Morador de Passo Fundo teve o crescimento afetado por um tumor no cérebro quando criança
Conhecido em Passo Fundo, o jovem Luiz Augusto Marcio Marques completou 24 anos em 10 de abril, mas continua tendo a aparência de um adolescente de 12 anos. O motivo é uma condição pouco comum: ele recebeu o diagnóstico de craniofaringioma quando criança, um tumor no cérebro que comprime a hipófise, glândula que atua na produção de vários hormônios, entre eles o do crescimento.
Guto, como gosta de ser chamado, é morador do bairro São Cristóvão, onde vive com uma tia. Ele descobriu a doença em 2008, quando passou a conviver com fortes e constantes dores de cabeça. Ao fazer os primeiros exames veio a surpresa: tinha um tumor no cérebro com o tamanho de um limão.
O tratamento começou no mesmo ano, com sessões de quimioterapia e uma cirurgia que implantou uma válvula no cérebro para drenar o líquido do tumor. Ao todo, foram 15 anos entre idas e vindas ao hospital, e ele só recebeu alta no ano passado.
— Antes disso, fizeram uma cirurgia para tentar retirar o tumor, mas só conseguiram tirar 20%. Com isso, acabou afetando a parte do crescimento e eu parei de crescer. A aparência ficou igual até hoje, mas o tumor continua aqui, agora bem mais pequeno — conta ele.
Hoje Guto está bem e tem acompanhamento anual com um médico endocrinologista. Apesar da doença e dos anos de tratamento, ele conta que a principal dificuldade que encontra é com o bullying.
— É meio complicado. Se eu vou a algum lugar, ninguém acredita na minha idade. Tem que estar sempre com a identidade. Tem gente que faz bullying. Mas não dá nada, hoje eu consigo ter uma vida 100% normal — conta.
Bem-humorado, Guto tem chamado a atenção da internet. Ele acumula mais de 15 mil seguidores no Instagram e centenas de likes ao publicar vídeos com trends conhecidas nas redes, como “R$ 2 ou um presente misterioso”. O compartilhamento dos seus conteúdos tem ajudado para que as pessoas o conheçam e, assim, os casos de bullying diminuam. Com a novidade, a rotina dele também mudou e, agora, ele se dedica a pensar e produzir mais vídeos.
— Eu moro com minha tia, ajudo ela em casa pela manhã, vou no supermercado com ela e durante o dia eu gravo os vídeos. De certa forma, com os vídeos eu comecei a ser mais aceito pelas pessoas. Hoje estava no shopping e algumas pessoas me pararam e pediram para tirar foto — conta.
Durante os 15 anos de tratamento, Guto foi paciente do Centro Oncológico Infantojuvenil do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), em Passo Fundo. Segundo o médico oncologista Pablo Santiago, que coordena o setor e tratou Guto no período, o craniofaringioma cresce na base do crânio e surge através de uma má formação.
A região fica próxima à hipófise, glândula que produz hormônios, como do crescimento, tireoide e sinalizadores sexuais. Ali, o tumor comprime a glândula e pode afetar seus efeitos. Entre os sintomas mais comuns estão as fortes dores de cabeça, vômito, alterações visuais e outros sintomas relacionados à produção hormonal.
— No caso do Guto, o problema surgiu antes da adolescência, quando ocorrem todas as transformações do corpo humano. Assim, aspectos importantes dessa fase, como a diferenciação sexual, acabaram não acontecendo ou acontecendo em menor escala por causa da deficiência hormonal — explicou o médico Pablo Santiago.
Apesar de incomum, a doença não chega a ser rara e pode se apresentar nos primeiros anos de vida, que são os casos mais comuns, mas se torna mais evidente em adolescentes e adultos jovens.
— O paciente precisa receber reposições hormonais como forma de manutenção. O tratamento busca, de preferência, ressecar o tumor, quando possível, mas às vezes o tumor tem um tamanho maior do que a cirurgia consegue abordar — pontuou.
Apesar da complexidade, a doença pode ser tratada com medicação e acompanhamento médico regular, como é o caso de Guto, que relata viver com serenidade mesmo com a condição.
— Hoje eu tô bem, tudo certo — termina Guto, com um sorriso.