Menina de um ano e nove meses morreu na terça-feira (5) após quadro de infecção generalizada
A direção de hospital e prefeitura de Três de Maio, no noroeste gaúcho, investigam as circunstâncias da morte de Maria Clara Hirt, de um ano e nove meses. A família alega que houve negligência médica no atendimento.
A menina teve febre alta e vômito em 4 de novembro e foi levada para atendimento no Hospital São Vicente de Paulo, em Três de Maio. Conforme a família, a médica que atendeu disse que tratava de um quadro gripal e liberou a paciente.
— A médica plantonista não pediu exame, ela só ouviu o pulmão e olhou a garganta. E disse assim: “olha pai, a garganta está boa, o pulmão está bom, ela tem gripe” — afirmou a mãe, Gabriela Hirt Soares.
À noite os sintomas pioraram e Maria Clara retornou ao hospital. Desta vez, segundo os pais, os médicos constataram que ela estava com laringite e quadro de anemia. Maria Clara então foi internada e recebeu medicação.
Mas, de acordo com o pai, Dieison Soares, a menina só foi avaliada por um especialista no dia seguinte:
— O pediatra foi solicitado à noite, ele não foi. Ele receitou à minha filha pelo celular. Não olhou para a minha filha, nem tocou nela. De manhã ele apareceu lá, 10 horas depois (de ser chamado).
— Eu lembro muito bem de uma enfermeira que chegou e olhou para a Maria Clara, olhou para o aparelho de saturação e ela falou assim, isso aqui não é laringite, isso aqui não está certo e vocês chamem esse pediatra agora — relatou a mãe.
Maria Clara chegou a ser encaminhada para a UTI Pediátrica do Hospital Vida e Saúde de Santa Rosa em estado grave. Segundo a família, o diagnóstico foi de infecção generalizada e uma bactéria desconhecida. Ela seria intubada, mas não resistiu e morreu na tarde de terça (5).
— Ela chegou lá muito tarde por imprudências daqui. O que a médica da UTI nos passou, e o que mais machuca a gente, é que faltou um soro para a hidratação dela, porque ela estava muito desidratada e ficou muito fraca — disse a mãe.
Segundo o diretor técnico do Hospital São Vicente de Paulo de Três de Maio, Franklin Capaverde, os fatos serão apurados e as medidas necessárias serão tomadas.
— Vamos investigar a fundo esse caso, apurar detalhadamente o que aconteceu aqui. Depois chamaremos a família para detalhar toda a ocorrência em relação ao atendimento dessa paciente. Se houver responsabilidades o hospital não se eximirá de culpar ou de responsabilizar qualquer um dos envolvidos — disse.
A prefeitura de Três de Maio disse que acompanha a investigação do hospital e também busca esclarecimentos sobre as responsabilidades dos envolvidos, já que responde pela fiscalização dos recursos investidos na saúde.
Em nota, o município informou que colocou profissionais à disposição para auxiliar a família. Confira a nota na íntegra:
“A Prefeitura Municipal de Três de Maio, através da Secretaria de Saúde, tomou o conhecimento dos fatos ocorridos nesta semana com a criança que infelizmente, veio a óbito, e desde a manhã de ontem (06/11/24), está buscando esclarecimentos e apurando responsabilidades.
O Prefeito Municipal juntamente com a Secretária de Saúde, estão acompanhando pessoalmente a investigação que está sendo realizada sobre o fato ocorrido.
A Prefeitura Municipal de Três de Maio colocou à disposição profissionais para auxiliar a família enlutada neste momento tão difícil.
O Governo Municipal de Três de Maio externa os seus sentimentos e presta as suas condolências à família enlutada. Informaremos a comunidade assim que as investigações estiverem encerradas.”
No sábado (9), familiares e amigos de Maria Clara levaram balões e cartazes até a frente do hospital, no centro de Três de Maio.
— A gente não quer que nenhuma Maria mais pague como a nossa Mariazinha pagou. A gente não quer que outros pais chorem da mesma forma que a gente está chorando. Hoje foi a nossa Mariazinha, amanhã pode ser um Joãozinho, pode ser outra criança — disse a tia da menina, Mônica Hirt Wengrae.
Enquanto pedem justiça, os familiares guardam as lembranças de uma criança alegre e carinhosa.
— Ela era a criança mais doce que existiu. Ela abraçava todos, todos, todos. Se visse alguém na rua e alguém pedisse um abraço para ela, ela estava lá dando um abraço, dando beijinhos — finalizou a mãe, emocionada.