Nicolas de Oliveira Kowaleski havia conhecido as demais vítimas havia cinco meses em Paracatu (MG) e foi convidado para trabalhar em Santa Catarina
Um adolescente esforçado, amoroso e que encarava com coragem suas metas pessoais. É a forma como Nicolas de Oliveira Kowaleski, 16 anos, é descrito pela mãe, Dalila Barbosa de Oliveira, 54 anos. O menino estava entre as quatro vítimas que morreram dentro de um automóvel BMW, em frente à rodoviária de Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina, na virada do ano.
— Meu menino era uma criança disciplinada e cheia de sonhos. Nossa família está desolada. Estamos vendo o que aconteceu como uma fatalidade, mas passam mil e uma coisas pela cabeça da gente quando o filho sai de casa para trabalhar em outro Estado e volta para casa dentro de um caixão. Estamos à espera de respostas — desabafa Dalila.
O fato ocorrido no dia 1º comove o Brasil. A história contada até o momento descreve a tragédia de quatro jovens, que deixaram o Interior de Minas Gerais para empreender em Florianópolis. Festejaram o Réveillon em Balneário Camboriú. Estacionaram o automóvel no qual se deslocavam para esperar uma amiga e encontraram desfecho fatal durante esta espera, sem perceber que perdiam a vida por decorrência da suposta intoxicação por monóxido de carbono.
— Eu não queria que ele fosse embora de casa. Mas ele insistiu, tinha o pensamento de que era uma oportunidade. Que iria mesmo contra a minha vontade. Partiu no dia 23 de dezembro. Mandou mensagem de Feliz Natal. Escreveu pela última vez na noite da virada para deseja feliz Ano-Novo e dizer que estava bem — lembra Dalila.
Segundo a mãe, que trabalha em Paracatu (MG) como faxineira para sustentar outros cinco filho que moram com ela, as últimas palavras escritas por Nicolas em texto enviado por WhatsApp cristalizam o carinho que o menino mantinha por sua família.
— Ele escreveu “mãe, eu te amo”.
Dalila Barbosa de Oliveira afirma com voz trêmula de emoção que sente orgulho pelo empenho de Nicolas. Diz entender que sua origem é humilde e conta que o menino ajudava, desde os 12 anos de idade, nos serviços que realiza.
— A gente fazia faxinas e limpava pátios de casas, roçava em sítios na cidade. Ele tinha 12 anos e já trabalhava comigo. O Nicolas tinha empenho e responsabilidade no que fazia. Ele era gordinho quando criança e se dedicou ao esporte na adolescência para emagrecer. Meu filho levava a sério seus objetivos — pontua.
A mãe de Nicolas relata que o filho havia conhecido o os jovens que morreram ao seu lado havia cerca de cinco meses.
O adolescente foi apresentado por uma de suas irmãs a Karla Aparecida dos Santos (as demais vítimas são Tiago de Lima Ribeiro e Gustavo Pereira Silveira Elias), que o convidou para trabalhar no futuro empreendimento em marketing digital.
— Meu filho via como uma oportunidade. Desde que conheceu os outros meninos, viajou por várias cidades, ficou hospedado em lugares chiques, mandava fotos animado com isso. Eu nunca me senti à vontade. Jamais quis que meu menino saísse de casa — reforça a mãe.
As circunstâncias da morte dos quatro jovens mineiros estão sendo investigadas pela Divisão de Investigação Criminal da Polícia Civil de Santa Catarina, sob responsabilidade do delegado Vicente Soares. A hipótese preliminar é a de que tenha ocorrido o vazamento de gases tóxicos do motor para o interior do automóvel através do sistema de ar-condicionado.
À polícia, em depoimento, familiares de parte das vítimas declararam que o veículo passou por customização no escapamento, o que pode ter interferido no sistema de exaustão de elementos tóxicos produzidos pela queima de combustível no motor.
Durante a espera pela namorada de Gustavo, que viajou de Minas Gerais a Santa Catarina para juntar-se o grupo, as quatro vítimas teriam permanecido dentro do carro com vidros fechados e ar-condicionado ativado. Ainda não há informação clara sobre o tempo de exposição. Laudos periciais são aguardados pelos investigadores.