População enfrenta a exclusão do mercado de trabalho, é vítima do etarismo, pode se tornar dependente dos seus familiares e ter de lidar com doenças neurodegenerativas
Ser idoso no Brasil é um exercício de muitos desafios e enfrentamentos. O idoso em nosso país é um sobrevivente sob vários aspectos. Essa população enfrenta a exclusão do mercado de trabalho onde eles são considerados incapazes e improdutivos para desenvolver alguma atividade laboral.
Diferentemente dos países asiáticos, onde velhice é sinônimo de sabedoria e experiência, no Brasil os idosos são vítimas do etarismo (preconceito, neste caso relacionado à faixa etária). Outros desafios da pessoa que passa a ser considerada idosa é ficar incapacitada de suas atividades cotidianas, tornar-se dependente dos seus familiares e lidar com o surgimento de doenças neurodegenerativas, como as demências.
As mudanças decorrentes dessa faixa etária, a partir dos 60 anos, envolvem modificações físicas, psicológicas, neurológicas e sociais, alterando a relação do idoso com as outras pessoas e consigo mesmo.
Em 2019, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou 32,9 milhões de pessoas com 60 anos ou mais residentes no Brasil. Isso significa que, em menos de 10 anos, esse número aumentou 29,5%. Estima-se que até 2060 chegue a 58,2 milhões de pessoas consideradas idosas. A conclusão é de que o Brasil está ficando velho, e precisamos unir esforços com cuidados de previdência e saúde, além de repensarmos nossas atitudes, preconceitos e estereótipos sobre o envelhecimento.
O fato é que a imaturidade das instituições sociais brasileiras retira a oportunidade de os mais velhos terem uma vida digna e produtiva. Os avanços tecnológicos e a globalização auxiliaram no bem-estar dessa população, porém ainda não podemos considerá-los como ideais.
O artigo terceiro do Estatuto do Idoso refere que: “É obrigação da família, comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”. Porém, o que ocorre efetivamente é que as políticas públicas garantidas pelo Estatuto do Idoso e pela Constituição não são trabalhadas adequadamente, com atendimentos difíceis de serem acessados e os idosos, na maioria das vezes, se sentem excluídos dos programas e da sociedade. Desta forma, o Brasil precisa criar esforços para lidar com a realidade atual: tornar as políticas públicas e sociais já existentes eficientes, além de criar novas.
Para isso, precisamos mudar os conceitos e pré-conceitos em relação aos mais velhos para que não sejam considerados inúteis para o trabalho e que tenham garantidos a saúde, o bem-estar psicológico e social, independência e participação em diferentes setores e contextos.
Com essa população mais longeva, é dever da família, da sociedade e do setor público olhar para os velhos com respeito e dignidade, contrariando julgamentos enraizados de que as pessoas senis são um fardo para a sociedade, como sinônimo de improdutividade, reconhecendo a extensa diversidade de suas experiências. É preciso oferecer a eles condições para que a longevidade seja acompanhada por qualidade de vida e bem-estar.
Referente a saúde mental, o mês de setembro foi escolhido para a conscientização e sensibilização da população sobre os riscos decorrentes do Alzheimer, doença neurodegenerativa progressiva que tem como características a atrofia lenta e progressiva do cérebro causando comprometimento na memória (perda da memória recente) e funções cognitivas, além de desorientação, depressão, afasia (distúrbio na fala), agressividade, irritabilidade, delírios, dentre outras. O diagnóstico das demências é clínico por meio de entrevistas, teste cognitivo e exames (laboratoriais e de imagem). Em geral, a pessoa pode demorar anos para saber que é portadora da doença, e o principal motivo para o retardo na procura por ajuda é pelo fato de os sintomas, como raciocínio lento, serem interpretados como consequências do envelhecimento. A atenção dos familiares é essencial, pois a pessoa normalmente não percebe esses sinais e pode negar quando advertido de alguma manifestação.
Além da importância do diagnóstico precoce, hábitos diários e estilos de vida podem auxiliar no retardo do quadro, como estimular o cérebro com leituras, aprender tarefas novas, fazer atividades prazerosas, exercitar-se regularmente, investir em trabalhos criativos, manter o controle do estresse, de exames e alimentação saudável. Ao ser diagnosticado precocemente, maior serão as chances de tratar os sintomas, retardando a evolução da doença, além de garantir um envelhecimento com maior qualidade de vida. E algumas estratégias terapêuticas podem ser utilizadas quando do diagnóstico positivo, como terapia ocupacional, acompanhamento psicológico e interação social.
Entender e aceitar as mudanças corporais da idade, as fragilidades funcionais causadas pela ação do tempo e as limitações físicas decorrentes desse período são essenciais para um envelhecimento saudável. Envelhecer não é uma escolha: faz parte do desenvolvimento humano e é mais uma etapa do ciclo da vida.