No último domingo (28), Antony Miguel Fagundes Foss morreu após a mãe esperar dois dias por transferência
Em 20 dias, dois bebês morreram por falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal em Três Passos, no noroeste do Estado. Em ambos os casos, os bebês nasceram com insuficiência respiratória e precisavam da disponibilidade do leito.
No primeiro episódio, em 8 de janeiro, Laís Valentina de Moura Rodrigues não resistiu após aguardar 12 horas por uma transferência. No domingo (28), a espera foi da família de Antony Miguel Fagundes Foss, que morreu com duas horas de vida. A mãe dele, Jéssica Fagundes dos Santos, passou dois dias aguardando a transferência para um hospital com suporte de UTI neonatal, pois havia risco do bebê nascer prematuro.
Jéssica internou em emergência obstétrica na sexta-feira (26), com seis meses de gestação. A família aguardou pelo leito até domingo, que ficou disponível em Santo Ângelo. A transferência foi feita no fim de semana. Ao chegar no hospital, o parto foi realizado, mas o quadro se agravou e Antony morreu duas horas depois.
— Não consegui segurar o meu bebê e ele acabou nascendo. Mas por tanta demora, acabou falecendo. É bem triste, dói. Essa espera causou riscos tanto para mim quanto para ele, pois quase que eu perco a minha vida também. A cirurgia foi bem complicada, eles tentaram salvar os dois, mas ele não resistiu — relata a mãe de Antony.
Nesta quarta-feira (31), a espera por uma vaga de UTI se repetiu em Três Passos. Outra gestante esperou por três dias até a liberação de um leito em Passo Fundo. Com gravidez de risco, a paciente está na 26ª semana e demandava o leito por conta do risco do bebê nascer prematuro. A Justiça determinou que o Estado conseguisse o leito em até 12h. Passado o prazo, o leito foi disponibilizado em Passo Fundo e a paciente foi transferida durante a tarde.
Sobre a demora para transferência e disponibilidade de vagas, a Secretaria Estadual de Saúde informou que os pacientes que “necessitam de atendimento especializado são regulados conforme avaliação técnica de profissionais de saúde do município de origem e da Central de Regulação. É esta avaliação que determina as prioridades e o momento adequado e seguro para a realização de procedimentos e transferência de pacientes”.
Para o presidente da Associação Pró-UTI Neonatal e Pediátrica do Rio Grande do Sul, Clayton Braga Corrêa, o número de leitos existentes nos hospitais do RS é insuficiente: são 370 vagas de UTI neonatal no Estado, enquanto a média de nascimentos por mês é de 10,2 mil.
— Alertamos esse problema diariamente. Só em Três Passos, foram dois óbitos em 20 dias. Ficamos tristes e revoltados porque a situação do Estado não é fácil, chamamos atenção para o número de óbitos e falta de leitos de UTI. E buscamos por mais investimentos na área infantil, por parte dos municípios e do Estado — aponta.
Segundo o Sindicado Médico do RS (Simers), a falta de leitos e pediatras se tornou um problema tanto no interior quanto na Capital e Região Metropolitana. Um levantamento do sindicato aponta que 130 cidades estão sem pediatras e mais de 30 maternidades foram fechadas nos últimos cinco anos no estado. De 2019 para cá, a redução nas vagas em UTIs neonatais foi de 16%.
— Precisamos de políticas públicas para aumentar o número de leitos em UTI pediátrica para que, no inverno gaúcho, que provavelmente será rigoroso, tenhamos leitos de internação suficientes para essas crianças no momento em que estão mais suscetíveis — afirmou o coordenador do Núcleo de Pediatria do Simers, Daniel Sauer Wolff.
Sobre um possível aumento do número de UTIs neonatais no Estado, a secretária de Saúde Arita Bergmann afirmou em entrevista à RBS TV que, em média, os leitos atendem à demanda. A recomendação é de que as gestantes façam o exame pré-natal e estejam conectadas a rede de saúde para diminuir os riscos para os bebês.
— Tem situações em que em dado momento aumenta o número de necessidade de leitos, mas a regulação estadual faz a classificação e o leito será disponibilizado em algum lugar do Estado. Talvez o número não nos dê tanta segurança, mas estamos atentos. O governo do Estado tem o Programa Avançar e, inclusive, colocou recursos para ampliar leitos de UTI nesta área — pontuou.