O dentista Cristiano Gatto, 47 anos, disse que habilidades como escoteiro ajudaram a salvar ele e a esposa, que segue internada no Chile
As cenas do acidente de ônibus que deixou dois mortos na fronteira da Argentina com o Chile na noite da última quinta-feira (25) não saem da cabeça do cirurgião-dentista Cristiano Gatto, 47 anos. Morador de David Canabarro, no norte gaúcho, ele viajava acompanhado da esposa, Nalva, 48, e do casal de amigos Darcy e Elenice, a professora que morreu no acidente.
Em entrevista a GZH Passo Fundo, Gatto lembra do momento em que o veículo, que levava 42 pessoas, capotou em Paso Jama, rodovia que conecta a Argentina ao Chile, na noite de 25 de abril (assista abaixo). De acordo com o governo brasileiro, 33 passageiros ficaram feridos e três permanecem internados em estado grave. Entre os hospitalizados está Nalva, que precisou passar por uma cirurgia no quadril em um hospital da cidade chilena de Calama e, nesta segunda-feira (29), deve ser transferida para Antofagasta. Segundo Gatto, o estado dela é estável.
Conforme o dentista, o ônibus fez um movimento de “zigue-zague” antes de sair da pista.
— Vimos que o motorista entrou em alta velocidade e estava com dificuldade para se manter na área de escape. Só lembro da minha esposa olhando para trás e gritando: “se segurem, vamos bater” — lembra.
Gatto teve lesões leves e, desde o acidente, está hospedado em um hotel na cidade de Calama, cidade a 1,5 mil quilômetros de distância da capital Santiago. Ele lembra de usar de todas as forças para permanecer calmo depois do capotamento apesar da adrenalina vivida no momento.
— Quando sai das ferragens tentei manter a calma e pedia a todo o momento para minha esposa se manter acordada. Vi que tinha um ferimento na perna e tive que fazer um torniquete com um cinto que tirei de uma mala para conter o sangramento, como aprendemos nos escoteiros — lembrou Gatto, que é chefe de um grupo de escotismo de David Canabarro.
— Eu não sei como eu me mantinha concentrado. Acho que foi Deus. Quando saímos do ônibus estava muito frio, acho que fazia uns 5ºC. Subimos em um barranco e nos reunimos todos juntos para nos mantermos aquecidos — completou.
Segundo ele, um carro da polícia chilena estava bem próximo do local quando aconteceu o acidente, o que facilitou o resgate dos passageiros. Gatto também conseguiu recuperar o celular e carteira com dinheiro e documentos, que perdeu durante a queda, com ajuda da polícia chilena.
Agora, porém, fica o trauma: Gatto dá apoio a Darcy Preto, que perdeu a esposa, Elenice Mezzomo Preto, 54 anos, no acidente. Ainda não há previsão para o translado do corpo da professora para David Canabarro, onde deve ser enterrada. Conforme a advogada da família de Elenice, Paula Mezzomo, alguns documentos como o atestado de óbito ainda precisam ser validados pelas autoridades chilenas através do consulado brasileiro, o que deve acontecer em breve.
Uma funerária de São Paulo deve fazer o translado depois que o corpo da professor for repatriado — processo que acontece no estado paulista. Darcy segue em Calama, no Chile, e deve retornar a David Canabarro antes da esposa.
Nora Edith Kunz, moradora do Vale do Taquari, também morreu no acidente. Os passageiros da excursão eram das regiões de Lajeado, de onde o ônibus saiu, Porto Alegre e Santa Maria. Segundo os entrevistados, tanto as empresas Vip Turismo e DH Transportes, realizadoras da viagem, quando o Consulado do Brasil no Chile têm prestado todo o auxílio aos passageiros e seus familiares.