Investigada de 39 anos afirmou que aquela era a primeira vez que encontrava Maurício Zart Arend, 36, pessoalmente
A Polícia Civil ouviu novamente a mulher que confessou ter assassinado o engenheiro Maurício Zart Arend, 36 anos, a facadas em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo. O crime aconteceu no fim da tarde da última sexta-feira (12) dentro de um apartamento na Travessa Haun, na área central.
No primeiro relato, logo após o fato, a investigada havia alegado ter agido em legítima defesa, mas sem dar mais informações do que havia acontecido naquele dia. Desta vez, ela detalhou aos investigadores como teria sido a briga, que terminou com o homicídio.
Ainda na manhã desta quarta-feira (17), a polícia havia confirmado ter obtido imagens de câmeras de segurança que mostravam o engenheiro e a mulher discutindo em frente ao prédio onde ela vivia com o filho de 15 anos, minutos antes do crime. Segundo a Polícia Civil, durante o interrogatório que ocorreu na tarde desta quarta-feira, a mulher confessou novamente ter sido a autora do homicídio, e alegou que a vítima estava transtornada e que precisou se defender.
— Disse que agiu em defesa dela e do filho, que se não tivesse se defendido ele iria matá-la — explica a delegada Ana Luísa Aita Pippi, titular da 1ª Delegacia de Polícia de Santa Cruz do Sul, responsável pela investigação do caso.
As câmeras de segurança registraram o momento em que os dois chegam ao prédio ainda no início da manhã anterior ao crime. A mulher alegou que aquela era a primeira vez que os dois se viam pessoalmente. No depoimento, ela relatou que eles tinham se conhecido por meio de uma amiga, nas redes sociais, e que mantiveram contato pela internet por duas semanas. Na madrugada daquela sexta-feira, segundo a mulher, eles tiveram o primeiro encontro, e depois foram até o apartamento dela.
Por meio das imagens, a polícia percebeu que o homem e a mulher saíram do apartamento e retornaram em alguns momentos com bebidas alcoólicas. Segundo o depoimento da investigada, ao longo do dia ela começou a estranhar o comportamento do engenheiro, que pareceria alterado, e decidiu retirá-lo dali.
— Ela relata que saiu com ele de casa para ver se o homem ia embora. Mas ele retornou sem ela estar em casa e, quando ela chegou, já estava transtornado. Ela diz que ele a agrediu, e o filho tentou defendê-la. Aí, começou a briga entre ele e ela — detalha a delegada.
Ainda em frente ao prédio teria se iniciado a discussão, que seguiu até o apartamento onde a mulher vivia com o filho. A investigada alegou que chegou a pedir ao adolescente para que acionasse a Brigada Militar. Foi ele quem telefonou para a polícia e aguardou pela chegada dos brigadianos, em frente ao residencial.
Sobre o momento das facadas, a mulher relatou que não sabe se o filho já havia descido do apartamento, mas que não viu mais o adolescente dentro do apartamento. Ela afirma ter agido sozinha, mas diz ter usado uma faca que teria pego do filho, quando ele tentava defendê-la. Segundo a polícia, a vítima foi atingida por pelo menos 20 golpes de faca, em diferentes partes do corpo, como pernas, braços e pescoço:
— Ela disse que não contou as facadas. Que tentava que ele parasse, mas que ele estava muito alterado, e ia para cima dela, e ela dava as facadas para que parasse.
Durante o depoimento, a mulher confirmou ter usado duas facas para atacar o engenheiro. Ela alegou que durante a briga ele conseguiu desarmá-la, já no quarto, e que ele teria tentado estrangulá-la. Neste momento, ela teria usado uma segunda faca, que estava na mesinha de cabeceira. A polícia ainda investiga se ela realmente agiu sozinha como argumenta. As facas foram apreendidas e encaminhadas para a perícia.
O histórico dos dois envolvidos também é avaliado pelos policiais, para entender o contexto do crime. Os investigadores apuram se possíveis problemas psiquiátricos do engenheiro teriam impactado a situação. O homem teria diagnóstico de bipolaridade, segundo a polícia. Ainda conforme a delegada, Arend tinha um registro recente envolvendo uma briga, no qual teria apresentado descontrole e falas desconexas, e havia sido preso por perseguição a uma ex-namorada. Ele também já havia sido dado como desaparecido. A investigada também tinha alguns registros na polícia, por envolvimento em brigas e ameaça.
Sobre a alegação de legítima defesa, segundo a delegada, a conclusão ainda depende da análise de perícias e do laudo de necropsia da vítima, que vai indicar, por exemplo, onde foram as facadas e quantos golpes atingiram o engenheiro. A mulher chegou a ser presa em flagrante logo após o homicídio, mas recebeu da Justiça o direito de permanecer em liberdade provisória, desde que cumpra algumas exigências. O inquérito ainda não tem previsão de ser concluído.
Responsável pela defesa da investigada, o advogado Mateus Porto confirma que a cliente sustenta ter agido em legítima defesa.
— Ela alega que se defendeu após ter sido agredida, e a vítima ter tentado matá-la. Infelizmente, o caso teve esse desfecho lamentável. Ela se viu obrigada a defender a própria vida e defender o filho, que tem 15 anos — afirma.