Neste sábado, ex-primeira-dama e presidente nacional do PL Mulher afirmou, em evento, que lei deveria ser 'erradicada'; horas depois, recuou nas redes sociais
A fala da ex-primeira-dama e presidente nacional do PL Mulher Michelle Bolsonaro pelo fim das cotas de gênero dividiu opiniões na bancada do PL e chegou a gerar desconforto em evento neste sábado. A opinião entre aliados é de que Michelle cometeu um “deslize”, o que mostra um certo despreparo para a vida pública.
Durante a posse da deputada federal Rosana Valle (SP) como presidente da ala feminina de São Paulo, Michelle falou em “erradicar” a medida que assegura a destinação de 30% das candidaturas e recursos eleitorais a candidatas femininas. Horas depois, em suas redes sociais, a ex-primeira-dama voltou atrás.
— Nós queremos erradicar a cota dos 30%, queremos mulheres na política pelo seu potencial — disse Michelle em cerimônia na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
De acordo com integrantes do partido, assim que a fala foi proferida, os presentes entenderam que a ex-primeira-dama havia se expressado mal e que ela se referia, na verdade, a um cenário futurístico no qual a participação feminina se tornará tão “natural” que as cotas de gênero não precisarão mais existir. A repercussão majoritária foi de que Michelle cometeu uma falha e, por isso, não estaria pronta para participar de certos eventos e dar declarações. “Um pouco crua”, dizem aliados.
Após o final do evento, em entrevista à imprensa, Rosana Valle demonstrou mal-estar ao ser questionada sobre o tema e não quis comentar a fala de Michelle. A deputada afirmou que não ouviu bem o que a ex-primeira-dama disse, mesmo estando ao seu lado, e que precisaria estudar o assunto antes de emitir qualquer opinião.
Já nas redes sociais, alguns parlamentares saíram em defesa da ex-primeira-dama, como Bibo Nunes (RS) que afirmou que a cota de gênero realmente não deveria existir.
“Michelle Bolsonaro, Presidente do PL Mulher, é contra cota para mulher na política. A cota nivela a mulher por baixo, quando são iguais aos homens e muitas vezes superiores. Cota é alicerce para a famigerada esquerda dividir todos os tipos de classe social, econômica e racial”, escreveu o deputado federal.
Desde a convenção do PL no ano passado, há especulações acerca de uma possível candidatura de Michelle. Nas eleições de 2022, o apoio da então primeira-dama garantiu a cadeira de Damares Alves (Republicanos-DF) no Senado Federal contra Flávia Arruda. A expectativa é que a presidente do PL Mulher concorra ao Congresso Nacional em 2026.
A ex-deputada federal Joice Hasselmann foi um dos nomes que foi à público para criticar a fala de Michelle. De acordo com a ex-bolsonarista, a ex-primeira-dama prejudicou a imagem do partido com as mulheres:
“Agora, ela (Michelle) tenta ‘desdizer’ o que disse e está registrado— Michelle é apenas uma casca, sem capacidade de sustentar suas posições”.
Duas horas após o final do evento, a ex-primeira-dama postou em seus stories do Instagram que é sim a favor da cota de gênero:
— Retificando, eu sou a favor da cota sim. Nós queremos mulheres na política pelo seu potencial, pelo seu protagonismo, nós não queremos apenas cumprir uma cota de 30%. Nós acreditamos no potencial de cada mulher que entra na política brasileira.