"Para o município, não é ruim", diz prefeito de Tiradentes do Sul sobre contrabando de soja da Argentina ao RS - Agora Já -

“Para o município, não é ruim”, diz prefeito de Tiradentes do Sul sobre contrabando de soja da Argentina ao RS



No noroeste do RS, grão trazido ao Brasil de forma ilegal acaba integrado à produtividade da cidade, como se fosse dali

Foto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
5 de setembro de 2023

Na fronteira entre Brasil e Argentina, no noroeste do RS, contrabandistas cruzam os 300 metros que separam os dois países introduzindo ilegalmente em território gaúcho milhares de sacas de soja do país vizinho . Com isso, os municípios no lado gaúcho da fronteira em que ocorre o contrabando de soja acabam turbinados economicamente.

Em 2020, o último número disponível, a cidade de Tiradentes do Sul produziu 7 mil toneladas de soja, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas a emissão de notas fiscais pela prefeitura somou 42 mil toneladas. Ou seja, 35 mil toneladas foi a quantidade de soja não plantada no município.

O Grupo de Investigação da RBS (GDI) ouviu os mandatários dos três municípios que mais têm ocorrências de contrabando de soja em seu território. O prefeito de Tiradentes do Sul, Alceu Diel (PSDB), considera que o assunto está amornando, “porque a polícia tá prendendo todo mundo”. Informado pela reportagem de que o contrabando continua, ele é sincero, ao falar da questão econômica:

— Olha, para o município não é ruim (o contrabando). O dinheiro circula bastante. Geralmente tiram nota do soja, acredito que ninguém compra sem nota, a cooperativa pelo menos não compra. E aí circula. No mercado, no comércio, no posto de combustível.

Diel diz que não sabe como está a questão das notas fiscais de produção de soja emitidas pelo município, muito maiores do que a produtividade real de colheita.

A reportagem questionou também o fato de, no ano passado, policiais civis terem apreendido um trator-esteira que trabalhava para melhorar um dos portos privados clandestinos. A máquina pertencia à prefeitura de Tiradentes do Sul.

O prefeito diz que ficou sabendo dois dias depois e que seu secretário de Obras justificou o fato: uma máquina privada caiu no rio e um trator-esteira da prefeitura foi retirá-la da água. Aí foi cavado um buraco para fazer o socorro. Os policiais teriam chegado quando estava no local apenas a máquina da prefeitura e acreditaram que ela estava deslocada para melhorar a via de acesso para contrabandistas, o que o chefe do Executivo nega veementemente.

Diel também comenta o fato da produtividade “recorde” em Tiradentes do Sul, onde algumas propriedades pequenas têm média de 250 sacas por hectare, quando este ano a média gaúcha foi de 32 sacas.

— A gente sabe que várias pessoas emprestavam bloco do produtor para o contrabandista tirar nota. Aí o sujeito tem 10 hectares e tirou 3 mil a 4 mil sacas de soja na produção, né…

O vice-prefeito de Esperança do Sul, Gilmar Lucin (MDB), prefere não comentar o assunto contrabando.

— Eu sei por outros, mas não tenho nada a falar. Não participo, não usufruo disso, não tenho comércio. Sei lá até que ponto é bom isso aí.

O prefeito de Crissiumal, Marco Aurélio Nedel (PL), diz que o contrabando é um tema complexo. Como auditor aposentado da Receita Federal, diz que atuava na repressão ao ilícito e, por isso, não apoia, não incentiva e não participa desse tipo de crime. Como não é de sua atribuição, tampouco atua na repressão. Mas admite que a atividade é muito intensa em seu município.

— Temos 12 quilômetros de fronteira com a Argentina e de 20 a 30 portos clandestinos, nesse trecho do Rio Uruguai. Com impacto de destruição ao ambiente, por exemplo.

Ao mesmo tempo, Nedel concorda com seu colega de Tiradentes do Sul ao dizer que a movimentação de cereais acaba integrada à produtividade do município, como se fosse dali.

— E para a população costeira, muito pobre, gera ocupação (serviço). Ainda ajuda a movimentar o comércio. Mas esse ganho fácil atrai facções criminosas e não se restringe à soja, mas também gera contrabando de produtos proibidos, como veneno agrícola, armas, explosivos, drogas e todo o resto que não presta — ressalva.

Fonte : GZH
Fonte : Ronaldo Bernardi / Agencia RBS

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