Potiguara Galvam Ribas, 39 anos, foi velado no município e será sepultado em São Miguel das Missões
Era 17 de julho de 2008 quando Potiguara Galvam Ribas, 39 anos, dava início à sua história na corporação da Brigada Militar. Neste mesmo dia, conheceu Júlio Francisco Haito, que viria a ser seu colega de quarto e amigo para o resto da vida. Galvam, como era conhecido, morreu durante um incêndio em uma loja de fogos de artifício, em Caxias do Sul, neste sábado (30). Para Haito, o amigo ficará lembrado para sempre pelo carisma e a facilidade em fazer amizades, além da luta pelos direitos de policiais e bombeiros.
Os dois amigos escolheram o 12º Batalhão de Polícia Militar (BPM) para atuar na segurança e Caxias do Sul para fazer a vida. Haito conta que Galvam sempre teve grande preocupação quanto ao bem-estar dos colegas de farda.
— O Galvam sempre foi imbuído nessa questão dos nossos direitos, preocupado com a nossa carreira e sabendo da dificuldade do praça (como são chamadas as pessoas em cargos entre soldado e tenente) em conquistar seus objetivos. Ele sempre teve esse afinco em trabalhar em prol da tropa — comenta Haito.
O amigo conta que, durante um churrasco, no final de 2018, tiveram uma conversa sobre como poderiam fazer para ajudar e falar pela tropa. Neste momento, decidiram montar uma chapa e concorrer na eleição à regional da Associação da Brigada Militar e Corpo de Bombeiros Militar. Passados cinco anos, 2023 foi o primeiro ano de Galvam à frente desta associação, desta vez, em nível estadual.
— Galvam começou a se destacar no meio político também, em virtude de ser uma pessoa muito carismática. Por onde ele passava, deixava amigos. A gente viu que ele tinha um grande potencial em nos representar na Abamf (sigla da associação) e começamos a construir isso lá em 2019 ainda — diz Haito.
Ele afirma que, para a eleição estadual, todos os 198 votos de Caxias foram para o soldado morto.
A relação entre os dois, iniciada dentro da BM, também se estendeu para a vida pessoal. Ambos conviviam em família e Haito afirma que Galvam era casado há 13 anos, tinha um filho de sete e era gremista. Por conta da relação próxima, foi o amigo que informou a família sobre a morte do policial.
— Ele era um irmão de farda, um irmão que a vida me deu. Uma pessoa sensacional, fica difícil tecer mais elogios para ele porque, realmente, com quem tu falar vai te dizer que o Galvam era uma pessoa alegre, para frente, apaixonado por futebol. Eu ter que avisar a família… — lamenta Haito, que chega a ficar sem palavras por um momento.
Segundo Haito, o policial estava na loja para um churrasco de confraternização com os proprietários, pois eram amigos. A suspeita do colega é de que, por estar sempre pensando no próximo, o policial morto tenha ficado para tentar apagar o fogo, enquanto os demais saíam. Haito reforça que esta é apenas uma hipótese e que a perícia vai esclarecer o que houve.
O velório de Galvam ocorreu em Caxias até as 6h deste domingo (31). No final, familiares, amigos e colegas prestaram uma última homenagem. O corpo do policial segue para São Miguel das Missões, onde será sepultado no Cemitério Municipal, às 17h deste domingo.
A Multifogos, empresa que sofreu o incêndio, fica em São Luiz da 6ª Légua. Uma explosão teria dado início ao sinistro, por volta das 13h de sábado. Segundo a Brigada Militar, quatro pessoas realizavam uma confraternização no momento do acidente. O proprietário da loja, Diógenes Nunes, foi encaminhado ao hospital com um ferimento na perna. Uma terceira pessoa ficou ferida no braço e foi atendida no local pelo Samu.
Um veículo foi totalmente danificado e um cavalo que estava em uma residência próxima ficou ferido. As casas do entorno não foram atingidas.
Morador das proximidades, Altemir Zanardi filmou o incêndio e disse que o barulho da explosão parecia ter sido de um avião caindo.
— Foi muito forte, deu para sentir a terra tremer, e depois o incêndio começou — contou.
Moradora dos fundos da empresa, a cozinheira Lovete Veiverbreg, 45 anos, estava na área de serviço de casa quando ouviu a explosão e conta que, no mesmo instante, foi atingida pela onda de calor:
— No que eu abri a porta, vi o telhado voando. Me ardeu os braços, até os cabelos acho que queimaram. Depois, foram mais algumas explosões de foguete.
O comandante da 1º Cia do Corpo de Bombeiros de Caxias do Sul, Vinicius Manfio, confirmou que havia grande quantidade de estoque e que a maioria foi destruída pelo fogo. O comandante ainda esclareceu que a empresa não fabricava os fogos de artifício no local.
— Logo que teve início o fogo já se espalhou para toda edificação. A gente não tem como precisar, e os relatos dos populares também não conseguem definir qual foi o foco do princípio do incêndio. No momento que a guarnição começou a atuar no local, a estrutura colapsou — detalhou Manfio.
Ao lado do comércio, um contêiner com mais estoque conseguiu ser protegido pelos bombeiros. No entanto, a edificação onde funcionava o comércio e um prédio que estocava os produtos nos fundos foram destruídos.