O terreno e as instalações de uma antiga indústria no bairro São Luís, em Canoas, já assumem a feição de um pequeno bairro improvisado. O avanço na montagem das primeiras casas cedidas pela Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), nesta quinta-feira (20), começou a dar forma a um dos cinco Centros Humanitários de Acolhimento que serão erguidos para receber cerca de 3,7 mil desabrigados da enchente em solo canoense e em Porto Alegre.
Além do trabalho de encaixe das estruturas de metal e fibra plástica, a construção do refúgio temporário envolve a terraplanagem de parte da área, adequação de redes de iluminação e esgoto, e a preparação de instalações complementares como refeitório, banheiros e espaço multiuso. O serviço deverá ser concluído no início de julho, quando receberá entre 700 e 800 pessoas que perderam suas casas para a cheia.
Dos centros de acolhimento previstos, três deles na Capital e dois em Canoas, apenas a unidade do bairro São Luís contará com as 208 casas encaminhadas pela entidade vinculada à ONU. Os espaços, com dimensão de 18 metros quadrados e capacidade para receber até cinco pessoas, começaram a ser erguidos na área externa do terreno e, em menor número, também no interior do pavilhão existente no local — onde deverão ficar famílias sob maior necessidade de cuidado.
Na manhã desta quinta, o vice-governador Gabriel Souza e o secretário de Resiliência Climática de Canoas, José Fortunati, circularam pelo local para vistoriar o andamento dos preparativos, custeados em parceria com o sistema Fecomércio-RS, Sesc e Senac. Observaram as ações de terraplanagem, adequação de esgoto e montagem das casas modulares.
Cerca de 50 militares de um batalhão do Exército lotado no Paraná montavam inicialmente a parte superior de cada abrigo, no interior do pavilhão. Em seguida, colocavam as hastes metálicas de sustentação, que se acoplam a encaixes em ferragens junto ao chão. Depois disso, eram afixadas as paredes, feitas de um material plástico levemente flexível, e a porta. Na área externa, as casas são instaladas de duas em duas, dividindo uma mesma parede de fundos. Até o meio da manhã, já haviam tomado forma oito moradias no ambiente interno e outras oito no lado de fora, e o trabalho seguia em ritmo intenso.
Conforme reportagem publicada em maio em GZH, especialistas em urbanismo e migrações sustentam que esse tipo de abrigamento provisório e coletivo precisa ser de curta duração e garantir acesso dos ocupantes a educação, saúde e lazer para cumprir sua finalidade. A ideia é de que os centros sejam utilizados até moradias definitivas estarem disponíveis, em data ainda incerta.
O vice-governador Gabriel Souza sustenta que essa é uma forma encontrada para garantir mais conforto a quem perdeu praticamente tudo na enchente e está vivendo em locais precários.
— Em tempos normais, esse processo (de construção dos centros humanitários) levaria meses. Pretendemos concluir em 40 dias para oferecer mais dignidade, privacidade e segurança para os desabrigados — afirmou.
A prefeitura de Canoas vai selecionar quem vai ocupar as casas provisórias, que terão setores familiares, para mulheres com filhos, apenas para mulheres e exclusivamente para homens desacompanhados. Haverá vigilância permanente da Brigada Militar, segundo o vice-governador.
A gestão dos centros de acolhimento ficará sob responsabilidade da Organização Internacional para as Migrações (OIM), órgão também vinculado à ONU, com experiência internacional na administração de espaços voltados a pessoas em situação vulnerável. O espaço localizado no bairro São Luís apresenta um dos estágios mais avançados de conclusão, ao lado do Centro Vida, em Porto Alegre.
Em Canoas, o segundo abrigo temporário será montado no Centro Olímpico Municipal, que deve receber de 800 a mil pessoas. Em Porto Alegre, as estruturas ficarão no Complexo Cultural Porto Seco, com capacidade para 550 pessoas, no Centro de Eventos Ervino Besson (mais 550), e no Centro Vida, que deve atender de 800 a mil pessoas.