Mayla Cardoso, 31 anos, sofreu uma estocada no tórax diante das crianças, dentro de casa, no bairro Lomba do Pinheiro, na zona leste da Capital. Ex-namorado foi preso em flagrante
Mãe de três filhos, Mayla Cardoso, 31 anos, planejava abrir uma loja dedicada ao cuidado feminino. Chegou a procurar um local para instalar o empreendimento, junto com a amiga Barbara Moreira dos Santos, 24. Mas o sonho não irá se concretizar. May, como era conhecida, tornou-se a primeira vítima de feminicídio de 2024 no Rio Grande do Sul.
O crime ocorreu no início da tarde de quinta-feira em uma residência localizada no bairro Lomba do Pinheiro, na zona leste de Porto Alegre. Segundo a Brigada Militar, o ex-namorado da vítima, de 32 anos, foi preso em flagrante no local — o nome dele não foi divulgado.
Informações iniciais da BM davam conta de que a mulher teria sido assassinada com golpes de espeto de churrasco. Contudo, amigas de Mayla apresentam outra versão. Segundo Barbara, o filho mais velho da vítima, de 12 anos, relatou que a mãe foi morta com uma estocada desferida com uma chave de fenda. O garoto assistiu à cena, acompanhado dos irmãos de oito e três anos — o mais novo é filho do suspeito.
Barbara conta que o menino relatou que, no começo da tarde de quinta, uma das brigas entre o ex-casal “saiu do controle”. Ele narrou que a mãe começou a pedir por ajuda e o mandou ligar para a polícia. Neste momento, para impedir que o garoto pedisse ajuda, o agressor o teria derrubado-o no chão, deixando hematomas no rosto da criança.
O filho relatou a Barbara que, para defender a mãe, apanhou um espeto que encontrou por perto, mas pouco conseguiu fazer diante do agressor. Neste momento, o suspeito teria pego uma chave de fenda e perfurado o tórax da mulher, diante dos três meninos. A seguir, o homem teria telefonado para familiares, dizendo que havia feito “uma merda” e que precisava sair dali.
O menino mais velho, por sua vez, entrou em contato com a avó materna, relatando que o ex-companheiro de Mayla “botou alguma coisa no peito da mãe, tá saindo muito sangue” .
Barbara conta que os dois meninos mais velhos “estão em choque”, tentando assimilar o que aconteceu. O mais novo questionou se a mãe estaria em algum hospital, ao que o mais velho teria respondido que “ela morreu, a mãe morreu na nossa frente”.
Mayla Cardoso era vendedora de cosméticos — daí o interesse em expandir os negócios com uma loja. A amiga Barbara Moreira conta que era uma pessoa muito alegre, que estava sempre sorrindo.
— Ela era aquele tipo de pessoa que tira do dela pra colocar pros outros. Eu não perdi só uma amiga, ela estava sempre comigo, fazíamos tudo juntas. Eu estou desolada — desabafa.
Conforme Barbara, o relacionamento entre May e o ex-namorado, preso pelo crime, era tumultuado. Foram cerca de três anos marcados por frequentes brigas, conta a amiga.
Mayla morava na casa dos fundos da casa em que moravam o ex-namorado e a ex-sogra. Por conta disso, ele estava sempre presente na rotina dela.
— Ela queria se mudar, não queria mais ficar naquela situação. Já estava combinando de alugar outra casa, mas não deu tempo — diz Barbara.
Segundo ela, o homem não aceitava o fim do relacionamento, que aconteceu havia cerca de cinco meses, e frequentemente procurava Mayla tentando reatar.
— Ela me contava que ele chegava todo fofo, querendo conquistar ela de novo, mas no dia seguinte, do nada, ele já perdia a cabeça e virava outra pessoa. Por isso ela não queria mais nada com ele — relata. — A gente sabia que ele era problemático e que não fazia bem a ela. Eu tinha medo de que ele expulsasse ela de casa, por isso dizíamos para ela ficar longe. Mas matar? Não nunca esperávamos isso — completa.
A surpresa, no entanto, foi apenas para a família da vítima. Segundo Barbara, parentes próximos do suspeito relataram que, durante a última semana, ele teria por mais de uma vez contado que planejava matar a mãe de seu filho.
Diante disso, a reação dos parentes teria sido levá-lo à igreja. Barbara lamenta que, em nenhum momento May ou seus familiares tenham sido avisados dessas ameaças.
Existem canais para atendimento em casos de violência doméstica. As denúncias podem ser feitas pelo Disque 180. A Polícia Civil conta com o número (51) 98444-0606 para contato via WhatsApp e Telegram.
Em dezembro de 2022, o governo do Rio Grande do Sul lançou a Delegacia Online da Mulher. A ferramenta é uma página exclusiva para tratar da violência de gênero e funciona 24 horas por dia. O serviço pode ser acessado por celulares, tablets e computadores.
As vítimas também podem comparecer presencialmente em uma Delegacia da Mulher ou em qualquer delegacia (nos municípios em que não houver unidade especializada).