Há relatos ainda de supermercados que foram saqueados por causa da falta de mantimentos
A cidade de Roca Sales, no Vale do Taquari, vive uma tragédia sem precedentes. O município foi devastado pelas águas do Rio Taquari, carros estão de cabeça para baixo, árvores e dezenas de postes caíram.
A população vagueia pelas ruas sem saber o que fazer ou a quem recorrer. Muitos choram em frente aos terrenos onde antes ficavam suas moradias. O prefeito, Hamilton Fontana, que também caminhava cabisbaixo na manhã desta quarta-feira (6), não tinha palavras para definir a situação.
— O que aconteceu aqui… Famílias foram embora em cima das casas carregadas pela água — afirmou o prefeito, olhando para o trecho desmoronado da estrada que dá acesso a Muçum.
Seis mortes foram confirmadas em Roca Sales, mas esse número pode subir, já que muitas casas desabaram e há relatos de pessoas sob escombros. Enquanto a reportagem conferia os estragos, uma família chorava a perda de três pessoas, que não conseguiram ser salvas da inundação.
Na localidade de Feijão Queimado, o casal Renata Aldrovandi Iora, 38 anos, e Luciano Luis Iora, 29, observavam desolados a casa destruída. Os dois casaram há um mês, e a residência era o presente que ganharam. Ficaram sem nada.
— Não temos nem onde dormir — diz o homem, que trabalha como agricultor.
A esposa é industriária e chorava nesta manhã.
— Estamos vivos — dizia ela, tendo ao fundo o cenário devastado na rua com dezenas de postes caídos.
Outra cena triste vive o estofador Rodrigo Alf, 39 anos.
— Ali era a minha casa e dos meus pais. Não sobrou nada. Só peguei a roupa do corpo e saí. A água levou a casa embora — recorda.
A poucos metros de distância, o posto da Brigada Militar ficou todo destruído e está vazio, e o mesmo ocorreu com um supermercado, que está com as portas escancaradas. Há relatos de furtos em alguns mercados, e Roca Sales está sem luz e sinal de internet. Também falta água.
— Está uma loucura, perdi minha loja inteira. Estamos sem água e falta vela no município — conta a lojista Andreza Haefliger, 47.
O ferreiro Cândido Norberto da Silva, 61, perdeu duas casas na localidade conhecida como Linha de 31 de Março. Chorando muito, diz que fugiu com a esposa e ficou na parte alta da comunidade.
— Esta é uma verdadeira cidade zumbi — compara o ferreiro, que vive há 40 anos em Roca Sales. — Era bonito de ver minhas casinhas. Perdi tudo — acrescenta, contando que ficou apenas com a roupa do corpo e os documentos.
Donativos estão sendo entregues na Sociedade Esportiva Cultural de Ano Bom. Muitos itens já estavam sendo organizados por voluntários que pedem doações de produtos de limpeza e material de construção.
— Precisamos também de móveis. As pessoas perderam tudo — salienta o voluntário Marcelo Lagemann, 51.