Aos 78 anos, João Aresteu Rodrigues trabalha na garagem de casa, em Panambi
Nos livros infantis, Gepeto era um carpinteiro solitário até que resolveu criar Pinóquio, um boneco de madeira para lhe fazer companhia e, mais tarde, passou a considerar como seu filho. Assim como nos contos de fadas, um senhor de 78 anos, de Panambi, cria brinquedos de madeira e tem, ali, sua fonte inesgotável de vivacidade.
João Aresteu Rodrigues trabalha na garagem de casa. O trabalho é artesanal e exige paciência e atenção — características que o marceneiro têm de sobra. A paixão pelos brinquedos de madeira começou ainda na adolescência, quando seu João trabalhava com um tio em uma fábrica de móveis.
Anos mais tarde, já na década de 1970, seu hobby virou profissão quando ele, já na Brigada Militar, acompanhava os detentos fazendo artesanato de madeira em uma penitenciária.
— Eu tinha um saco e uma bicicleta, ia numa oficia de móveis, juntava retalho de madeira e levava pra casa. Ia nessas fruteiras, juntava caixas de maçã importadas da Argentina, recortava e fazia brinquedos, joguinhos de varanda, jogos de quarto pra menina, os caminhãozinhos… — lembra.
Na garagem de casa, quando morava em Cruz Alta, começou a investir mais na produção. Na década de 1980, foi transferido para Panambi, onde a marcenaria funciona desde então, nos fundos de casa.
Já aposentado, o dia a dia do seu João segue uma rotina linear. Ele acorda todos os dias antes do sol raiar, às 4h, faz o chimarrão e vai para o galpão, onde começa a trabalhar com a madeira. Mas, apesar dos dias serem parecidos, nenhum é igual ao outro: todos os brinquedos despertam algo de diferente, seja nele ou nas pessoas que vão ali para conhecer ou comprar o trabalho feito à mão.
— Quando vem pais aqui com as crianças é uma faceirice com os brinquedos. O pai e a mãe perguntam: qual é o que tu quer: o caminhãozinho, o tratorzinho ou a colheitadeira? Eles olham para cá, olham para lá e não consegue decidir — conta, bem humorado.
Mas o bem-estar que seu João desenvolveu produzindo os brinquedos também já esbarrou em obstáculos pelo caminho. Há dois anos, o galpão onde fica a marcenaria pegou fogo e tudo foi perdido: desde as máquinas até os materiais de trabalho. Com ajuda dos moradores da cidade, ele deu a volta por cima e, em poucos meses, a produção já estava a todo vapor.
— (Esses brinquedos) representam minha vida, minha vontade de viver. Trabalhar com isso é uma satisfação. Enquanto eu puder vou continuar, devagarinho, (a força) vai diminuindo né? Mas eu nunca deixarei de fazer. Enquanto puder trabalhar com brinquedo, trabalharei.
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