Especialistas aconselham ficar atento aos sintomas de cada condição e procurar atendimento médico
Leptospirose, hepatite A, tétano, dengue, gripe e covid-19: essas são algumas das doenças que podem registrar aumento no número de casos nos próximos dias. As condições estão diretamente relacionadas ao cenário atípico que o RS vive, uma vez que podem ser causadas pelo contato com as águas das enchentes ou pela aglomeração dos abrigos que recebem milhares de pessoas. O pedido dos médicos é que a população fique atenta aos sintomas.
As secretarias de saúde do Rio Grande do Sul (SES) e de Porto Alegre (SMS) afirmam que, na medida do possível, estão tentando oferecer atendimento médico nos abrigos espalhados pela Capital e outros pontos do Estado. Apesar da dificuldade de acesso aos hospitais e das restrições de atendimento, os especialistas indicam que socorristas, voluntários e abrigados procurem uma avaliação médica assim que manifestarem qualquer sinal dessas doenças.
Os órgãos salientam que pessoas que perderam seus documentos não terão atendimento ou vacinação negados.
— Tem tido um movimento para que a assistência médica chegue nesses lugares. Além disso, o paciente pode buscar a rede de saúde pública, os prontos atendimentos e unidades básicas de saúde para, pelo menos, ter uma avaliação inicial. As teleconsultas também funcionam e, nesses momentos de crise, têm uma importância particular de levar atendimento em situações em que não é possível ter atenção presencial — afirma a chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Maria Helena Rigatto.
Uma das doenças que mais preocupam é a leptospirose, transmitida pela exposição direta ou indireta à urina de animais infectados pela bactéria Leptospira. Durante inundações, esgotos se misturam com a água da enchente, aumentando o risco de contaminação.
A bactéria pode entrar no corpo humano por meio de cortes ou arranhões e através das mucosas, sobretudo a boca. Os sintomas mais comuns são a febre alta, dor muscular (principalmente na panturrilha), dor abdominal, icterícia (coloração amarelada na pele), calafrios, fadiga, diarreia, náuseas e vômito. O período de incubação é de sete a 14 dias, mas alguns sinais podem levar até um mês para aparecerem.
— Boa parcela dos casos são assintomáticos, o que é preocupante. Os casos graves envolvem internação, uso de antibiótico e o manejo das complicações da doença, que pode causar insuficiência hepática, hemorragias pulmonares e anemia. A leptospirose chama atenção por causa da mortalidade. Nos pacientes com icterícia, a mortalidade varia de 5% a 10%, e nos casos mais graves, cerca de 40% vão a óbito — diz o infectologista do Hospital Moinhos de Vento Paulo Ernesto Gewehr Filho, diretor científico da Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI).
A melhor prevenção é evitar o contato com a água, solo ou objetos contaminados. Se necessário, é importante utilizar equipamentos de proteção individual (EPIs), como botas, luvas e máscaras, por exemplo. Beber somente água potável também é essencial.
Para quem ficou várias horas dentro das águas da enchente, como socorristas e voluntários dos resgates, recomenda-se a quimioprofilaxia pós-exposição. Pequenos ferimentos na pele aumentam o risco de infecção por facilitarem a entrada da bactéria no organismo. O tratamento consiste em tomar uma medicação imediatamente após o contato com a água contaminada para evitar o desenvolvimento da doença. A SES recomenda a prática, mas é importante consultar um médico para orientação.
Infecção causada pelo vírus A da hepatite, a transmissão da doença ocorre, principalmente, pelo contato de fezes com a boca através de água ou alimentos contaminados e pela exposição a baixos níveis de saneamento básico e de higiene pessoal. No cenário atual do RS, o chefe do Serviço de Infectologia da Santa Casa de Porto Alegre, Alessandro Pasqualotto, acredita que essa seja outra condição bastante preocupante.
O infectado pode apresentar sinais de fadiga, mal-estar, febre, náuseas, constipação ou diarreia, icterícia, urina escura e fezes claras. Os sintomas costumam aparecer de 15 a 50 dias após a infecção. O tratamento para doença é basicamente sintomático, com medicações que ajudem a aliviar as queixas do paciente.
— É uma doença que poucas pessoas tiveram e que a vacina começou há poucos anos, só para crianças — pontua Pasqualotto, que também é presidente da SGI.
Essa é a forma mais eficiente de prevenir a doença e, segundo a SES, os imunizantes já estão sendo distribuídos.
Causado pela bactéria Clostridium tetani, o tétano é uma doença grave que, se não tratada corretamente, pode levar à morte. A bactéria causadora da condição pode estar presente em vários lugares, principalmente na terra, mas também nas fezes de animais e seres humanos, plantas e objetos.
— Quando a pessoa tem um ferimento, essa bactéria entra no organismo e causa infecção na pele. A Clostridium tetani produz toxinas que podem paralisar a musculatura — diz Gewehr Filho.
O tratamento é realizado com a administração do soro antitetânico, que visa neutralizar a toxina da bactéria. Já a prevenção é feita com vacina, presente no Calendário Nacional de Vacinação. Na rede pública, o imunizante é aplicado em crianças, mas, segundo o infectologista do Hospital Moinhos de Vento, todos com risco de ter contato com a bactéria devem fazer a vacina. A SES e a SMS afirmam que estão aplicando o imunizante nos abrigos.
O RS já vivia uma epidemia de dengue antes do desastre climático e, segundo os especialistas, o número de casos tende a aumentar quando a água baixar. Isso porque o Aedes aegypti, mosquito que transmite a doença, precisa de água parada para depositar seus ovos. Febre alta, dores de cabeça e no corpo, manchas vermelhas e dor atrás dos olhos são alguns dos principais sinais.
— A expectativa para quando esquentar e as cheias diminuírem é que fique com água empoçada. Esse é um cenário em que o mosquito fica muito presente, então com certeza é uma grande preocupação — afirma Pasqualotto.
Com quadros parecidos, as doenças são bastante conhecidas dos outonos e invernos gaúchos. É comum que o paciente se queixe de tosse, espirros, coriza, dor no corpo, febre, dor de garganta, perda de olfato ou paladar. Como a principal forma de prevenir casos graves dessas doenças é pela vacinação, a Secretaria de Saúde de Porto Alegre afirma que está realização a imunização nos abrigos e a SES garante que repassou vacinas aos outros municípios afetados.
— São situações que podem vir das aglomerações nos abrigos. Somada ao inverno, a condição de muitas pessoas em contato próximo pode aumentar o número de casos. É importante que a população esteja alerta a esse risco — recomenda a infectologista Maria Helena, do HCPA.
Usar máscara e fazer a higiene correta das mãos também podem ser formas de prevenir as doenças.
Também considerada grave, uma vez que as taxas de mortalidade são altas, a raiva é transmitida ao ser humano por meio da saliva de animais contaminados com esse vírus. Os sintomas mais comuns são mal-estar, aumento de temperatura, dor de cabeça, irritabilidade e inquietude, e podem demorar até 45 dias para aparecerem.
— Nos resgates de animais, muitos socorristas e voluntários tiveram arranhaduras, mordeduras e lambeduras em feridas e podem ter tido contato com o vírus. É importante que essas pessoas façam uma avaliação médica com urgência porque não se sabe a procedência desses animais, então tem que tomar vacina ou fazer o soro antirrábico — explica Gewehr Filho. O imunizante, disponível na rede pública, está sendo aplicado pela SES e SMS.
Típicas do verão, as DDAs podem ser causadas por diferentes microrganismos infecciosos, como bactérias, vírus e parasitas. A infecção, que afeta o estômago e o intestino, é provocada pelo consumo de água e alimentos contaminados.
Os principais sintomas são fezes líquidas ou amolecidas, maior frequência nas evacuações, dores abdominais e febre. Em alguns casos, o paciente pode apresentar náusea, sangue ou muco nas fezes e desidratação. O tratamento também é sintomático, com antibióticos em casos específicos.