João Alexandre Gonçalves de Morais, 29 anos, aguardava por socorro sobre o telhado quando a casa desabou
Foi encontrado, na sexta-feira (31), o corpo do homem que caiu na água durante uma tentativa de resgate em Cruzeiro do Sul, município varrido pela enchente do Rio Taquari no início de maio. João Alexandre Gonçalves de Morais, 29 anos, estava no telhado da casa da tia quando o imóvel desabou, no momento em que um socorrista descia pela corda de um helicóptero
Segundo a família, o corpo de João Alexandre foi localizado na cidade vizinha de Estrela. Nesta segunda-feira (3), o nome dele ainda constava na lista de desaparecidos em razão do desastre, fornecida pelo governo do Estado
A queda ocorreu no dia 2 de maio e foi registrada em vídeo por vizinhos, que ajudavam a indicar onde havia pessoas isoladas em razão da cheia. O caso foi mostrado, no domingo (2), pelo Fantástico, da TV Globo.
Como sabia nadar, João deu prioridade para o resgate de Fabiano, que também estava sobre o telhado da casa da tia. Fabiano foi socorrido e já está bem.
A atualização mais recente da Defesa Civil do Rio Grande do Sul afirma que 172 pessoas morreram em razão dos temporais e cheias. Outras 42 pessoas estão desaparecidas.
Além disso, o Estado registra 806 pessoas feridas e cerca de 616 mil pessoas fora de casa, somando quem está em abrigos e quem está desalojado, ou seja, está na casa de parentes ou amigos. A cheia afetou 2,3 milhões de pessoas em todo o Estado, com impactos em 475 dos 497 municípios gaúchos.
João morava no bairro Passo de Estrela havia um ano e meio. A localidade foi devastada pela enchente do Rio Taquari. Das 850 casas que faziam parte do bairro, 650 foram totalmente destruídas pela enchente em Cruzeiro do Sul, município de 13 mil habitantes.
A localidade fica em uma “curva” do rio. Com a enxurrada, a correnteza passou “reto”, atropelando tudo que estava pela frente. Com 13 metros de profundidade em dias normais, o Taquari ultrapassou os 33 metros na cheia.
— O rio começa a estreitar. Esse afunilamento, que sai de 350 metros (de largura entre uma margem e outra), vem para um estreitamento de, aproximadamente, 175 metros — explica a engenheira ambiental Sofia Royer Moraes.
O estreitamento, o ingresso das águas do Arroio Estrela e um paredão de pedras formado em uma das margens levaram a água, em nível mais alto, para o Passo de Estrela.
A força da água também destruiu a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Cruzeiro do Sul. A torre do templo, com uma imagem da santa no topo, era vista do outro lado do Rio Taquari, em Estrela.
— No fundo tinha uma igreja. A coisa mais linda. Dava para ver atrás das árvores a ponta da igreja. E a igreja foi — diz a empresária Bárbara Becker, que filmou a enchente.
Em poucas horas, a água invadiu a região, e a igreja desabou. A imagem da santa foi reerguida em uma cerimônia simbólica.
— Nós podemos ver que tudo aquilo que é material, tudo aquilo que é físico, foi embora. Mas, se nós temos fé, se nós cremos, nós vamos conseguir ter um olhar para além de tudo isso aqui. E vamos reconstruir. Claro, não aqui no Passo de Estrela, mas em outro lugar, em segurança — diz o padre Ezequiel Perim.
A prefeitura de Cruzeiro do Sul confirma o interesse em transformar o Passo de Estrela em um parque com o memorial de Nossa Senhora de Fátima. No entanto, a decisão ainda está sendo estudada. Por enquanto, qualquer construção está proibida no local.