Choque entre massa de ar quente que paira sobre o Brasil e frente fria vinda da Argentina provoca tempestades e grande volume de descargas elétricas
Os gaúchos acordaram sob impacto de tempestades elétricas na madrugada desta sexta-feira (29). Algumas das grandes cidades do Rio Grande do Sul registraram quase 5 mil raios ao amanhecer, conforme levantamento do serviço meteorológico Climatempo, a pedido de GZH. A maior parte das descargas aconteceu no curto espaço de duas horas, entre 3h e 5h, a depender da região do Estado.
A reportagem pediu uma amostragem de algumas cidades onde a tempestade foi forte. Em Santa Maria, foram registradas 3.154 descargas. Em Santa Rosa, 710 raios. Em Porto Alegre, 640. Em Caxias do Sul, 65. Em Frederico Westphalen, 30. Essas cinco cidades tiveram, sozinhas, o dobro de raios que o total de descargas ocorridas em todo o Rio Grande do Sul no dia anterior, que foi de 2.586. Isso acontece porque a quinta-feira (28) teve chuvas isoladas. Já esta sexta-feira (29) é marcada por precipitações em todo o território gaúcho.
A Climatempo não teve condições de elaborar um informe detalhado a respeito de todo o território gaúcho nesta sexta-feira (29), já que as medições são fechadas a cada 24 horas. O cálculo é baseado em informações coletadas pela Rede Integrada Nacional de Detecção de Descargas Atmosféricas, que opera por intermédio de sensores conectados ao Sistema de Posicionamento Global (Global Positioning System – GPS), com precisão de até 500 metros de onde ocorreu a descarga.
O Brasil é o país campeão de incidências de raios, com estimativa de 78 milhões de descargas por ano. E o Rio Grande do Sul figura entre os Estados com mais destaque nesse tipo de fenômeno, além do Mato Grosso e Paraná. Isso porque o território gaúcho é zona de transição climática, com seguidos choques entre massas de ar quente e frio.
É o que ocorreu nessa madrugada. Após calorões de até 35ºC registrados na quinta-feira, resultantes de uma massa de ar quente que cobre a maior parte do Brasil, uma frente fria vinda da Argentina se espalhou pelo Rio Grande do Sul, explica o meteorologista Guilherme Alves Borges, da Climatempo. O resultado foi um grande choque térmico, que resulta na formação de nuvens prateleira (baixas e horizontais, características da borda da base de uma tempestade e que podem ter diâmetro de quilômetros). São assustadoras e costumam causar grande quantidade de raios, vento e estragos.
É o que aconteceu no Norte do Estado, Vale do Sinos e Região Metropolitana. Os raios e o vento acabaram danificando a rede elétrica, de tal forma que 227 mil imóveis ficaram sem luz. A previsão é de que no fim de semana não ocorram tempestades no Rio Grande do Sul.
Em Vera Cruz, no Vale do Rio Pardo, uma residência num loteamento foi atingida em cheio por um raio, ao amanhecer desta sexta-feira (29). O casal que reside lá estava de feriadão em Santa Catarina e soube do ocorrido por vizinhos, que impediram que o fogo tomasse conta da residência.
O raio furou o telhado, queimou fiação elétrica e ateou fogo nas mantas que isolam as telhas do forro.
— Só não incendiou tudo porque estava chovendo muito e porque os disjuntores desligaram — resume um dos vizinhos.
GZH falou com o dono do imóvel, que prefere não se identificar. Ele dá “graças a Deus” por não estar em casa na hora do incidente.
— Na hora a gente acha que é uma desgraça, mas depois para para pensar e vê que foi um livramento. O raio caiu pelas 6h, justo quando costumamos estar no café da manhã. Imagina se cai em cima de nós? — desabafa ele.
A residência tem seguro e o dono da casa agora quer ver o tamanho do prejuízo. Além de fios, tomadas e bicos de luz queimados, ele acredita que algum eletrodoméstico estragou.