Com 150 mil habitantes, Talcahuano faz parte da Grande Concepción, região conhecida pela indústria siderúrgica; Tricolor se prepara para enfrentar o Huachipato pela Libertadores
Nem terno e gravata, e nem roupas esportivas. A indumentária que mais chama atenção em Talcahuano nas primeiras horas da manhã é o macacão industrial. Nas imediações da concentração do Grêmio, na região metropolitana de Concepción, o nascer do dia é marcado pela movimentação de trabalhadores das indústrias siderúrgicas locais, todos fardados de trajes fosforescentes. Aliás, a ligação com o aço é uma das marcas do Huachipato, adversário tricolor, nesta terça (4), pela Copa Libertadores.
— Sou de Talca, uma cidade mais ao norte, mas vim a Talcahuano trabalhar na indústria, que é muito forte aqui. Na verdade, estamos conversando agora na divisa entre três cidades: Talcahuano, Concepción e San Pedro. Juntas, elas formam a Grande Concepción, que é o segundo maior polo industrial do Chile. No caso do Huachipato, a ligação maior é com o aço, pois o clube foi fundado pela Companhia de Aço do Pacífico (CAP), a principal da região — explicou à reportagem de GZH o trabalhador Claudio Salinas, 56 anos, um dos tantos que se dirigia ao trabalho na manhã desta segunda-feira (3) já devidamente uniformizado.
A ligação com o aço é tão forte que os jornais chilenos costumam se referir ao Huachipato como “los siderúrgicos” ou “los aceros” (alusivo ao aço, em espanhol). A torcida do clube, porém, não é tão expressiva quanto a indústria siderúrgica local. Aliás, o clube tem inclusive menos torcedores que os maiores rivais da província de Concepción, como o Deportes Concepción e o Fernández Víal, embora seja mais vitorioso que todos eles somados.
— Na conurbação de Talcahuano e Concepción, há outros times muito mais populares, mas nenhum deles ganhou títulos relevantes. O Huachipato é o único time da parte sul do Chile que já foi campeão nacional — conta o jornalista Rodrigo Fuentealba, do diário chileno La Tercera.
Além do histórico de faixas no peito, Huachipato vem embalado por uma vitória heroica por 4 a 3 sobre o Estudiantes. Contudo, apesar do bom momento, o clube ainda tem como desafio subir de patamar no nível internacional. Afinal, apesar de já ser tricampeão chileno, a equipe jamais passou da fase de grupos da Libertadores. Para isso, precisará crescer na hora decisiva, talvez o principal calcanhar de Aquiles do time hoje.
— O Huachipato é um time um pouco imprevisível, que não vem conseguindo ser regular ao longo do ano. No Chile, não é visto como um time forte, pois perdeu vários jogos para times de baixo nível. Não considero um time confiável. Neste ano, quando mais esperamos do Huachipato, o time não foi bem. É verdade que ganhou do Estudiantes fora por 4 a 3, mas, a meu ver, isso não significa que o time vai ganhar do Grêmio — alerta o jornalista José Tomáz Fernández, do diário AS, do Chile, referindo-se à goleada sofrida para a Universidad de Chile, ao empate com o The Strongest e a derrota na Supercopa para o Colo-Colo.
Fundado em 1947 por trabalhadores da Companhia de Aço do Pacífico (CAP), o Huachupato foi adquirido em 2015 por empresários e se tornou uma sociedade anônima. Destaca-se por ser um clube superavitário, formador e garimpador de jovens atletas. Um deles foi Yeferson Soteldo, casualmente hoje no Grêmio. O venezuelano foi buscado no Zamora em 2013 e vendido em 2018 ao Santos
Se os resultados vêm sendo bons, o desafio do Huachupato agora é subir um degrau no nível sul-americano, buscando a vaga nas oitavas de final da Libertadores, que o clube deixou escapar em 2013, ao empatar em casa por 1 a 1 com o próprio Grêmio, treinado à época por Vanderlei Luxemburgo.