Músico faleceu na noite de quarta-feira, aos 70 anos, deixando um grande legado para a cultura gaúcha
Junto ao maior palco do Rio Grande do Sul, o Theatro São Pedro, Luiz Carlos Borges é velado nesta quinta-feira (11). O músico morreu na noite de quarta (10), aos 70 anos, devido a complicações de um aneurisma de aorta. Borges estava internado desde 29 de março no Hospital São Francisco, em Porto Alegre. Conforme a família, ele partiu rodeado dos familiares. Assim também foi a sua despedida.
No início da manhã, a esposa do músico, Andressa Camargo, e outros familiares se reuniram na sala lateral do teatro, onde o caixão foi alocado. A cerimônia foi aberta ao público às 10h, horário em que dezenas de nomes ligados à cena cultural gaúcha começaram a chegar para a despedida de Borges.
Junto ao maior palco do Rio Grande do Sul, o Theatro São Pedro, Luiz Carlos Borges é velado nesta quinta-feira (11). O músico morreu na noite de quarta (10), aos 70 anos, devido a complicações de um aneurisma de aorta. Borges estava internado desde 29 de março no Hospital São Francisco, em Porto Alegre. Conforme a família, ele partiu rodeado dos familiares. Assim também foi a sua despedida.
No início da manhã, a esposa do músico, Andressa Camargo, e outros familiares se reuniram na sala lateral do teatro, onde o caixão foi alocado. A cerimônia foi aberta ao público às 10h, horário em que dezenas de nomes ligados à cena cultural gaúcha começaram a chegar para a despedida de Borges.
Conhecido por uma forma única de tocar a gaita, “chorando com a cordeona” — como definiu em sua última entrevista a GZH —, Borges deixa um legado incalculável para a cultura gaúcha. Para o músico e pesquisador Vinicius Brum, amigo do nativista há mais de 40 anos, Borges foi um dos mais exímios instrumentistas que o país já viu nascer. E também uma das melhores pessoas que ele já conheceu.
— Há uma comoção coletiva na comunidade cultural muito expressiva, pois o Borges talvez tenha sido um dos mais brilhantes artistas que a nossa cultura rio-grandense já teve. E, também, a gente precisa lidar com a perda pessoal que a morte dele representa. É um dia muito difícil. Não há como mensurar a importância dele, nem a lacuna que ele deixa — diz Brum.
Na ocasião dos seus 70 anos, completados no final de março, Borges promoveu um grande evento para marcar a data. Ele comemorou junto ao aniversário as suas seis décadas de música. Foi uma celebração à altura dele: dois dias de festa. Um deles foi restrito a amigos, enquanto o outro foi aberto ao público, com shows e rodas de conversa sobre diferentes aspectos da música.
Brum lembra da alegria do amigo na ocasião. Dias depois, ele foi internado.
— Algumas coisas acontecem de modo que parecem programadas. Ele estava absolutamente radiante nesses dois dias, cercado por muitos amigos. Parece que estava se despedindo — analisa Brum.
A despedida é especialmente difícil para o nativista Érlon Péricles. Além de ter Borges como uma referência dentro da música regionalista, o cantor era sobrinho do artista. Foi ele, aliás, o grande incentivador do início da carreira de Péricles.
— Ele era um garimpeiro de talentos — resume. — Meu tio oportunizava aos mais novos aprender com ele e também se permitia aprender com os mais novos — conta Péricles.
A saudade, conforme ele, é grande, mas o legado do tio será eterno:
— Vou guardar muita coisa boa. A memória do meu tio, do meu amigo, do meu compadre vai ficar guardada sempre. Ele fica como uma referência: de pessoa, de ídolo, de artista e de homem da cultura. Ele deixa um legado irretocável, um legado a ser estudado mundo afora. Era um cara diferenciado, essencial à cultura gaúcha.
Em entrevista a GZH, em março, Borges afirmou que nunca se preocupou em fazer dinheiro com sua música. Para ele, a riqueza que construiu vem das amizades que fez nestes anos de estrada. Uma delas é com o músico Yuri Menezes, que integrou a banda de Borges ao lado de Neuro Júnior.
Com o nativista já adoentado, Menezes foi figura fundamental para que ele pudesse permanecer sobre o palco, fazendo o que mais gostava. A gaita, que é um instrumento pesado, já não podia mais ser carregada por ele. Borges, então, sentava no palco e, quando já acomodado, recebia o instrumento pelas mãos de Menezes.
O ato era visto por Borges como um rito, uma simbologia, algo pelo que era grato. Emocionado, Menezes avalia que a gratidão que Borges tinha por conta disso demonstra, acima de tudo, sua humildade e generosidade. Eram marcas registradas do artista.
— Ele era especial para muita gente, pois tinha carinho, dava atenção, era generoso e dizia coisas que a gente precisa ouvir. Ele trabalhava as pessoas e trabalhava em prol das pessoas. Poder conviver, estar junto com ele, é um privilégio que eu não sei explicar — comenta Menezes.
— Eu e Borges nos conhecemos em São Luiz Gonzaga, onde tocamos juntos durante anos. Depois, ele veio para Porto Alegre e eu vim atrás. Cheguei a morar na casa dele. Posso dizer que o Borges foi um pai para mim, musicalmente e na vida. Eu tinha 18 anos quando o conheci, hoje tenho 33. Minha vida se resume a antes e depois do Borges. É um pai que eu estou perdendo, e sei que ele era um pai para muitas outras pessoas — acrescenta.
Para o gaiteiro Renato Borghetti, um dos maiores representantes do instrumento no país, ao lado de Borges, ele foi também uma inspiração.
— O Borges tinha, talvez pela sua origem missioneira, uma referência forte de fronteira. Isso fazia com que ele tivesse uma forma única de tocar, que sempre me chamou atenção — lembra Borghetti. — Conheci o Borges, primeiro, por conta de um LP dos Irmãos Borges. Ele era um jovem músico, eu estava começando, e fiquei encantado com os solos de cordeona que ele fazia. Pensei: “Bah, mas quem é esse cara?”. Depois, tive a oportunidade de conhecê-lo e me tornar amigo dele. Posso dizer que o Borges era muito acima da média em tudo o que fazia, seja como instrumentista, como compositor ou como intérprete — resume.
Ernesto Fagundes define o músico como um “embaixador da cultura latino-americana”. Ele destaca o reconhecimento que Borges tinha em países como Argentina e Uruguai, para onde sempre levou a música regional gaúcha, e a relação próxima com Mercedes Sosa, com quem realizou várias parcerias.
É consenso que a partida de Borges deixa uma lacuna na música do Rio Grande do Sul. A secretária estadual da Cultura, Beatriz Araújo, destaca que, além da vasta obra artística, Borges deixa um legado de comprometimento com causas sociais e culturais:
— Acompanhei, como todos, toda a carreira do Borges. Ele é um ícone da nossa cultura, um sujeito extremamente afetuoso, querido por todos, de uma generosidade ímpar. Em muitas ocasiões, a arte dele foi beneficente, pois ele sempre se integrou às causas que julgava justas. Fica um vazio e a certeza de que ele foi muito cedo.
A despedida a Luiz Carlos Borges deve seguir no Theatro São Pedro até as 18h. Depois, o corpo será levado ao Crematório Grupo Mathias, em Glorinha, para uma cerimônia reservada apenas aos familiares.