Espécie pode causar febre oropouche; cidades do RS devem aplicar bioativo para controlar praga sem afetar bananais
Um inimigo quase invisível ameaça colapsar o sistema de saúde de Dom Pedro de Alcântara, pequeno município de 2,5 mil habitantes no litoral norte do Rio Grande do Sul. A praga está sendo chamada de mosquito-pólvora, por ser tão pequena e de coloração preta.
— Todo ano parece que está aumentando e ele está se alastrando mais — diz a secretária da Saúde, Janaína Schwank.
Os moradores do município dizem que não conseguem mais abrir a casa ou sair na rua sem encontrar os mosquitos.
— Nós não estamos mais aguentando. A população está em estado de calamidade, porque a gente não pode mais abrir uma casa, a gente não pode mais sair na rua — diz o produtor rural Robis Behenck.
O mosquito-pólvora, também conhecido como maruim, é uma espécie de inseto culicóide, transmissor de viroses.
O inseto se reproduz principalmente nas plantações de banana, que existem em todos os municípios infestados no RS. A larva do inseto gosta de ambientes úmidos, como as folhas das bananeiras que ficam pelo chão, e também do tronco das plantas.
Quem é picado pelo mosquito-pólvora fica com manchas vermelhas na pele. Além da alergia, uma das preocupações é com a febre oropouche. Ainda não há casos da doença no RS.
— Quando ele morde, cria tipo uma bolinha, tipo de catapora, que antigamente eles falavam. Quando a gente olha, tá toda vermelha a perna, toda cheia de mancha — conta Behenck.
Segundo o Ministério da Saúde, os sintomas da doença são parecidos com os da dengue e da chikungunya: dor de cabeça, dor muscular, dor nas articulações, náusea e diarreia.
O diagnóstico clínico, epidemiológico e laboratorial deve ser notificado de forma imediata, em razão do risco de epidemia e da alta capacidade de mutação do vírus que provoca a doença. O Ministério da Saúde afirma que não existe tratamento específico contra a doença.
Os municípios do Litoral Norte vão aplicar um bioativo para controlar a praga sem afetar as plantações de banana. O produto é feito a partir da levedura de cerveja.
— É um bioativo produzido à base de levedura de cerveja fermentada. Ele vai ser utilizado para controlar a larva e os ovos do maruim. Ele vai servir, a gente acredita, assim, como um paliativo, porque, para controlar o mosquitinho, é bem complicado — diz Tatiane Vahl Bohrer, engenheira agrônoma da Emater.