Ministro afirmou em entrevista que golpistas tinham três planos contra a vida dele; identificação dos criminosos será possível a partir de mensagens apreendidas durante investigação do caso
O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, afirmou nesta quinta-feira (4) que serão identificados “em breve” os responsáveis pelo plano que envolvia o homicídio do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes nos atos golpistas do dia 8 de janeiro. O plano foi revelado pelo próprio Moraes, que é o relator dos julgamentos relacionados aos ataques na Corte, em entrevista publicada pelo jornal O Globo.
Conforme Rodrigues, porém, a PF já tinha conhecimento do assunto antes da publicação. Segundo ele, a identificação será possível a partir de mensagens apreendidas durante a investigação sobre os atos.
— Nós não podemos pagar para ver se essa gente vai ou não executar, se isso é bravata ou não. O que eu posso dizer é que isso é de uma gravidade absoluta e nós vamos sempre atuar com muito rigor uma vez identificadas essas pessoas. Houve sim essa situação que o ministro tornou público e esse fato é muito preocupante — afirmou o diretor-geral ao jornal O Estado de S. Paulo.
Moraes afirmou que três planos contra ele foram descobertos. Um consistia na sua prisão por parte das Forças Especiais do Exército, que o encaminharia para Goiânia. Outra ideia se baseava em um homicídio, com o corpo do ministro sendo largado no caminho para a capital goiana. A terceira possibilidade era mais extrema, com enforcamento do magistrado na Praça dos Três Poderes.
De acordo com o ministro, que é o relator dos julgamentos relacionados aos ataques na Corte, a ordem dos financiadores dos ataques era convencer o Exército a aderir a um golpe de Estado.
— Tirando um exagero ou outro, era algo que eu já esperava. Não poderia esperar de golpistas criminosos que não tivessem pretendendo algo nesse sentido. Mantive a tranquilidade. Tenho muito processo para perder tempo com isso. E nada disso ocorreu, então está tudo bem — disse o ministro.
Moraes também afirmou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) fazia o monitoramento dos seus passos para “quando houvesse necessidade” de realizar a sua prisão. Em outubro, a sede da Abin foi alvo de buscas e apreensões pela PF após os investigadores identificarem o uso de um sistema de espionagem da agência para mais de 30 mil rastreamentos. Moraes está na lista de alvos.
Segundo Andrei Rodrigues, o monitoramento de Moraes por parte da Abin foi feito de maneira indevida e ilegal. O uso de uma ferramenta para acompanhá-lo, continuou, “em nenhuma hipótese poderia estar sendo usada por uma agência que não tem atribuição legal”. Andrei Rodrigues afirmou que existe uma investigação para apontar os responsáveis por esse monitoramento.
O magistrado relatou que estava em Paris no dia 8 de janeiro e que, ao tomar conhecimento das invasões, falou por telefone com o ministro da Justiça, Flávio Dino. Depois, também conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, havia uma discussão sobre a decretação de intervenção federal ou Garantia de Lei e da Ordem (GLO).
— Relembrei que no tempo do presidente (Michel) Temer, houve a possibilidade de intervenção só na área da segurança, e talvez isso fosse melhor — disse.
Moraes disse ter ficado chocado com a “inação da Polícia Militar”.
— Fui secretário de Segurança Pública em São Paulo e ministro da Justiça. Afirmo sem medo de errar: não precisaria de cem homens do Batalhão de Choque para dispersar aquilo — alegou.
Moraes disse que existia uma ordem dos financiadores dos atos golpistas para uma invasão do Congresso Nacional até que houvesse um decreto de uma GLO pelo presidente Lula. Após a GLO, eles tentariam convencer o Exército a aderir ao movimento antidemocrático.
— De vários financiadores, (a ordem era que) deveriam vir, invadir o Congresso e ficar até que houvesse uma GLO para que o Exército fosse retirá-los. E, então, eles tentariam convencer o Exército a aderir ao golpe. O que mostra o acerto em não se decretar a GLO, porque isso poderia gerar uma confusão maior, e sim a intervenção federal — disse a O Globo.
Moraes afirmou que as redes sociais “falharam e foram instrumentalizadas no 8 de Janeiro” e defendeu a regulamentação das plataformas.
— Proliferaram o discurso de ódio, antidemocrático, permitindo que as pessoas se organizassem para a “festa da Selma”, que era o nome utilizado (para os atos golpistas) —disse.
O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, também defendeu, durante a entrevista, a regulação das mídias sociais. “O que é crime no mundo real é crime no mundo virtual”, disse o diretor. “É imperioso que se tenha, a exemplo do que a União Europeia tem, uma regulação das redes sociais” disse
Questionado sobre a responsabilidade do ex-presidente Jair Bolsonaroem relação aos atos, Moraes se limitou a dizer que “todas as pessoas sobre as quais a Polícia Federal encontrar indícios serão investigadas, desde os executores até eventuais políticos”.