Morto dentro do próprio veículo, em estrada de terra de localidade rural, homem tinha mais de R$ 80 mil em joias e dinheiro, que não foram roubados
A investigação sobre o assassinato de André Azevedo, 37 anos, encontrado morto à beira de uma via rural na localidade de Nova Aurora, em Igrejinha, concentra-se em descobrir onde o vendedor de ouro e joias esteve antes de ser assassinado com cinco tiros na face, em 13 de setembro.
O intervalo de tempo que compõe o enigma é de quase três horas: Azevedo despediu-se da namorada e partiu no volante de seu Hyundai HB20 às 13h40min, de Novo Hamburgo. Passou pela BR-116, dirigiu pela ERS-118 e teve seu último registro vivo gravado por câmera na localidade de Morungava, zona rural de Gravataí, às 16h35min.
— Estamos falando de um percurso que pode ser cumprido em 40 minutos ou até em uma hora. Mas que demorou quase três horas. Onde e com quem a vítima esteve ou falou neste intervalo de tempo? Este hiato é peça-chave na investigação — define o delegado Ivanir Caliari, titular das delegacias de Igrejinha e Três Coroas, que conduz o inquérito.
Nesta quinta-feira (21), duas equipes da Delegacia de Igrejinha efetuaram diligências em Gravataí, cidade de domicílio do vendedor. A investigação é considerada complexa, pois, segundo o delegado, inspira ao menos três hipóteses principais:
— Com base nos elementos do crime, são averiguadas pistas que sugerem a possibilidade de que possa ter havido um latrocínio, um homicídio passional ou uma execução.
Caliari diz que as apurações indicam que Azevedo foi “arrebatado” (apanhado a força, no jargão policial) em algum ponto de Gravataí e, do interior do município metropolitano, teria sido conduzido para o ermo de Igrejinha onde teve o corpo encontrado. A polícia estima que o assassinato tenha sido consumado por volta das 17h.
— Ele pode ter sido vítima de um assalto com desfecho trágico, pode ter sido morto em um homicídio planejado, mas também pode ter sido alvo de uma investida passional, pois a forma, com vários disparos no rosto, sugere um sentimento de raiva, desafeto do atirador pela vítima — pondera Caliari.
O delegado aponta que imagens e testemunhos ainda são buscados também sobre o período após o último registro de Azevedo vivo, presumidamente entre 16h35min e 17h, embora a travessia pelo interior dos municípios seja menos dotada de câmeras que as áreas próximas das rodovias.
Outro ponto que desafia a polícia é o fato de que, junto ao corpo, havia peças de ouro com valor avaliado em cerca de R$ 80 mil, além de dinheiro e cheques, supostamente provenientes de negociações realizadas pelo vendedor.
— Chama muito a atenção da gente que estes valores não tenham sido levados por quem o matou. Não afastamos a possibilidade de que houvesse outros valores que podem ter sido roubados, por isso não eliminamos totalmente a hipótese de latrocínio — explica.
Caliari destaca ainda que relatos da namorada e de amigos da vítima, tomados em depoimentos, demonstram que Azevedo mantinha uma rotina baseada em hábitos de trabalho e relações sociais, residindo na casa que era de sua avó, em bairro periférico de Gravataí.
De acordo com a polícia, ele intermediava negociações de compra e venda de artigos de joalheria, fornecendo matéria-prima para ourives e atendendo a encomendas personalizadas. Azevedo não possuía nenhum antecedente criminal.
O delegado afirma que informações que possam contribuir com as investigações podem ser repassadas à Polícia Civil, de forma sigilosa, pelo telefone (51) 3545-1190.