Desafio do clube será reanimar o time e a torcida para a sequência de um ano que começou promissor
O tombo na semifinal do Gauchão foi diretamente proporcional à expectativa criada no Beira-Rio para o fim da seca de títulos. A derrota nos pênaltis para o Juventude, que custou a eliminação no Estadual, em casa, mais uma vez, levanta questionamentos no Inter. Em um ano de investimento alto em reforços, de esperança e de renovação de trabalho, o fato de não chegar nem sequer na decisão aflige os colorados. Como sair do buraco, dar a volta por cima e reconquistar a confiança da torcida?
O primeiro passo é interno. Já houve cobranças no vestiário e elas aumentaram nesta terça-feira. O CT Parque Gigante fechado no treino foi o palco para uma reunião entre direção, comissão técnica e jogadores. Não terá punição especial a Mauricio e Robert Renan. A bronca será para grupo e comissão como um todo. Alan Patrick, ainda na saída da partida, falou:
— Quando se joga em uma equipe gigante como o Inter, temos de ter essa noção de que tudo que você fizer tem uma repercussão muito grande. Mauricio e Robert são jovens. Não dá para a gente depositar tudo na conta deles. Todos nós temos responsabilidades e cabe esta autorreflexão. O Robert é jovem e, com certeza, vai ser uma lição para a vida dele. Temos que dar força. Não cabe a nós julgar e condená-lo. Ele mesmo vai sentir e fazer a análise do momento.
Internamente, uma das questões a ser respondida é por que o Inter não teve superioridade sobre o Juventude em nenhuma das duas partidas. O único momento em que pareceu ter chance de vencer foi por 25 minutos do segundo tempo do jogo da volta, quando empatou com o gol de Renê e pôde virar. Mas tudo terminou na expulsão de Mauricio.
Nas duas partidas, a estratégia de Roger Machado sobressaiu-se sobre o estilo de Coudet. O treinador não encontrou alternativas para escapar das armadilhas na maior parte do tempo. E quando conseguiu, com os dois atacantes e Alan Patrick recuado, teve de sacrificar por causa do cartão vermelho. A falta de alternativas (mesmo que apenas um dos reforços de 2024 tenha atuado) é um dos temas a ser explicado pelo treinador.
— O Juventude teve muito mérito ao tirar os espaços dos jogadores mais talentosos do Inter. Os volantes e meias, que, pela técnica, se procuram, tiveram dificuldades de se associar. Alan Patrick só conseguiu espaço quando recuou no segundo tempo do segundo jogo. As lesões de Valencia e Alario atrapalharam. Tiraram a chance de Coudet de mudar o jeito de jogar. O Juventude impôs um jogo físico que o Inter não conseguiu superar, e talvez com os dois, Coudet poderia buscar um jogo mais direto, de imposição — opinou Eric Faria, comentarista do SporTV para a partida.
Os confrontos com o Juventude apontam para uma necessidade de adotar novos planos quando os originais não funcionam. Ainda mais quando atletas reconhecidamente importantes, como Alan Patrick, Aránguiz, Bruno Henrique e Wanderson fracassam ao mesmo tempo.
Para a sequência da temporada, começando já pela Copa Sul-Americana, a tendência é de que isso ocorra naturalmente a partir da entrada dos jogadores que não puderam atuar no Gauchão. Thiago Maia, Fernando e Borré principalmente, além de Bernabei, podem ganhar chances na equipe. Isso dará versatilidade ao sistema.
Outra consequência da eliminação é a água fria na ebulição vivida pela torcida. O Inter celebrava a marca de 142 mil sócios e a iminência de alcançar 150 mil ainda no primeiro semestre. O número é importante para ajudar a pagar o investimento na temporada. Agora, será preciso recuperar a confiança da torcida. E isso só virá com uma nova sequência de vitórias. Depois de enfrentar o Belgrano, o Inter terá dois jogos em casa, contra o Tomayapo pela Copa Sul-Americana e diante do Bahia pelo Brasileirão.
E, claro, no imaginário colorado ainda mora 2006. E, de certa forma, 2010. Nos dois anos, o Inter perdeu o Gauchão para o Grêmio. Ambos com resultado negativo em casa. E depois soube dar a volta por cima conquistando os maiores títulos da história colorada. Símbolo daquelas equipes, Paulo Cesar Tinga falou justamente sobre isso no programa Bola nas Costas, da Rádio Atlântida:
— Perder o Gauchão de 2006 nos fez ser campeões da Libertadores. Quando ganha título, essa cadeira de ídolo começa a ser preenchida. Tem vezes que ganha o Gauchão e se empolga, mas perde a sequência. A derrota nos manteve querendo entrar na história. Nenhum de nós fazíamos parte da história do Inter. Melhoramos ao longo do tempo. O time que jogou o Estadual é bem diferente do que estava na Libertadores. Às vezes nasce outra situação.
A diferença para os anos é que naquela época o Inter vinha de quatro títulos gaúchos. A seca era em níveis nacionais e internacionais. Agora, será preciso mais. Para transformar 2024 em 2006, será preciso incutir nos jogadores a necessidade de vencer e ser campeão. Só assim a porta da história se abre para novos ídolos.