Causa do óbito de Zilda Correa Bittencourt, 58 anos, será apontada pelo laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP), mas suspeita é de que vítima tenha sido espancada
Um dos presos por suspeita de envolvimento na morte de Zilda Correa Bittencourt, 58 anos, em Formigueiro, na região central do Estado, no último fim de semana, admite ter realizado um ritual com a vítima, mas alega inocência. Francisco Guedes, 65 anos, foi detido no domingo (11), após ter prisão preventiva decretada pela Justiça. Ele é apontado como líder de um centro religioso na localidade de Passo do Maia.
Além de Guedes, foram presos Jubal dos Santos Brum, 67 anos, e os filhos Nayana Rodrigues Brum, 33, e Larry Chaves Brum, 23.
Segundo a Polícia Civil, a suspeita é de que Zilda tenha sido espancada durante o suposto ritual, que teria sido realizado porque a vítima acreditava estar sendo atormentada por uma entidade maligna. Zilda foi levada ao hospital já desacordada, onde foi constatada a morte no início da madrugada do último sábado (10).
A equipe médica identificou marcas de violência física, segundo a polícia. A causa da morte, no entanto, deverá ser apontada pelo laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
Responsável pela defesa de Guedes, o criminalista Ariel Cardoso sustenta que o caso é recente.
— Os fatos são de três dias atrás, o inquérito policial ainda não terminou. Não há um relatório final do inquérito policial dizendo quais pessoas seriam indiciadas. Tampouco há um laudo conclusivo sobre a causa da morte. Ainda pairam muitas dúvidas. Todas as explicações serão dadas dentro do processo. Como defesa, acreditamos na inocência do Francisco. Mas, mais do que isso, precisamos dizer que há uma acusação onde paira muita nebulosidade, por ser midiática — afirma.
Segundo o advogado, o cliente é aposentado e realizava atendimentos sem cobrar pelo serviço. No caso de Zilda, conforme a polícia, não chegou a ser realizado pagamento antecipado pelo trabalho. Antes de residir em Formigueiro, Guedes teria trabalhado como palhaço em circos. No município, teria sido acolhido pela família de Jubal, e passou a fazer os atendimentos. O advogado nega que a vítima tenha sido amarrada numa cruz durante o ato.
— O que ocorreu, na verdade, foi um ritual, como qualquer outro, dentro de tantas casas de religião. Ninguém esperou, quis, ou mesmo assumiu o risco de produzir o resultado. Infelizmente, quando acontece uma fatalidade dentro de uma casa religiosa, dentro de um rito religioso, que não é hegemonia, pessoas são, se pode assim dizer, “crucificadas”, e sofrem uma acusação midiática. O Francisco (Guedes) não ganha um único real por fazer os trabalhos religiosos. Mas faz porque acredita. E, tampouco, queria que isso acontecesse. Nós acreditamos que vamos conseguir a liberdade dele e que vai conseguir comprovar sua inocência — diz Cardoso.
Questionado sobre as agressões, o criminalista afirma que ainda não há laudo pericial indicando que esta foi a causa da morte.
Segundo a Polícia Civil, a suspeita, com base nos depoimentos colhidos dos familiares de Zilda, que acompanharam o suposto ritual, e nas marcas de violência identificadas pela equipe médica, é de que a mulher tenha sido espancada.
A vítima era moradora de Restinga Seca, município a cerca de 30 quilômetros de Formigueiro. A família viajou até a cidade para que Zilda participasse da sessão. O marido e o filho da vítima relataram à polícia que a mulher teria buscado o local para se submeter ao ritual para se libertar de um espírito.
Os quatro presos, segundo a polícia, teriam participado do ritual e das agressões. Na sexta-feira pela manhã, o líder do centro religioso e Jubal dos Santos Brum teriam realizado um primeiro trabalho espiritual para Zilda e orientado à mulher a retornar no fim da tarde. A vítima voltou ao centro religioso para se submeter ao trabalho espiritual.
Durante o suposto ritual, Zilda teria ido duas vezes ao Cemitério da Colônia Antão Faria naquela noite. Na primeira vez, segundo a polícia, ela teria sido agredida inicialmente e depois levada ao cemitério para dar seguimento ao ritual. Na sequência, todos teriam retornado ao centro religioso, onde a mulher teria sido espancada novamente.
Mais tarde, regressaram ao cemitério, onde, segundo a polícia, a mulher foi amarrada numa cruz. Ali, ela teria perdido a consciência, e foi levada então para o hospital, onde foi constatado que já estava sem vida.
O marido e o filho da vítima, que acompanharam a sessão, afirmaram que os envolvidos no ato alegaram que as agressões faziam parte do ritual para retirar a entidade maligna do corpo da vítima, e que as marcas desapareceriam assim que fosse finalizado o ato. Eles teriam acreditado, segundo esse relato, que as agressões seriam contra o espírito e não contra a mulher. Neste momento, a polícia trata os dois como testemunhas, no entanto, a conduta deles é apurada pela investigação.
Os presos são investigados por homicídio e possível tortura.
As advogadas Márcia Pereira da Silva, Liégy Pereira da Silva Meneghetti e Ediani da Silva Ritter representam Jubal e os filhos Nayana e Larry, também presos por suspeita de envolvimento no crime. Confira a nota da defesa:
“É com profunda seriedade e comprometimento com a justiça que vimos a público comunicar nossa posição em relação ao recente caso envolvendo nossos clientes. Após diligente análise e escuta atenta dos relatos dos envolvidos, decidimos, de maneira consciente, assumir a defesa de apenas três dos quatro indiciados, Jubal dos Santos Brum, Nayana Rodrigues Brum e Larry Chaves Brum. Nossa escolha recai sobre aqueles em quem depositamos nossa confiança na inocência diante das circunstâncias apresentadas.
Cumpre ressaltar que, dada a fase inicial das investigações, reconhecemos a possibilidade da existência de outros envolvidos a serem indiciados no curso do processo. Reiteramos, de forma inabalável, o compromisso de nossos clientes em colaborar plenamente com as autoridades judiciárias. Estamos unidas em prol da transparência e imparcialidade do processo legal, na busca incansável pela verdade e pela justiça.”