Fabiano Oliveira, 47 anos, era membro da equipe da Brigada Militar desde 1997 e morreu no hospital depois de uma bala de fuzil perfurar o colete que ele usava durante o tiroteio
O 2º sargento da Brigada Militar Fabiano Oliveira, 47 anos, foi cremado nesta quinta-feira (20), no Memorial Crematório São José, em Caxias do Sul. O policial morreu no hospital após ser atingido por um tiro de fuzil durante o assalto a um carro-forte na noite de quarta-feira (19), no Aeroporto Hugo Cantergiani. Antes da cremação, houve o velório na Capela Cristo Redentor e, por volta das 18h, uma homenagem foi feita, seguida do cortejo de cerca de 50 viaturas até o crematório.
Durante o velório, coroas de flores foram colocadas na entrada da sala onde familiares, amigos, policiais e companheiros de corporação se reuniram para a última despedida. Membro da equipe da Brigada Militar desde 1997, o militar seguiu a profissão da área da segurança pública conforme o pai, Odoni Oliveira, que foi bombeiro militar.
— Ele seguiu carreira porque meu pai era dos bombeiros. Meu irmão tinha dedicação total à profissão. Como diz o dilema da corporação, ele combateu o bom combate. Estava defendendo a sociedade e esse é um momento difícil para toda a nossa família, mas sabemos que estava exercendo a profissão dele, que tanto se dedicava. Estava fazendo aquilo que assumiu no dia do voto, de proteger a sociedade e, com certeza, fez o melhor papel. Nós estamos vendo as homenagens e ficamos lisonjeados por esse carinho e por saber que esse amor que ele compartilhou com o pai esteve na corporação — conta o irmão mais novo, Robson Oliveira.
Com três irmãos e amigos da vizinhança, o sargento cresceu brincando na rua e, em um dos momentos de jogar bola, foi “vítima” das outras crianças e acabou chutando uma bola cheia de pedras. Entre a diversão, pelo menos um dedo do pé acabou sendo ferido naquele dia.
— Ele brincava com o meu filho mais velho. Meu filho fazia a limpeza do pátio e ele dizia “ó, se não estiver tudo limpo, não tem futebol”, e daí os meninos iam limpar o pátio para jogar bola. Um dia, depois de uns anos, nos encontramos no 12ºBPM e ele estava dizendo que era um tempo bom. Agora, ontem à noite, nos deparamos com essa situação. É uma dor imensa, dói bastante. Vem todo aquele filme na cabeça, de quando era criança e brincava com os meus filhos — lamenta Ademir Antônio dos Santos, 2º sargento da reserva do Corpo de Bombeiros Militar, que trabalhou com o pai de Oliveira.
Durante as despedidas, outros bombeiros militares, que trabalharam com o pai do sargento, estiveram reunidos na Capela Cristo Redentor.
— A vontade de ser militar corre no sangue de quem nasceu para isso. É uma vocação que nasce com a pessoa e é eterna. E formamos muitas amizades dentro das corporações, amizades eternas que conseguimos na guarnição mesmo. Estamos aqui hoje em homenagem a essa amizade porque o pai dele trabalhou com nós, se aposentou e faleceu, e o Fabiano deu continuidade nesta vocação. Hoje nós estamos aqui em homenagem ao pai dele — conta Valdelirio Doebber, 2º sargento da reserva do Corpo de Bombeiros Militar.
Foram 12 anos de casamento entre o sargento e Eliane de Almeida Oliveira, 49 anos, celebrados no último dia 12 de junho. Fã de heavy metal e música clássica, Oliveira era torcedor apaixonado pelo Grêmio, mantinha a firmeza que a profissão exigia e guardava em si um coração disposto a ajudar quem precisasse.
— Ele nunca desistia de nada, era persistente, tinha muita garra, mas também tinha coisas que ninguém conseguia ver, chorão, emotivo e quem ajudava os outros pelo tamanho do coração que tinha. Não desistia nunca, tinha um coração enorme. Existiam problemas emocionais também, mas ele era uma pessoa culta, amava livros, era peculiar. Não tem ninguém parecido com o Fabiano — conta Eliane.
Estando doente ou com alguma condição de saúde, o sargento não faltava no trabalho. É lembrado como profissional que dedicou com fervor 27 anos de vida à Brigada Militar. Pai de dois filhos, Heitor, 15, e Tales, 20, de uma relação anterior, Oliveira gostava de passar o tempo livre em casa.
— Nós não tínhamos filhos nossos, tentamos e não conseguimos. Mas tínhamos gatos, que ele amava. Ele dormia com os gatos como se fossem filhos e era muito amoroso. Tinha momentos que era explosivo, mas acho que é um pouco da profissão que exige essa característica mais agressiva em certas situações. Mas também era puro amor. Eu não acredito ainda que isso está acontecendo, penso que ele vai abrir os olhos e vai voltar. Eu não consigo ir em frente, sei que vou precisar ir, mas agora eu não consigo ir em frente sem ele — diz a esposa.
Fabiano Oliveira morreu no hospital após ser atingido por um tiro de fuzil durante o assalto a um carro-forte na noite de quarta-feira (19), no Aeroporto Hugo Cantergiani. Segundo a Brigada Militar, durante uma troca de tiros entre os criminosos e a polícia, um tiro atingiu o policial e atravessou o colete de proteção balística que ele usava.