infecção inicial, praticamente, não existe. Não se observa mais ou menos febre, ou outra manifestação, por ser um sorotipo específico pelo quadro do paciente — pontua o médico gaúcho Diego Falci, que integra a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
O Ministério da Saúde anunciou, recentemente, os estados que receberam as primeiras doses da campanha de vacinação contra a dengue. O Rio Grande do Sul ficou de fora. Somente o Distrito Federal iniciou a vacinação de crianças e adolescentes com idade entre 10 e 11 anos contra a doença.
A eficácia da vacina Qdenga para esta faixa etária foi comprovada contra os sorotipos 1, 2 e 3 do vírus da dengue. No entanto, a avaliação da eficácia contra o sorotipo 4 foi inconclusiva devido à quantidade limitada de casos durante o estudo.
Segundo o Ministério da Saúde, há referências de epidemias desde o século 19. No século passado, há relatos em 1916, em São Paulo, e em 1923, em Niterói, no Rio de Janeiro, sem diagnóstico laboratorial. A primeira epidemia, documentada clínica e laboratorialmente, ocorreu entre 1981 e 1982, em Boa Vista, Roraima, causado pelos sorotipos 1 e 4.
Na epidemia de 1986, identificou-se a ocorrência da circulação do sorotipo Denv-1, inicialmente no Estado do Rio de Janeiro, se disseminando, a seguir, para outros seis Estados até 1990.
Em 1990, foi identificada a circulação de um novo sorotipo, o Denv-2, também no Estado do Rio de Janeiro. Durante a década de 90, ocorreu um aumento significativo da incidência, reflexo da ampla dispersão do Aedes aegypti no território nacional.
A circulação do sorotipo 3 foi identificada, pela primeira vez, em dezembro de 2000, também no Estado do Rio de Janeiro e, posteriormente, em Roraima, já em novembro de 2001. Em 2002, foi observada a maior incidência da doença, quando foram confirmados cerca de 697 mil casos.
O vírus da dengue tipo 4 foi identificado em casos isolados e restritos na região Norte em 1981, mas, depois de 2010, passou a ser identificado em outras partes do Brasil.
Um quinto sorotipo foi estudado, isolado de uma amostra de um caso grave, descoberto na Malásia, no continente asiático, em 2007. Até o momento, não foi identificado nenhum caso no Brasil.