Destruída pela terceira vez por enchente desde setembro, Arroio do Meio é abalada, desta vez, também pela desordem civil. Cidade do Vale do Taquari está isolada desde quarta-feira (1º)
Destruída pela terceira vez por enchente desde setembro, Arroio do Meio é abalada, desta vez, também pela desordem civil. No município do Vale do Taquari, lojas e mercados foram saqueados. Um homicídio foi registrado na Rua Coberta, no Centro, em frente a dezenas de pessoas que estão abrigadas.
A cena é narrada por moradores como “absurda”. A vítima teria sido ferida com golpes de espeto no pescoço e depois foi morto a facadas, a poucos metros de onde a Defesa Civil desembarcava pessoas resgatadas com barco.
Segundo relatos de testemunhas, o corpo chegou a ser arremessado nas águas, mas foi removido por outras pessoas e ficou estirado ao chão. Em outro bairro, um homem foi baleado e está internado em Lajeado após conseguir transferência por helicóptero.
O assassinato ocorreu logo após estabelecimento comerciais serem saqueados. Em um bazar, apenas flores de plástico não foram levadas. Caixas de brinquedos vazias estavam espalhadas pelo chão, assim como cabides sem roupa.
Na frente de uma loja, garrafas de espumante vazias estavam espalhadas. Duas motos de funcionárias foram furtadas.
— Davam risada, diziam “que moto forte”. Estouravam champanhe e tomavam banho. Esse que morreu dava risada antes — disse o motorista Darlei Berté, que ajudava na limpeza da loja. No mesmo local, havia ainda o estoque removido de um mercado em Cruzeiro do Sul, que foi inundado mais cedo. Tudo foi levado.
Há ainda relatos de mais lojas atacadas pelo centro. Roupas e calçados foram levados.
— Onde a água não chegou, as pessoas saquearam — sinalizou Berté.
Na manhã deste domingo (5), GZH conseguiu acessar o município. Foi preciso seguir pela RS-130 até onde havia a ponte sobre o Rio Forqueta, que caiu. O carro da reportagem foi deixado de um lado. Foi preciso seguir de carona por mais cinco quilômetros. Esse isolamento dificulta até mesmo o acesso das equipes de segurança.
Pelo município, pessoas caminhavam desorientadas. Um senhor andava abraçado em um coelho de pelúcia que restou da decoração de Páscoa. Outras pessoas buscavam calçados – principalmente chinelos – em meio aos entulhos.
A pé, foi possível chegar ao que restou do bairro Navegantes. Casas destruídas com apenas as vigas em pé. Perto dali, uma fruteira colocava para fora quilos e mais quilos de frutas e verduras. Algumas ainda estavam em bom estado, e pessoas procuravam alimentos em meio ao barro.
— O que tiver ainda bom levem, porque vai estragar. Avisem o pessoal — pedia o dono do local, que não conseguiu gravar entrevista, tomado pela emoção.
Onde havia água, a limpeza já começou. Em tantas outras casas, agora destruídas, será impossível limpar.
Ainda isolada, a comida começa a chegar aos poucos por helicópteros e por uma rota alternativa através de Colinas, antes da ponte de Estrela a Lajeado. No hospital da cidade, a possibilidade de atravessar o local da ponte de barco garantiu a troca de turno das equipes médicas que atendiam incansavelmente desde quarta-feira (1º), quando a cidade foi isolada. Alguns pacientes também começaram a ser transferidos via aérea.
Marmitas eram preparadas no salão paroquial e em frente a prefeitura de Arroio do Meio. Filas se formavam por volta do meio-dia. A busca era intensa também por sinal de internet, já que muitos moradores queriam dar notícias a familiares que estão em outras cidades.