Curso teve foco específico na cultura kaingang pelo fato deste ser o povo mais numeroso na região
A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) formou a primeira turma do curso de Licenciatura em Educação Indígena, no campus de Frederico Westphalen, no norte gaúcho. A solenidade graduou uma turma de 26 novos professores na noite de sexta-feira (19). Este é o único curso de Educação Indígena com oferta Ensino à Distância (EAD) do Brasil.
A formação teve foco específico na cultura kaingang, pelo fato deste ser o povo mais numeroso na região. Foram atendidos alunos de cinco aldeias, com aulas ministradas na modalidade de EAD, nos polos da universidade em Tapejara, Palmeira das Missões e Três Passos.
— O que vivemos é um marco para os professores indígenas, principalmente por ter uma formação específica para eles, respeitando seus aspectos culturais e sua forma de aprendizado. Foi um desafio, mas agora celebramos um momento histórico para a região e todo o Brasil — comenta a coordenadora do curso, Aline Passini.
A graduação aconteceu em uma data simbólica: no Dia dos Povos Indígenas, comemorado em 19 de abril. Por isso, os estudantes fizeram questão de manter suas tradições e subir ao palco para colar grau com adereços que reforçam suas culturas.
Entre os alunos, a maioria já lecionava de maneira informal, sem formação. Agora, eles poderão atuar de maneira legítima e trabalhar nas escolas indígenas de suas comunidades.
Denilson Karinh Mag Vicente é um dos recém-formados. Ele vem da Terra Indígena Guarita, localizada entre os municípios de Redentora e Tenente Portela e considerada a maior comunidade indígena do RS, com cerca de 23 mil hectares. Segundo ele, a abertura do curso à distância facilitou para que pudesse estudar sem ficar longe da família.
— Eu sou professor e supervisor na Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Davi Rigso Fernandes. Havia passado em um curso no campus de Santa Maria, mas seria difícil. Assim, frequentei as aulas de casa, e com apoio das lideranças, tudo foi se ajeitando. Agora, quero trabalhar e transmitir o que aprendi para garantir uma educação de qualidade ao nosso povo — disse.
Da mesma comunidade, Daniela Sales completou sua segunda graduação na sexta-feira. Graduada em Letras, ela atua como vice-diretora da Escola Davi Rigso Fernandes e vê o curso como uma conquista dos povos indígenas.
— Termos a oportunidade de fazer uma graduação numa universidade renomada é grandioso. Estamos vivendo um processo de conquista e de luta por autonomia e a oportunidade de uma licenciatura é uma conquista. Isto coroa uma luta dos nossos antepassados, que derramaram sangue para que estivéssemos aqui — resume Daniela.