Maria da Conceição Alves do Rosário, 50 anos, caiu na água e não resistiu aos ferimentos; PM foi internado e recebeu alta
As forças de segurança do Estado salvaram dezenas de vidas durante as enchentes no Vale do Taquari, mas até hoje não responderam por que morreu Maria da Conceição Alves da Silva. Na manhã de 5 de setembro, a manicure não resistiu à queda na água após o rompimento do cabo de aço com o qual estava sendo resgatada de helicóptero.
Naquele dia, Maria e o marido, o caminhoneiro Milton Silva, refugiaram-se da enxurrada no telhado de casa, em Lajeado. Após 12 horas de angústia, surgiu no horizonte a aeronave da Brigada Militar. Milton deu prioridade à mulher no salvamento. Quando o sargento Tiago Augusto Bastiani prendeu Maria à cadeirinha, ele falou à esposa:
— Meu amor, abraça esse rapaz como tu me abraçou no nosso casamento, que ele vai te salvar.
Milton viu a equipe de bordo içar a dupla até quase encostar no helicóptero. Em seguida, o cabo de aço se rompeu. Maria e Bastiani caíram de uma altura de 20 metros. Apenas Bastiani usava colete salva-vidas. A manicure se debateu por alguns instantes e submergiu. Ambos foram resgatados, mas somente o sargento sobreviveu. Conduzido a um hospital de Lajeado com fraturas de vértebra torácica, de mandíbula e pneumotórax bilateral, recebeu alta após cinco dias de internação.
De acordo com a certidão de óbito, Maria morreu de causa indeterminada, sem sinais externos de violência. “Tipo de morte: ignorada”, diz o laudo.
O trágico episódio gera questões. Por que Maria não usava colete salva-vidas? Como um cabo de aço usado por forças de segurança durante um resgate se rompe? O que apontou a perícia realizada no cabo e na aeronave?
Quando o helicóptero voltou para o Salgado Filho, naquele mesmo dia, uma equipe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) já aguardava no hangar para dar início à apuração das causas do acidente.
Vinculado à Aeronáutica, o Cenipa não busca culpados, apenas estuda as circunstância de ocorrências aéreas para evitar repetição. Procurado pela coluna, o órgão não respondeu à maior parte das perguntas enviadas, limitando-se a citar relatório preliminar que aponta rompimento do cabo do guincho.
A Secretaria da Segurança Pública afirma que o cabo não foi periciado porque tal investigação cabe ao Cenipa. Um inquérito policial militar foi aberto, mas corre em sigilo, sem prazo para conclusão.
Consultados pela coluna, profissionais especializados nesse tipo de resgate afirmam que cabos de aço não são recomendados para salvamento de pessoas. O Corpo de Bombeiros de Minas Gerais utiliza apenas cordas semiestáticas em resgates humanos, relegando cabos de aço a içamento de cargas estáticas. Na Aeronáutica, o procedimento é semelhante, com emprego de cordas e cabos flexíveis, de nylon, poliéster ou fibras sintéticas de alta resistência, sempre por questão de segurança.
A BM afirma que usa cordas apenas em helicópteros antigos. Os mais modernos contam com guincho elétrico com cabo de aço “mais tecnológico e utilizado no mundo todo por possibilitar atuação mais rápida e com maior eficiência”.
Desamparado, o marido de Maria está recorrendo a remédios, sem saber por que a esposa morreu quando estava prestes a ser salva.
— Eu passo o dia pensando o que vou fazer da minha vida agora, sozinho. Chego em casa e tenho apenas as cinzas e fotografias da minha mulher — desabafa Milton.