Na agricultura, excesso de água causa danos desde a plantação até o desenvolvimento das plantas, com incidência doenças
Após um mês de novembro com recorde de chuvas e dias com temperatura acima dos 30ºC, o norte do RS deve seguir com precipitações acima da média durante o verão. De 21 de dezembro a 21 de março, a região pode enfrentar impactos principalmente na agricultura, com chuvas e umidade do solo sendo obstáculo na plantação e desenvolvimento das lavouras.
A mudança no clima em relação aos últimos três anos tem a ver com o fenômeno climático El Niño, que se estende por todo o verão, com maior intensidade nos meses de dezembro e janeiro, quando as chuvas devem chegar até 85% acima da média.
A previsão, segundo o Climatempo, é de uma estação com tempo mais abafado e seco, além de temperaturas e chuvas acima do normal. Mantendo a sequência de meses chuvosos, o verão começa em 21 de dezembro e já deve dobrar a média de chuva do último mês de 2023 em Passo Fundo, que costuma esperar um acumulado de 162 milímetros nessa época do ano. Em janeiro, a previsão é de chuva 70% acima da média, de 173mm.
— Janeiro será distinto dos meses anteriores, com menos avanço de frentes frias. Teremos diversos fluxos de ar quente e pancadas e chuva provocadas por alta umidade, características típicas de verão, o que torna o mês menos problemático em relação aos anteriores, mas ainda preocupante — disse o meteorologista Vinicius Lucyrio.
Em fevereiro, a chuva ainda fica acima da média, mas de menor intensidade se comparada aos meses anteriores. A temperatura, por outro lado, deve conferir o maior desconforto térmico, sendo o mês mais quente e abafado do verão, o que atrai condições para pancadas de chuvas e temporais.
A estação chega ao fim em março, com novo aumento de chuvas. A estimativa é que a média seja 30% acima dos 137mm esperados para o período por conta da proximidade do outono e frequência mais alta de frentes frias. Veja a previsão para o verão no norte gaúcho a seguir:
O excesso de chuva e calor acima da média deve causar efeitos no campo e na cidade. Na agricultura, o temor é a perda financeira por conta do alto custo para manter a saúde das plantas frente às consequências causadas pela umidade do solo. Os altos volumes de chuvas atrasaram o plantio das culturas de verão e seguem atrapalhando o cultivo e desenvolvimento das lavouras. A umidade do solo dificulta a entrada das máquinas nas plantações, e causa pragas e doenças nas plantas.
Conforme acompanhamento da Emater de Passo Fundo, os produtores de soja ainda não completaram a plantação do grão, estando a região com apenas 70% da área total implantada, o que deve prejudicar o final do ciclo dessas lavouras. A previsão de novos volumes expressivos assusta os agricultores, como explica o gerente regional da Emater-RS, Dartanhã Luiz Vecchi.
— A água em excesso aumenta a pressão de doenças e pragas, fazendo com que os produtores aumentem as aplicações de tratamentos preventivos e também curativos. Por consequência, aumenta o custo de produção para essas culturas, o que interfere no ganho que os produtores estimavam ter em relação a um ano de chuvas dentro da normalidade.
Nos últimos três anos, a Região Norte foi uma das mais castigadas do RS por conta da estiagem. Ao contrário do vivenciado agora, a incidência do La Niña trazia falta de chuva, deixando o solo seco e quente. No último ano, Passo Fundo chegou a passar 10 meses sem chuvas consideradas acima da média. Ou seja, o pouco de precipitação que se tinha não dava conta de irrigar as plantações nem de encher os rios e reservatórios. Agora, com o fenômeno El Niño, o cenário será de excesso de chuva.
Tentando driblar as chuvas para manter a saúde da plantação, o produtor rural Célio Roberto Remonatto já estima perder ao menos 20% das safras de verão. Em propriedade da família com 80 hectares na Comunidade Caravajos, no interior de Santo Expedito do Sul, a soja teve atraso no plantio, restando ainda 30% para ser finalizado.
— A chuvarada fez com que estendêssemos o plantio, pois há buracos no solo. Mas, nas partes onde não tem atrapalhado ela está germinando bem, esperamos conseguir colher uns 80% do total plantado — estima o agricultor.
A instabilidade também atrapalhou as primeiras áreas plantadas, causando perda na plantação por conta da umidade. O medo, agora, é a incidência de pragas e doenças, e a quebra de média esperada de plantio, por conta de áreas por onde a água criou buracos na lavoura, levando os adubos depositados.
— Estamos tentando nos virar. Tivemos perda, mas ainda não sabemos seu potencial. Esperamos colher 80% de um ano normal, chovendo bem e sem sustos. Assim pode ser que tenhamos uma safra boa, porque comparado aos anos de estiagem, ela ainda vai ser melhor — finaliza o agricultor.
Quanto à incidência de pragas e doenças, a Emater recomenda que os produtores sigam as orientações agronômicas para as culturas e períodos específicos conforme o cronograma de tratamentos fitossanitários. O foco é em manter o nível de sanidade nas culturas, para que as plantas tenham um bom desenvolvimento.
Ainda conforme o gerente regional, os agricultores podem procurar os escritórios da Emater para repasse das informações quanto a escolha de manejo adequado das lavouras.