Estado tem ainda 44 pessoas que sumiram em meio à calamidade que atinge a maior parte dos municípios gaúchos. Em Porto Alegre, casos são apurados pela Delegacia de Investigação de Pessoas Desaparecidas (DPID)
Morador do Rio de Janeiro, Milton Araújo, 41 anos, buscou a Delegacia Online da Polícia Civil do Rio Grande do Sul para registrar o desaparecimento da mãe, em Porto Alegre. Mônica Pereira, 66 anos – que está em tratamento médico por sofrer com apagões de memória – foi localizada pela equipe da Delegacia de Investigação de Pessoas Desaparecidas (DPID) num abrigo da Capital.
A história de mãe e filho é uma das que chegou até a polícia durante a enchente que atinge a maior parte dos municípios gaúchos. Nesse período, 423 registros de desaparecimentos foram realizados no Estado. Desses casos, 231 tiveram desfecho semelhante ao de Mônica, e a pessoa foi localizada com vida – em 148 foi descoberta a morte.
O Rio Grande do Sul ainda tem, segundo dados de sexta-feira (31), 44 desaparecidos, ou seja, 10,4% dos casos comunicados. Na Capital, onde a idosa sumiu, o percentual de localizações é mais alto: 95,5%. Dos 45 registros, somente dois seguem sem resposta.
Um dos desafios, desde o início, foi incentivar as pessoas a registrarem o desaparecimento, para que os dados não fossem subnotificados. Em meio aos problemas de comunicação, gerados pela falta de energia elétrica e internet, além dos registros pela internet e nas delegacias, o 0800 também se tornou um canal para recebimento de casos de desaparecidos. Era pelo telefone que muitas pessoas entravam em contato para comunicar o sumiço de um parente ou mesmo buscar orientação sobre como proceder.
— Reforçamos a comunicação e o pedido para que se fizesse o registro, que é o gatilho da investigação. Existe uma ideia de que há um prazo mínimo para registrar. Mas não há. Isso foi fundamental na enchente. O registro rápido aumenta a nossa capacidade de encontro. Muitas pessoas estavam em abrigos, hospitais, locais de acolhimento, sem contato com a famílias. Outras, infelizmente, tinham falecido. Nosso objetivo é entregar as pessoas para seus familiares — afirma o o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Mario Souza.
Logo no início das inundações, quando as cidades eram tomadas pelas águas no Interior e em seguida na Região Metropolitana, foi adotada estratégia pela polícia para fazer frente aos casos de sumiços. A capacidade de investigação da delegacia especializada em apurar desaparecimentos em Porto Alegre foi ampliada. A unidade, que contava com um delegado titular, recebeu outros três — cada um passando a chefiar uma equipe.
— A previsão que tínhamos poderia levar a uma chance de números preocupantes, com muitas pessoas desaparecidas. Porto Alegre, além de ser a maior cidade, ainda teve grandes áreas atingidas. No caso de Eldorado do Sul, havia expectativa de que muitos casos poderiam também ser registrados aqui — explica Souza.
Na Região Metropolitana, as delegacias também receberam reforços, especialmente em Canoas e São Leopoldo, por estarem entre as mais atingidas. O Gabinete de Inteligência da Polícia Civil passou a prestar apoio, especialmente na produção das listas que são organizadas diariamente com o controle dos desaparecidos e divulgadas pela Defesa Civil. Os policiais utilizam essa listagem de nomes como base para as investigações.
— Muitas pessoas eram de uma cidade, mas desapareceram em outra. Foi muito necessária a comunicação entre as delegacias do departamento. Às vezes a pessoa é de Porto Alegre, mas está num abrigo em Canoas, ou vice-versa. Os servidores da DPID estão circulando na Capital e Região Metropolitana — detalha Souza.
Uma das medidas adotadas pela DPID após receber o registro é o contato com quem registrou o desaparecimento para verificar se a pessoa continua sumida. Depois disso, a polícia dá início a outras medidas, como buscas em endereços, verificação em hospitais, abrigos, bancos, sistemas de transporte, buscas em ruas e comércios, e videomonitoramento, entre outras.
A dificuldade de comunicação também exigiu que os policiais intensificassem as buscas nas ruas, para tentar desvendar o paradeiro dos desaparecidos. No caso de Milton, que procurava pela mãe, ela foi localizada num abrigo de Porto Alegre, no qual a idosa havia sido acolhida.
— Quando a gente vai na delegacia, faz o registro, imagina que vai embora e aquele documento vai ser engavetado e ninguém vai fazer nada. Quando abre a ocorrência pela internet, nunca imagina que vai acontecer de achar. Nunca imaginei que fossem correr atrás e eles conseguiram. Não só acharam ela, como em tempo recorde. É fantástico — comemora o filho.
Após ser encontrada, a idosa retornou ao Rio de Janeiro num voo da Força Aérea Brasileira (FAB) e está vivendo com o filho.
No RS
Em Porto Alegre
* não representa o total de mortes no Estado, e sim daqueles que estavam desaparecidos
Fonte: Polícia Civil – RS
Outras instituições estão envolvidas na tentativa de localizar os desaparecidos no RS. O Corpo de Bombeiros, que realiza buscas, inclusive com auxílio de cães farejadores, conta com apoio de equipe de ao menos outros sete Estados. A mobilização para encontrar pessoas desaparecidas em regiões afetadas por deslizamentos, segundo a corporação, conta com 12 binômios (dupla formada pelos bombeiros e cães). As operações são realizadas ainda por duplas de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Espírito Santo e Amapá.
O Instituto-Geral de Perícias também tem atuado na tentativa de identificação e encontro de desaparecidos. Uma das estratégias é a coleta de material genético de familiares, para uma eventual comparação de DNA. É possível entrar em contato pelo telefone 51-986829207. Este número é exclusivo para familiares de desaparecidos.
— O IGP está trabalhando 24 horas, em busca de pessoas desaparecidas nas enchentes. Além disso, estamos realizando entrevistas com os familiares para estabelecer um perfil do desaparecido, agilizando a identificação de vítimas. Entrevistas e coletas de material estão sendo feitas em diversas localidades — afirma a diretora do IGP, Marguet Mittmann.
Após o registro da ocorrência, o familiar deve procurar o IGP para realizar a coleta de DNA e fornecer as informações. É recomendado levar documentos do desaparecido, fotografias, prontuários odontológicos, médico hospitalares e exames de imagem, caso possua. Preferencialmente devem comparecer à coleta, filhos, mãe ou pai da pessoa desaparecida.
DML
Cremers
Posto Médico Legal
* Para coletas em outros locais, vá ao Posto Médico Legal mais próximo
Em desaparecimentos
Se forem crianças ou adolescentes