Isis Garcia Coutinho tinha quadro grave e esperava por uma vaga desde a manhã de terça-feira (21)
Uma bebê de um ano e um mês morreu enquanto esperava por um leito de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) pediátrica na manhã desta quarta-feira (22), em Frederico Westphalen, no norte gaúcho. A criança estava no Hospital Divina Providência e aguardava por uma vaga desde às 9h de terça-feira (21). O caso já é o segundo em pouco mais de um mês na unidade.
Isis Garcia Coutinho entrou no hospital com diagnóstico de bronquiolite, conforme prontuário médico ao qual GZH Passo Fundo teve acesso. A bebê apresentava quadro grave com baixa saturação de oxigênio, além de usar marca-passo por já ser portadora de uma cardiopatia.
No documento consta que a unidade solicitou vaga na UTI pediátrica do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), em Passo Fundo, e que houve tentativa de remanejo, mas não havia leitos vagos.
Às 18h30min de terça-feira, uma decisão do Tribunal de Justiça do RS, por meio da 1ª Vara Cível de Frederico Westphalen, determinou que o Estado disponibilizasse em até seis horas o transporte em UTI móvel, leito hospitalar e internação para a paciente, mas a decisão não foi cumprida no tempo determinado.
De acordo com a administração do Hospital Divina Providência, responsável pela solicitação de leito de UTI junto ao Sistema de Gerenciamento de Internações do Estado (Gerint), o pedido foi feito assim que a condição da paciente foi analisada. Conforme o posicionamento, a equipe fez contato telefônico com hospitais de referência pediátrica na região para agilizar o processo, mas não teriam leitos disponíveis.
Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (SES), cada óbito é uma situação diferente e o caso será investigado. No Rio Grande do Sul, todas as mortes de crianças menores de 5 anos de idade passam por investigação obrigatória. Quem realiza o trâmite são profissionais da saúde responsáveis por essa vigilância a nível municipal e estadual. O objetivo é identificar os fatores para a morte e subsidiar a adoção de medidas para prevenir novas ocorrências, informou a SES.
A reportagem buscou o posicionamento do HSVP, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.
No começo de abril, um bebê prematuro morreu enquanto esperava por leito de UTI neonatal do Hospital Divina Providência, de Frederico Westphalen.
Anthony de Lima Almeida nasceu às 16h24min de 6 de abril, com 32 semanas de gestação. Por causa de complicações, ele precisava de um leito em UTI neonatal e transferência para outra cidade, uma vez que Frederico Westphalen não oferece esse atendimento. Mãe e recém-nascido demoraram nove horas para receber atendimento e a criança morreu no começo da madrugada antes de conseguir vaga nos hospitais da região.
O sistema da SES aponta que Frederico Westphalen tem os hospitais de Passo Fundo e Erechim como referência para atendimentos de UTI neonatal. São mais de 190 quilômetros até Passo Fundo e pelo menos 148km até Erechim, viagens que levam em média duas horas.
A 81 quilômetros de Frederico Westphalen fica Três Passos, registrou duas mortes de bebês que esperavam por UTI neonatal no mês de janeiro, e também tem Passo Fundo e Erechim como referência para o envio de bebês que demandam atendimento intensivo neonatal. Nesse caso, a distância entre Três Passos e Passo Fundo é de 230km, uma viagem de cerca de três horas.
A distância e falta de unidades de UTI neonatal em regiões do RS fazem com que entidades, como a Associação Pró-UTI Neonatal e Pediátrica do Rio Grande do Sul e o Sindicado Médico do RS (Simers), alertem sobre a necessidade em abrir esses leitos nos hospitais gaúchos. Conforme o Simers, 130 cidades estão sem pediatras e mais de 30 maternidades foram fechadas nos últimos cinco anos no estado. De 2019 para cá, a redução nas vagas em UTIs neonatais foi de 16%.