Grupo que teria movimentado R$ 127 milhões em lavagem de dinheiro é alvo de operação da Polícia Civil - Agora Já -

Grupo que teria movimentado R$ 127 milhões em lavagem de dinheiro é alvo de operação da Polícia Civil



Ofensiva cumpre ordens judiciais de busca e apreensão no RS e em outros três Estados contra organização criminosa

Foto: Suspeito sendo levado para o camburão. Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
12 de março de 2024

A operação da Polícia Civil desencadeada na manhã desta terça-feira (12) tem como objetivo desarticular um grupo criminoso que teria movimentado R$ 127 milhões em lavagem de dinheiro do tráfico de drogas nos últimos anos. São cumpridas 138 ordens judiciais de busca e apreensão, na chamada Operação Repasse, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Viamão. Os alvos são suspeitos de estarem envolvidos no esquema de lavagem de dinheiro.

Na Região Metropolitana, são cumpridas ordens judiciais em diversos municípios, entre eles Sapucaia do Sul, Gravataí, Cachoeirinha, Viamão, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Sapiranga e Parobé. Em Porto Alegre, durante o cumprimento de mandados de buscas num condomínio foram presos dois suspeitos. No local, foram apreendidas uma quantia de dinheiro ainda não contabilizada, joias e drogas. Ainda na Capital, a polícia apreendeu uma farta quantia de dinheiro numa revenda de veículos na Avenida Bento Gonçalves. Segundo a delegada Adriana Regina da Costa, diretora do Departamento de Polícia Metropolitana, até o momento já foram apreendidos pelo menos 20 veículos. O dinheiro localizado durante as buscas ainda é contabilizado, mas a estimativa da polícia é de que some cerca de R$ 1 milhão.

— Vamos contabilizar o dinheiro ainda, em grande quantidade, mas foram apreendidas armas, joias e veículos de luxo. O nosso objetivo hoje nem era o número de prisões, e sim a asfixia financeira da organização criminosa que tentamos atingir nessa fase da operação. Essa apreensão de dinheiro, armas e veículos mostra o poderio da organização criminosa — afirma a delegada.

A investigação teve início há quase três anos com foco numa facção, nascida no Vale do Sinos, e que possui o domínio do tráfico em Gravataí, na Grande Porto Alegre, mas se expandiu, alcançando outras organizações criminosas. Todos os grupos, segundo a polícia, fazem uso desse tipo de esquema para “lavar” o dinheiro obtido com a venda de drogas.

Conforme o delegado Guilherme Calderipe, titular da Draco de Viamão, os investigados se utilizam de empresas de diversos ramos, como a de revenda de veículos, para “esquentar” o dinheiro e burlar os mecanismos de controle de movimentações financeiras. As investigações contaram com quebra de sigilo bancários e fiscal das empresas investigadas. Ao todo, a polícia localizou pelo menos R$ 127 milhões em movimentações suspeitas nos últimos anos.

— Nesta primeira etapa, estamos focando nas pessoas que estão direta ou indiretamente envolvidas no esquema de lavagem de dinheiro. Não é aquela pessoa que está lá no ponto do tráfico de drogas. São empresas, empresários, imóveis de classe média alta — detalha o delegado.

O Rio Grande do Sul concentra a maior parte das ordens judiciais cumpridas pela Polícia Civil, com mandados na Região Metropolitana, no Litoral Norte, no Norte e na Região Central. Há mandados cumpridos também em outros três Estados: Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e São Paulo — num total de 28 municípios. Nesses locais, além de policiais do RS, que viajaram aos Estados para cumprir os mandados, a operação conta com o apoio de agentes locais. São cerca de 30 mandados fora do RS, sendo a maioria desses em Santa Catarina.

— Eles simulam os negócios, passando os carros para nomes de terceiros. Alguns veículos acabaram sendo transferidos para pessoas de Santa Catarina. E também carros de lá que foram trazidos para cá — explica Calderipe.

Origem da investigação

Em maio de 2021, agentes da 2ª Delegacia de Polícia de Gravataí apreenderam 181 quilos de drogas, em Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Os entorpecentes seriam distribuídos por uma facção criminosa na Grande Porto Alegre. Segundo a polícia, o local onde estavam armazenadas as drogas foi identificado após três meses de investigação. A maior parte da apreensão foi de maconha, mas havia cerca de 10 quilos de cocaína e crack.

A partir dessa apreensão, a polícia começou a apurar quem eram os envolvidos no esquema de tráfico. Foi assim que os agentes chegaram a uma revenda de veículos na Grande Porto Alegre, na qual identificaram movimentações suspeitas.

— Tem vendedor de carro que movimentou na conta dele mais de R$ 15 milhões. Não é nem na conta da empresa, é conta pessoal. Denota que essas organizações acabam usando essas pessoas para movimentar o dinheiro — diz o delegado.

Uma das empresas investigadas teria movimentado milhões ao longo dos últimos anos. No entanto, segundo a investigação, o proprietário mantém uma situação financeira que não condiz com essa movimentação.

— Tivemos que filtrar os investigados para chegar naqueles que realmente lidam com milhões. Neste caso, dessa empresa que presta consultoria, apesar de movimentar milhões, o dono tem um padrão normal. Está sendo investigado por estar utilizando a empresa para movimentar dinheiro ilícito. A maioria está sendo investigada por isso, por utilizar a sua conta ou a empresa para movimentar dinheiro do tráfico — afirma Calderipe.

Durante as buscas dessa terça-feira, a polícia procura por documentações que auxiliem a comprovar as movimentações financeiras e o esquema de tráfico.

Os nomes das empresas investigadas não são divulgados pela polícia porque o caso ainda está em fase de operação. Todos os mandados cumpridos são de busca e apreensão – a polícia não solicitou ordens de prisão nesta fase da ofensiva.

Descapitalização

As facções usam esquemas com o objetivo fazer parecer que esse dinheiro, obtido de forma ilegal, com a venda de drogas, seja resultado de atividades legais. Neste caso, por exemplo, com as revendas de veículos. Os criminosos empregam essa estratégia para dificultar que as irregularidades nas movimentações sejam detectadas pela Receita Federal, por exemplo.

O ataque às organizações criminosas por meio da descapitalização é uma das apostas da área da segurança pública na tentativa de enfrentar crimes violentos. Além de identificar e responsabilizar aqueles que estão envolvidos diretamente nas execuções e no tráfico, as investigações de lavagem de dinheiro têm como intuito fazer com que essas organizações tenham perdas financeiras, e, com isso, tenham seu poder enfraquecido

Fonte : GZH 
Foto : Ronaldo Bernardi / Agencia RBS

Policial prende suspeito em condomínio na Capital.
Ronaldo Bernardi / Agencia RBS

Policiais apreenderam armas e dinheiro; valor ainda não foi contabilizado.
Ronaldo Bernardi / Agencia RBS

Cédula estrangeiras também foram apreendidas. Estimativa é de que valor atinga R$ 1 milhão.
Ronaldo Bernardi / Agencia RBS

Munição apreendida.
Ronaldo Bernardi / Agencia RBS

Drogas foram encontradas com os suspeitos.
Ronaldo Bernardi / Agencia RBS


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