De acordo com o delegado do Denarc, Alencar Carraro, lucros obtidos com as grandes movimentações de drogas e armas possam ter sido justificadas pela prática de sorteios rifas na internet
A Polícia Civil investiga a suspeita de que criminosos utilizam rifas de carros de alto valor para dar aparência de legalidade ao dinheiro do tráfico de drogas. Essa prática já foi confirmada em Estados como Bahia e Piauí.
Em agosto, Lucas Sartori foi preso suspeito de ter ofertado um Chevrolet Camaro em um sorteio pelas redes sociais, a R$ 5,99 o número. O carro, de acordo com o Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), nunca foi entregue.
Uma carga de 700 kg de maconha apreendida em abril, em Santa Catarina, seria de Sartori, diz a polícia. Ele foi indiciado por tráfico de drogas.
Nas redes sociais, segundo a investigação, ele costumava ostentar o dinheiro que obtinha com a suposta venda de drogas: aparecia com maços de dinheiro, em viagens de barco com mulheres, e até em festas em casas noturnas, bancadas com o dinheiro do tráfico, onde painéis de LED exibiam seu nome.
— Considerando as situações pretéritas de outras investigações e o estágio dessa, nós poderíamos dizer que sim, que há uma forte possibilidade de que os lucros auferidos com as grandes movimentações de drogas e armas no Brasil possam ter sido justificadas pela prática dessas rifas na internet — afirma o delegado Alencar Carraro, do Denarc.
Além disso, o mesmo carro em que o jovem aparece nas redes promovendo rachas também foi anunciado no sorteio, aponta a investigação. A polícia suspeita de fraude nessa transação.
— Nesse caso do veículo, ele foi simplesmente transacionado com uma revenda de automóveis que repassou o veículo para um terceiro de boa-fé. Então, não houve efetivamente o sorteio desse veículo e não foi entregue a um suposto ganhador — diz o delegado.
Em nota, a banca liderada pelo advogado Adriano Beltrão Martins Costa, disse que o investigado “não fazia rifas” e que, por isso, “não há o que se falar em lavagem de dinheiro do narcotráfico” (leia a íntegra do comunicado abaixo).
A polícia menciona ainda outra suspeita de fraude investigada pelo Ministério Público (MP): a de que o influenciador digital Nego Di teria forjado a rifa de um Porsche, inventado uma falsa ganhadora e vendido o veículo, sem realizar o sorteio.
Com prisão preventiva decretada, Lucas Sartori dirigia o carro de luxo quando foi detido em agosto pela Brigada Militar, em São Leopoldo. O humorista foi preso um mês antes de Lucas, em uma investigação sobre supostas fraudes cometidas na venda de produtos.
Antes disso, o pai do suspeito, Marcelo Sartori, conversou com a esposa Jussara sobre a origem do automóvel. O diálogo foi captado pela polícia, com autorização da justiça.
MARCELO: “Parece que prenderam o Nego Di.”
JUSSARA: “Quem é esse?”
MARCELO: “O que era dono do carro dele.”
JUSSARA: “Qual carro dele.”
MARCELO: “A Porsche.”
JUSSARA: “Não acredito. Ah meu, Deus!”
A defesa afirmou que os pais do investigado “não possuem nenhuma ligação com tráfico ou atividades ilegais, tratando-se de diálogos entre pais e filho, no intuito de preocupação inerente à relação familiar” (leia a íntegra do comunicado abaixo).
Marcelo e Jussara também estão presos, por associação com o tráfico. Eles acompanhavam a rotina do filho suspeito de vender drogas. Em gravações obtidas pela RBS TV, os pais de Lucas não se mostravam contra o envolvimento dele com o tráfico, mas condenavam a ostentação e a forma como se apresentava aos amigos.
“Quando é que vai crescer a tua cabeça pra tu não ser preso?”, pergunta Marcelo.
“Mas não vou ser preso”, responde Lucas.
“Ah, meu filho, pelo amor de Deus, tu é furão demais”, diz o pai.
“Tu é visado aí em Canoas de montão. Os homens têm uma raiva, uma vontade de botar as mãos em ti. Acho que até hoje só não botaram, acho que é porque tua mãe ora demais. A gente pede muito pra Deus e Deus te protege”
“Acerca do processo a que respondem os acusados citados, informamos que Jussara e Marcelo, pais do acusado Lucas, não possuem nenhuma ligação com tráfico ou atividades ilegais, tratando-se de diálogos entre pais e filho, no intuito de preocupação inerente à relação familiar, com trechos de diálogos extraídos de aproximadamente 2 anos de conversas, que extrapolados fora do contexto, determinaram a prisão dos mesmos, que se justificam apenas para abalar o emocional de uma família inteira. Marcelo, pai de Lucas, atua como motorista empregado de grande empresa há inúmeros anos, não tendo quaisquer relações com atividades ilegais. Jamais tivera em seu desfavor alguma acusação criminal. Jussara, mãe de Lucas, do lar, nunca figurou em qualquer atividade ilícita ao longo de sua vida. Só por este ângulo, temos algo inusitado, os pais (pessoas de bem) que já estariam sofrendo com a prisão do filho Lucas, estão massacrados com a acusação de figuração de atividade criminosa depois de velhos, sem jamais terem sido acusados pela vida toda.
Com relação à apreensão de drogas ocorrida em Maravilha/SC, os respectivos réus responderam o processo, sendo condenados, não havendo naquele processo nenhuma informação da participação de Lucas.
No que tange à alegação do Denarc de que rifas poderiam ser utilizadas para lavagem de dinheiro de narcotráfico, informa a defesa que Lucas foi convencido a ceder um veículo que seria colocado à venda, para a finalidade de ser rifado, e acabou sendo vítima de um golpe do promotor das rifas, ficando no prejuízo. Lucas não fazia rifas, por esse motivo, não há o que se falar em lavagem de dinheiro do narcotráfico.
Além disso, verificou-se que Lucas passava por dificuldades financeiras, com apartamento simples, alugado, bem como veículo financiado.”