Governo de Santa Catarina diz que a chuva esperada para a estação pode piorar a qualidade da água
A balneabilidade e o aumento de casos de diarreia são dois assuntos que devem estar no radar de quem planeja visitar Santa Catarina no verão. Autoridades do Estado vizinho afirmam que a chuva acima da média esperada para a estação poderá prejudicar a qualidade da água das praias. Já a manipulação incorreta de alimentos e a maior circulação de vírus do trato gastrintestinal humano pode causar aumento de casos de doenças diarreicas agudas (DDA), a exemplo do que ocorreu no verão passado.
O mais recente relatório do Instituto do Meio Ambiente (IMA), divulgado em 21 de dezembro, indica que 164 dos 238 pontos monitorados no litoral catarinense estão próprios para banho, o equivalente a 68,9%; há, portanto, 74 locais (31,1%) impróprios para lazer.
— Esse não é um número que nos assombra no momento, mas foge um pouco do nosso “máximo” de impropriedade, que é de 30%: acima disso, é algo fora da curva. A chuva potencializou esse cenário porque a precipitação faz uma limpeza e leva as sujidades ao mar, onde ficam os pontos de coleta (das análises da água) — justifica Marlon Daniel da Silva, gerente de laboratório e medições ambientais do IMA.
Balneário Camboriú tem apenas quatro dos 15 pontos monitorados considerados próprios para banho; os outros (11) são classificados como impróprios. O município de Bombinhas tem um terço dos pontos analisados impróprios para banho. Isso representa 33,3% de poluição entre os locais sob monitoramento.
A qualidade da água no litoral poderá piorar caso a previsão do tempo para os próximos meses se confirme no Estado vizinho, acrescenta o representante do IMA:
— O que nos preocupa é que nós teremos um verão com possibilidade de muita chuva. Não sabemos onde vai ser essa precipitação, mas dever ser até abril, que pode potencializar a impropriedade.
Da Silva orienta que os frequentadores acessem o site do governo estadual para saber previamente a situação do ponto visitado.
— De maneira geral, temos tido uma certa rejeição dessas informações. Muitas pessoas desconsideram os avisos de balneabilidade que temos nas praias. Então mantemos o alerta para que o cidadão não se banhe em águas impróprias porque ali ele pode adquirir doenças — acrescenta.
GZH fez o levantamento da balneabilidade de pontos de Florianópolis, Palhoça, Garopaba, Itapema e Balneário Camboriú:
Santa Catarina registrou surtos de doenças diarreicas agudas (DDA) em diversos municípios do litoral no verão passado. O norovírus foi indicado como o motivador da maioria dos casos observados na capital Florianópolis.
As DDAs integram um grupo de doenças infecciosas gastrointestinais caracterizadas por uma síndrome, na qual ocorre a diminuição da consistência das fezes, o aumento do número de evacuações e, em alguns casos, presença de muco e sangue (disenteria). Veja no fim da reportagem mais informações sobre a condição e como se proteger.
— Não vimos um grande aumento no número de casos em dezembro como observamos no final do ano passado, mas seguimos com o monitoramento, entendendo que, infelizmente, o verão é um período no qual aumenta o risco desse tipo de doença — comenta Fábio Gaudenzi, infectologista e superintendente de vigilância em saúde de Santa Catarina.
O informe epidemiológico número 3/2023, divulgado no último dia 20, informa que 2023 foi quando ocorreram mais surtos de doenças de transmissão hídrica e alimentar (DTHA) desde 2018. Este ano teve 334 surtos contra 245 em 2022, o que representa aumento de 36,3% na comparação. Em dezembro de 2022, foram contabilizados 12 surtos; neste ano, até o dia 20, foram cinco.
— A temperatura alta favorece que bactérias se multipliquem com mais facilidade em alimentos que não foram adequadamente manipulados, fazendo com que fiquem impróprios para o consumo. Também temos, no verão, uma maior circulação de vírus entéricos, assim como temos no inverno maior ocorrência de doenças respiratórias — explica o infectologista.
O levantamento do governo de Santa Catarina define surto como a “ocorrência de dois casos de DDA ou mais, relacionados entre si, com histórico de exposição à mesma fonte ou de alteração do padrão epidemiológico (aumento de casos, ocorrência de casos graves, mudança de faixa etária e/ou sexo), considerando o monitoramento sistemático local”.
Gaudenzi diz que o aumento de casos registrados pelo governo catarinense é também consequência de investimentos na detecção dos surtos, o que inclui o treinamento de equipes para lidar com a condição, investimento para ampliar exames e sensibilização da rede de saúde para o monitoramento.
— Alguns municípios voltaram a notificar (os surtos) para o sistema nacional depois de anos sem fazer isso. Quando identificado, um surto precisa ser investigado, avaliado e ações de bloqueio podem ser necessárias, como autuar locais responsáveis por alimentos manipulados de maneira inadequada — pontua.
Diarreia é o sintoma mais comum, mas pode haver também dor no abdômen, náusea, vômito e febre.
Micro-organismos diversos. O mais comum é o norovírus, responsável por provocar mundialmente 685 milhões de casos por ano de gastrenterite aguda, dos quais 200 milhões em crianças.
Pelo consumo de água ou alimentos contaminados, por superfícies ou objetos compartilhados (como talheres e copos), ou também pelo contato direto com pessoas doentes, a partir de secreções corporais.
Entre 24 e 48 horas após a exposição. Os sintomas costumam durar em um e três dias.
É recomendado repouso e aumento da ingestão de líquidos para evitar a desidratação, principalmente em crianças e idosos. Em caso de sintomas mais graves, a orientação é procurar o médico.
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS)