Problemas na preparação física foram uma tônica na temporada e custaram pontos no Brasileirão e eliminações em Copa do Brasil e Libertadores
É possível traduzir em números o tamanho do problema físico do Inter. Ele está escancarado nos gols sofridos pela equipe nos últimos quartos das partidas desde o início do ano. Quando o jogo passa da metade final do segundo tempo, aumenta o drama colorado. E ser vazado nesse período custou caríssimo na temporada, das eliminações nos mata-matas a pontos importantes no Brasileirão, passando até pelo Gre-Nal do Gauchão. Trata-se do desafio derradeiro da acidentada temporada no Beira-Rio.
Para dar uma ideia do que vem ocorrendo desde o Estadual, o Inter levou mais gols depois dos 23 minutos do segundo tempo do que nos 45 minutos iniciais em 2023. Quase metade das vezes em que buscou a bola na rede, a partida já estava em contagem regressiva.
Na prática, isso representou seis pontos a menos no Brasileirão. Ou seja, o resultado era de vitória ou empate e virou empate ou derrota por causa de gols sofridos após o 68º minuto. Houve casos com Mano Menezes e com Eduardo Coudet. O time perdeu pontuação em maio e em novembro. Uma prova de que o problema físico foi uma marca do ano.
Fora do Brasileirão, os finais de jogos foram ainda mais traumatizantes. Na queda para o América-MG na Copa do Brasil, o Inter levou todos os três gols nos minutos finais. Foram dois nos acréscimos da partida de ida e outro a 13 minutos do fim no jogo de volta. A eliminação veio nos pênaltis, é verdade, mas o duelo poderia ter sido resolvido no tempo normal.
Na Libertadores, o cenário se repetiu. O time levou dois gols do River Plate, um em cada jogo, na parte final. Salvou-se nos pênaltis. Mas contra o Fluminense o destino não deu outra chance. Das quatro vezes que os cariocas foram às redes coloradas, três foram depois dos 68 minutos (uma no Maracanã, duas no Beira-Rio).
E ainda houve o Gre-Nal do Gauchão. A derrota na Arena se deu com um gol nos acréscimos, e o resultado foi o começo da primeira pressão sofrida na temporada.
Mano Menezes já havia reclamado da condição física, o Inter trocou a preparação física, saiu Jean Carlo Lourenço e foi contratado o coordenador Antônio Carlos Fedato e o preparador Flávio de Oliveira, depois chegou a comissão técnica de Coudet com mais dois preparadores. E pouco mudou. O técnico argentino falou sobre isso após a derrota para o Palmeiras:
— Jogando a cada três dias, é muito difícil recuperar os jogadores.
A parada da Data Fifa surge como um alento para o time. Os 15 dias entre o duelo com o atual líder do Brasileirão e o próximo compromisso, diante do Bragantino, segundo Coudet, podem dar um novo fôlego à equipe.
— Não vamos poder falar em cansaço daqui duas semanas. Com certeza veremos um time diferente. Da parte física, chegaremos de outra maneira — prometeu.
Mas para o preparador físico Michel Huff, com passagens por Corinthians e diversas equipes do futebol europeu, essa tarefa será muito difícil. A essa altura do ano, é improvável projetar algum avanço.
— Não vejo possibilidades de progressão em termos físicos. Falta menos de um mês para acabar o ano, são dois jogos por semana, e ainda precisa acrescentar o fator mental do time após a perda da Libertadores. E ainda tem a política do clube, que também causa incertezas — aponta.
Assim, a única solução é repetir a estratégia que funcionou nas vitórias recentes. Contra Cruzeiro, Vasco e Grêmio, o Inter aproveitou o fôlego e construiu o resultado até a metade do segundo tempo. Mesmo tendo sido vazado no final, o placar já tinha a folga que permitia o susto.
— Temos que tentar nos colocar em vantagem quando tivermos chances. Isto ajuda a manejar o jogo e descansar um pouco — resumiu Coudet.
É o que resta para 2023. Para o ano que vem, será preciso mudar bastante.