O plano é dividir publicamente a autoridade política do clube com o presidente Alessandro Barcellos
A mudança na vice-presidência de futebol do Inter não foi apenas a troca de Felipe Becker por José Olavo Bisol. Mais do que nomes, o cargo, que costumava ser o segundo mais importante, em um clube, atrás apenas do presidente, voltará a ter protagonismo. E a substituição expõe também uma nova filosofia.
O novo vice terá participação maior não só nas decisões do futebol, mas também na comunicação. Ele participará ativamente das reuniões com os profissionais para definir todos os aspectos, como já vinha ocorrendo, mas partirá dele a publicização dos atos. Da logística à preparação, passando principalmente por contratações e vendas, Bisol terá influência.
O plano é dividir publicamente a autoridade política do clube com o presidente Alessandro Barcellos, com mais entrevistas, comunicados e presença. Prova disso é que a direção pretende fazer uma solenidade, com entrevista coletiva de apresentação na sexta-feira (9), do novo dirigente.
Essa alteração é importante porque, até agora, as decisões coloradas eram tomadas basicamente por Barcellos, por Becker e pelos demais profissionais, como o diretor de futebol Magrão, o diretor de base Jorge Andrade, o diretor jurídico Felipe Dallegrave e o gerente Ricardo Caco Sobrinho. Mas quem aparecia basicamente era o presidente. Eventualmente, Magrão somava-se. Agora, Bisol, conhecido pela facilidade de comunicação, dividirá os holofotes.
Ao ser convidado pelos integrantes do conselho de gestão para assumir a vice-presidência, Bisol adquiriu novos poderes. Internamente, é visto no clube como uma pessoa de muito conhecimento, bom trato e personalidade. Só deixou o cargo de diretor de futebol no final de 2023 porque integrava a chapa de Luciano Hocsman na Federação Gaúcha, o que incompatibilizava com o cargo. Ele se licenciou da FGF para assumir a pasta.
O novo dirigente se reuniu com os jogadores, conversou com Roger e passou por todos os setores. A partir de agora, definirá prioridades. A primeira é distensionar o ambiente. O Inter entende que já vive um novo momento desde a chegada da comissão técnica, mas falta uma vitória para mudar definitivamente o cenário.
Politicamente, há um desdobramento. Bisol, assim como Felipe Becker, é oriundo do movimento Convergência Colorada, um dos pilares da gestão Alessandro Barcellos, ao lado do Academia, do Povo do Clube e do I9. Desde a eleição, estava acordado que o Convergência assumiria a pasta do futebol. Becker saiu do Convergência após sair do cargo.
De perfil discreto, com experiência em futebol do Interior e figura conhecida do Inter, o ex-vice de futebol não tinha aspirações políticas no clube. Seu estilo boa praça, tranquilo e sem vaidade deveriam garantir tranquilidade ao trabalho de Eduardo Coudet e da direção.
Mas tudo mudou com as derrotas. As eliminações na Copa do Brasil e na Sul-Americana, somadas à queda no Gauchão, deixaram o ambiente mais carregado. E o protagonismo de Alessandro Barcellos, que era visto como algo positivo, virou o fio para “centralizador”.
— Fiz uma autocrítica e percebi que realmente me faltou essa comunicação. Participei de tudo, fui a todos os treinos, fiquei em Itu na volta das enchentes. É que o desgaste é muito grande. E percebi que sair faria bem ao clube. O Inter vem antes — disse Becker.
Na má fase, qualquer mudança é vista como uma possível solução. E aliviar o ambiente é uma das prioridades do Inter para sair da crise.