Idosa, que sofre com apagões de memória, foi encontrada pela equipe da Delegacia de Investigação de Pessoas Desaparecidas e embarcou num voo da FAB para morar novamente com o filho
A insistência da filha foi o que fez Milton Araújo, 41 anos, decidir registrar o desaparecimento da mãe. Morador de Búzios, no Rio de Janeiro, ele não conseguia mais contato com Mônica Pereira, 66, que residia em Porto Alegre. O receio de que algo grave pudesse ter acontecido se intensificou em meio à enchente que atingiu o Rio Grande do Sul.
O eletricista já havia procurado por telefone pessoas próximas, e não tinha respostas sobre o paradeiro dela. Estava incrédulo de que conseguiria ajuda, mas decidiu comunicar a ocorrência. Alguns dias depois, a Polícia Civil localizou a idosa num abrigo da Capital.
Milton já havia tentado mais de uma vez levar a mãe para morar com ele. No entanto, a idosa sempre encontrava um jeito de retornar para casa. O contato era mantido por telefone, mas, sofrendo com apagões de memória, ela começou a vagar pelas ruas da Capital e teve o celular roubado. A última informação que ele tinha sobre o paradeiro recente dela era a Estação Rodoviária. O local foi um dos atingidos pela inundação que tomou Porto Alegre no início de maio.
— É uma angústia. Saber que tua mãe está vulnerável, não saber onde está. Primeiro teve a situação com a pousada Garoa (incêndio que matou 10 pessoas na Capital). Sabia que ela estava pela rua, região do centro. Comecei a ligar para todo mundo. E aí veio a enchente. Sabia que as pessoas estavam em risco. O sentimento é horrível. Tentei ligar pra muitas pessoas para correr atrás, conversar. Tentar achar — descreve.
Milton conseguiu confirmar que a mãe não estava entre as vítimas do incêndio e chegou a localizar o contato de outra pousada, onde a idosa esteve hospedada, mas Mônica não estava mais lá. Ele seguia sem notícias e não sabia mais a quem recorrer. Foi quando a filha, Júlia de Araújo, 24 anos, orientou o pai a registrar uma ocorrência na polícia pela Delegacia Online.
— Peguei e fiz, desacreditado. Para agradar minha filha, que tinha pedido. Quando a gente vai na delegacia, faz o registro, imagina que vai embora e aquele documento vai ser engavetado e ninguém vai fazer nada. Quando abre a ocorrência pela internet, nunca imagina que vai acontecer de achar. Nunca imaginei que fossem correr atrás, e eles conseguiram — relata.
A equipe da Delegacia de Investigação de Pessoas Desaparecidas (DPID) passou a investigar o sumiço de Mônica e entrou em contato com o eletricista para saber mais detalhes do caso. Em seguida, iniciaram as buscas pela Capital. A idosa se tornou uma das 231 pessoas desaparecidas localizadas com vida durante as inundações que atingem o Estado. Como a rodoviária precisou ser evacuada, em razão da enchente que alagou a região, ela havia sido levada para um abrigo, onde foi encontrada pelos policiais.
— Não só acharam ela, como em tempo recorde. É fantástico. Foram muito eficientes. Se alguém estiver precisando, hoje eu digo para fazer o boletim, porque eles vão investigar. No meio de uma tragédia tão grande, as pessoas tristes, desoladas, isso traz uma esperança. No caso da minha mãe, eles ainda foram além. Como não havia aeroporto (fechado em razão da inundação), ao ver a minha angústia, e a situação de vulnerabilidade dela, conseguiram um voo da FAB — conta.
Mãe e filho se encontraram no Rio de Janeiro, após os policiais buscarem a Força Aérea Brasileira para conseguir auxílio no transporte. Mônica embarcou numa aeronave na Base Aérea de Canoas, na Região Metropolitana. Antes da partida, despediu-se da equipe de policiais que havia lhe encontrado Na chegada na Base Aérea do Galeão, os dois se abraçaram, e a idosa gravou um vídeo de agradecimento.
— Oi, gente, cheguei bem. Está tudo certinho, já estou com meu filho — afirmou.
A idosa segue morando com a família no Rio de Janeiro, onde passou a receber cuidados.
— Levei ela no médico, cortei o cabelo dela. Hoje, ela está tentando recomeçar novamente — diz o filho.
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