Dupla decidiu se matricular na instituição estadual da reserva para realizar sonho de alfabetização. Primeira conquista já veio, com a assinatura do próprio nome
Um casal de idosos que vive na Terra Indígena de Iraí, no norte gaúcho, mudou a rotina em casa para realizar o sonho de aprender a ler e escrever. Adelaide Campolim, 64 anos, e Avelino da Silva, 71, são aposentados e nunca frequentaram a escola — mas há cerca de um mês, viraram estudantes da Escola Estadual Indígena de Ensino Médio Nan Ga.
Eles estudam juntos na turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA), no turno da noite. Há poucos dias veio a primeira conquista, com a assinatura do nome, mas o sonho do casal é aprender a ler os cânticos de louvor na igreja da comunidade.
— Na infância minha mãe não deixava ir na escola, então estou faceira porque agora estou aprendendo um pouco. Sei que ainda falta muito, mas eles [os professores] ensinam bem — relatou a dona Adelaide.
A instituição atende a 298 alunos, sendo 80 no turno da noite. São recebidos estudantes do primeiro ano do Ensino Fundamental até a terceira série do Ensino Médio, em três turnos. De acordo com a vice-diretora da escola, Vanda Cristina Tonial, são poucos os moradores analfabetos na aldeia e o casal buscou se matricular por conta própria.
— Nosso maior desafio é que no primeiro ano os alunos são alfabetizados na sua língua materna, kaingang. No segundo (ano) é quando ensinamos a ler a escrever em português. Temos orgulho dos nossos estudantes, muitos saíram daqui e fizeram faculdade e hoje são professores, médicos, enfermeiros… é uma comunidade muito unida — diz a professora.
Além de frequentar a escola, Adelaide e Avelino também dedicam tempo para estudar em casa. Ir para a aula em dupla também é um incentivo e, para eles, a idade não é um obstáculo para a oportunidade de aprendizagem.
— Eu queria muito aprender a ler e escrever, porque desde pequeno eu não vou à escola. Agora, decidi que iria aprender, mesmo que devagar e não sendo mais jovem, aos poucos vou entendendo. A gente também pratica as letras em casa, para não esquecer — pontua Avelino, sorridente.