Natural de Vera Cruz, no Vale do Rio Pardo, ele tinha 58 anos e estava com a esposa havia 40. O velório será realizado em sua cidade natal nesta segunda
Fascinado por aviação, trabalhador, responsável e sonhador inveterado, mas que sempre lutou para realizar as suas aspirações. Estas são algumas das principais características que definem Adriano Machado, 58 anos, que morreu em um acidente aéreo na região de Ouro Preto, em Minas Gerais, na última sexta-feira (11).
Natural de Vera Cruz, no Vale do Rio Pardo, Machado foi criado pelo pai, caminhoneiro, e pela mãe, dona de casa. Começou a trabalhar aos 14 anos na loja de bicicletas de uma tia, o que desde muito cedo lhe conferiu grande senso de responsabilidade e de respeito ao trabalho.
Ao lado da esposa, Juliane Thiel, também natural de Vera Cruz, ficou 40 dos seus 58 anos de vida. Começaram a namorar em 1984, quando ele tinha 18 anos e ela, 17. Noivaram em 1990 e casaram oficialmente em 2001.
Machado sempre foi apaixonado por aviões, masse tornar um piloto estava longe de sua realidade. Deixou a escola antes de concluir o Ensino Médio, por necessidade e vontade de trabalhar para ajudar a família.
Durante a vida, ele teve diversos empregos, exercendo diferentes ofícios. Trabalhou em agências bancárias, foi analista de sistemas de informática, sócio de um bar e representante comercial de uma empresa que vendia telhas.
Também foi motorista de caminhão, como o pai, e ao lado da esposa, formada em Agronomia, criou gado e plantou fumo, milho e arroz em uma propriedade da família. Mas sempre manteve o sonho de se tornar piloto de avião em seu horizonte.
— Ele sempre foi muito trabalhador, persistente e certo dos seus objetivos. Sonhava em ser piloto de avião, batalhou para realizar esse sonho e estava muito feliz com isso — ressalta Aurélio Lessing, 55 anos, primo de Machado.
Em 2007, aos 41 anos e com um pouco mais de recursos financeiros, ele finalmente conseguiu iniciar os estudos para se tornar piloto, no aeroclube de Santa Cruz do Sul, onde também atuaria como instrutor. Em 2008, comprou um ultraleve para reforçar a prática, mas após alguns meses, sofreu um acidente ao pousar, fraturando o queixo.
— Muitos teriam desistido para sempre de voar naquele momento, mas não o Adriano, que sempre foi persistente com o que queria realizar. Assim que teve alta, foi fazer um novo voo. Queria saber o que tinha dado errado antes e levar como aprendizado para continuar fazendo o que gostava — afirma Juliane.
Em 2012, Machado obteve o certificado para se tornar piloto agrícola, o que tinha se transformado em seu grande objetivo após iniciar os estudos aeronáuticos. Nos últimos 12 anos, chegou a ter uma pequena transportadora, mas logo vendeu os veículos para se dedicar somente à função que sempre fora o maior sonho.
Após atuar por sete anos em uma empresa de Dom Pedrito, Machado começou a trabalhar na Aeroterra Aviação Agrícola em 2022. Com sede na Bahia, a empresa levou o piloto gaúcho a trabalhar em todas as regiões do país.
Machado atuava principalmente durante os períodos de safra em grandes fazendas espalhadas pelo Brasil, o que fazia com que ele ficasse até quatro meses fora de casa antes de retornar a Vera Cruz, onde sempre manteve residência. Além disso, nos últimos dois anos, também teve experiência combatendo incêndios florestais, atividade largamente desempenhada por pilotos agrícolas no Brasil.
No momento do acidente fatal, porém, Machado não estava combatendo incêndios. Após duas semanas desempenhando a função em Minas Gerais, o piloto gaúcho estava realizando um voo de translado desde Ponte Nova (MG) para retornar uma aeronave até o aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte. Na próxima semana, retornaria para a sua casa em Vera Cruz.
— Estava com tempo bom em Ponte Nova e tempo bom em Belo Horizonte, porém, no meio do caminho, o tempo fechou e pegou o Adriano de surpresa, ao que tudo indica. Ele era muito experiente e certamente fez todo o possível para tentar pousar em segurança — afirma o amigo Leandro Rodrigues, também piloto e colega de empresa do gaúcho.
Ainda na sexta-feira, um helicóptero do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais com seis tripulantes que partiu para tentar se aproximar do local da queda do avião também acabou se acidentando, deixando outras seis vítimas fatais.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) informou que “investigadores do Terceiro Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA III), órgão regional do Cenipa, localizados no Rio de Janeiro (RJ), foram acionados para realizar a ação inicial das duas ocorrências envolvendo a aeronave de matrícula PR-EUA (dos CBM-MG) e a de matrícula PS-SLR, em Ouro Preto (MG)”. O centro informou ainda que as autoridades policiais assumiram o caso para dar continuidade aos trâmites processuais. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil, a situação da aeronave de Machado era considerada normal. O acidente será investigado pelos órgãos competentes.
O corpo do piloto gaúcho já deixou Belo Horizonte e deve chegar a Vera Cruz na manhã desta segunda-feira (14). A partir de então, será realizado o velório, ao longo de todo o dia. O único irmão de Machado, Wlamir, que mora atualmente em Natal (RN), e seus dois sobrinhos, que moram no Estado de São Paulo, estarão presentes.
— Estava esperando o Adriano voltar para casa na terça-feira, mas ele vai voltar um dia antes, só que dentro de um caixão. É muito triste, mas sou muito grata pelo tempo que passamos juntos. Foram 40 anos de amor, companheirismo e aprendizado — destaca Juliane.