Terreno público foi concedido à Associação dos Amigos da Criança Autista (Auma); agora, entidade arrecada recursos para construção
Foram 24 anos de reivindicações da Associação dos Amigos da Criança Autista (Auma), de Passo Fundo, no norte do RS, até realizar o sonho da sede própria. No último dia 6, a Câmara de Vereadores aprovou por unanimidade a concessão de um terreno público para a construção do espaço, que deverá ser referência no atendimento a cerca de 600 pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no município, conforme estimativa da Auma.
De autoria do Executivo, o projeto de lei nº 142/2023 prevê que a sede seja erguida no Núcleo Habitacional Luiz Secchi, no bairro Cohab II, próximo à Escola de Autistas, inaugurada em 2022.
A verba inicial para a obra vem do Ministério Público do Trabalho (MPT), que destinou R$ 442,8 mil à associação. O recurso vem da arrecadação de multas trabalhistas, mas não é suficiente para concluir a construção. Por isso, a associação se mobiliza para reunir mais recursos.
— Em outubro, teremos um almoço no CTG Eduardo Muller para juntar mais renda para a construção da sede. Além disso, a gente também vende camisetas, faz rifas e busca doações em empresas. Agora, estamos na fase de orçamento e buscando parceiros — disse o presidente da entidade, Emerson Drebes.
A expectativa é que a sede se torne um local de encontros mensais para autistas e familiares, além de um centro de referência para essa população.
Quando concluído, o projeto deve contar com quatro salas de atendimento, que serão feitos por meio da Auma e da secretaria municipal de saúde, em parceria com profissionais especializados. O objetivo é proporcionar a cada autista ao menos uma terapia semanal gratuita.
Mãe de um autista, a vice-presidente da associação, Saula Younes, comemorou a possibilidade de um novo espaço. Segundo ela, é a primeira vez que seu filho de 26 anos poderá usufruir de espaços inclusivos, resultado de reivindicações históricas dos familiares de autistas em Passo Fundo.
— Quando meu filho era pequeno, não tinha essas opções, por isso nós buscamos tanto a escola [de autistas]. É muito difícil fazer as terapias necessárias, porque têm alto custo e muitas famílias não têm condições. Essa sede é uma conquista de 24 anos e é uma satisfação ver que meu filho poderá ser bem atendido — afirmou.
A realização de Saula também tem a ver com o fato de que a nova sede se tornará um local para acompanhar autistas de todas as idades, desde a infância até a idade adulta, uma vez que o diagnóstico pode progredir se não houver tratamento constante.
A associação oferece carteirinha gratuita às famílias de autistas, sem cobrança de mensalidade e com benefícios, como convênios com clínicas médicas e escritórios de advocacia, além de gratuidade ou preços acessíveis em aulas de musicoterapia, arteterapia e fonoaudiologia.
Esse documento é essencial para contabilizar e dar clareza sobre o número de autistas na cidade — um número ainda subnotificado. Segundo Younes, só a Auma reúne mais de 300 associados. Mas a estimativa é que o município tenha pelo menos o dobro de pessoas com o transtorno que não estão cadastrados.
— Ainda temos aqueles autistas que não estudam, seja pela idade ou por não conseguirem ser incluídos em razão do grau do TEA. Uma pesquisa de prevalência do autismo dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos estima que, em 2023, uma em cada 36 crianças de até oito anos seja autista no país. Isso mostra que há um aumento significativo dos diagnósticos, seja pelos nascimentos ou pelo aprimoramento dos profissionais da saúde — detalha.
Famílias que tiverem interesse em integrar na Auma podem entrar em contato por meio do WhatsApp (54) 99658-1732 ou pela página do Facebook. Empresas e pessoas interessadas em auxiliar com doações para a construção da sede também podem contatá-los nesses serviços.
Saula é mãe de Vinicius, de 26 anos
Saula Younes / Arquivo pessoal