Iniciativa conta com cerca de 30 mulheres e envia as doações a abrigos
Desde que a água da chuva causou transtornos nos municípios do Rio Grande do Sul temos a certeza de que esse evento climático entrará para história. Já entrou, na verdade. Mas, além dos estragos, o que também será lembrado é a solidariedade que o povo tem demonstrado, especialmente os próprios gaúchos.
Muitas iniciativas foram desenvolvidas para ajudar as vítimas. Uma delas é a do Assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Filhos de Sepé, de Viamão, na Região Metropolitana, que há uma semana está produzindo calcinhas para as mulheres que estão em abrigos. Segundo a médica veterinária Roseli Canzarolli, uma das coordenadoras da produção, a ideia surgiu a partir da necessidade:
– Iniciamos fazendo as calcinhas porque nossas companheiras do assentamento de Eldorado do Sul, que foi todo alagado, não estavam recebendo esse tipo de doação.
A partir daí, a produção ganhou corpo. O que no começo contava com poucas mãos – mas muito habilidosas, diga-se de passagem –, passou a ter cada vez mais.
– As pessoas ficaram sabendo e agora elas vêm com a máquina nos braços, prontas para ajudar. Quem não tem máquina, vem com tecido, algum lanchinho para as mulheres que estão produzindo, etc – ressalta Roseli.
As mulheres que produzem as peças íntimas têm ajudado na ação no contraturno de seus empregos. O local é improvisado, mas isso não é sinônimo de desorganização. São cerca de 30 mulheres, divididas em uma “escala” e em “setores”. E os produtos passam até por uma espécie de controle de qualidade, segundo Roseli.
– A produção é feita na garagem da minha casa. Quem não está trabalhando com as máquinas, está fazendo os cortes dos tecidos, os moldes, incluindo os lacinhos, embalando, e assim vai – garante a professora e também coordenadora do projeto, Marli Zimermann de Moraes.
O cuidado com o produto final é incomparável. Marli conta que no início, por ter pouca gente com experiência nesse tipo de produção, foram feitas algumas que não agradaram muito as próprias produtoras:
– A gente se perguntava: “Tá, mas nós usaríamos essa calcinha?”. Fizemos tudo com muito cuidado. Tinha que ser algo bonito e que também fosse confortável, para quem receber sentir esse afeto.
Nos finais de semana, a mulherada faz uma força tarefa e passa o dia trabalhando. O último domingo (19) foi um exemplo, data em que foram produzidas mais de 60 calcinhas alternadas em tamanhos e modelos.
A professora conta que as peças não ficam paradas por muito tempo esperando uma dona. Após uma certa quantia, as roupas íntimas já são destinadas aos abrigos que entraram em contato e solicitaram a doação.
Além de suprir uma necessidade, a ação acaba fazendo bem para quem produz as calcinhas. Nas duas primeiras semanas, Roseli esteve à frente dos resgates de animais em Canoas e, agora, comanda a iniciativa.
– Foram dias realmente muito difíceis – conta, emocionada, a médica veterinária, que complementa:
– É difícil falar de felicidade em um momento como esse, mas o sentimento de poder ajudar é muito gostoso.