Campeão nacional de tiro de laço, Jonas Vargas, 38, conduzia a camionete que colidiu de frente com uma carreta. Filho, esposa, sogra e sobrinha também morreram
A humildade e o estilo simples de laçar que garantiam reconhecimento e títulos a Jonas Vargas, 38 anos, serão para sempre lembrados por tradicionalistas dos Campos de Cima da Serra. Vargas é uma das cinco vítimas de uma colisão frontal envolvendo a caminhonete S10 que conduzia com uma carreta no sentido São Francisco de Paula – Canela, na RS-235, na quinta-feira (5). Dentro do veículo ainda estavam seu filho Diego de Andrade, sete, a esposa Leide Camelo, 37, a sogra Joana de Andrade, 67, e a sobrinha Kauany Domingos, que comemoraria 15 anos em uma festa a ser organizada neste sábado (7) no CTG 25 de setembro, em Cambará do Sul.
— Perdemos duas gerações de laçadores. Pessoas muito amigas, reconhecidas no meio e de muito bom trato. Conhecia ele há mais de 20 anos e sua humildade era de quilo — define o coordenador da 27ª Região Tradicionalista, Everaldo Dutra.
Campeão nacional em 2013, no rodeio de Jataí (GO), Vargas já ensinava o filho de sete anos a laçar. A sobrinha Kauany também já despontava em rodeios da região, ensinada pelo tio. E o filho de 15 anos, que perdeu pai, mãe e irmão no acidente herdou o talento do pai ao sagrar-se campeão nacional no rodeio de Xangri-La em 2019.
Consternado, o amigo e companheiro de cancha Lúcio Licks de Souza, 36, lembrou do estilo simples da família:
— Estudamos na mesma escola, Vargas era meu ídolo. Chamávamos ele de Diamante Negro, era bonito de ver ele laçar, a habilidade que ele tinha era incrível.
Os valores de Vargas, como contam os mais próximos, foram herdados do pai, falecido há quatro anos e reconhecido por um amigo de longa data como “um dos homens mais gaúchos que se criou aqui”.
— Conheci o pai dele em 1980, se criaram no Parque de Rodeio de Canela. O Jonas era o homem que laçava de forma mais bonita — lembra Germy Oliveira, 60.
Criado em fazendas dos Campos de Cima da Serra, Vargas era capataz em uma propriedade de Tainhas, enquanto a família da irmã, Elenara Vargas, mãe de Kauany, conduzia os trabalhos em uma propriedade de Cambará do Sul. A última vez que a família esteve toda reunida foi no aniversário de 67 anos da avó, dona Joana, também morta no acidente.
Orgulhosa dos filhos e netos que mantinham a tradição herdadas também do marido, Joana não quis morar sozinha depois de ficar viúva e se manteve perto, principalmente do filho Jonas.
— Ele se revezava entre a casa dele e a casa da família da Kauany. Estava sempre junto, ia para os rodeios também — conta a neta Elisandra de Andrade, 26.
Além da vó, a tragédia familiar levou de Elisandra o tio, a tia e dois sobrinhos às vésperas de mais um encontro onde todos comemorariam o aniversário de Kauany:
— Ela só falava da festa. Estava sempre trajada, sempre. Da família acho que era a que mais gostava de estar entre os cavalos e ajudando na fazenda. Nos encontrávamos nos rodeios, sempre que podia, mas se fosse hoje gostaria de ter passado mais tempo com todos — disse.