Pesquisadores brasileiros e de fora do país apresentam projetos que já fazem uso da tecnologia e visam melhorar a produção agrícola
Tida como a próxima grande revolução global, a inteligência artificial (IA) é tema de destaque da Expodireto Cotrijal, uma das maiores feiras do agronegócio do mundo, que segue até sexta-feira (8) em Não-Me-Toque, no norte gaúcho. No encontro, pesquisadores apresentam projetos que já fazem uso da tecnologia em diversas áreas, desde o apoio na reprodução das vacas de leite até a tomada de decisões nas lavouras.
Na terça-feira (5), o assunto foi um dos abordados na Arena Agrodigital. Em palestra, o professor Ronaldo Cerri, da University of British Columbia, no Canadá, falou como as tecnologias de precisão e IA ajudam a mudar o cenário para facilitar o manejo dos rebanhos.
Segundo Cerri, os monitores que já têm esse tipo de tecnologia possibilitam ao produtor saber quando o animal retornou ao cio depois do parto e qual a intensidade do período fértil, por exemplo. Dessa forma, quem tem vacas de leite podem saber quando utilizar um sêmen mais caro e se é possível ter transferência de embriões.
Com dados mais precisos, os produtores podem ter melhor controle do rebanho e com intervenções mais eficientes sem utilizar medicamentos desnecessários, explica Cerri. Contudo, essas informações precisam ser otimizadas para facilitar a interpretação.
— A otimização não é criar mais e mais gráficos, mas sim simplificá-los e saber usá-los da melhor forma. Sabemos que o dia a dia de uma fazenda é muito corrido, especialmente para quem toma as decisões — disse o pesquisador.
Uma das empresas que participa da feira e trabalha com a otimização de dados sobre a saúde de vacas e rebanhos é a Cowmed, criada há 13 anos em incubadora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Há sete anos, a companhia entrou no mercado com uma coleira para vacas, dispositivo que oferece o monitoramento do rebanho para os produtores e técnicos em tempo real.
O “wearable” conta com um “acelerômetro”, equipamento que capta o movimento do animal com base na ruminação, respiração, movimentação e ócio, período de repouso do animal. Assim, o sistema identifica se houver uma mudança no padrão dessas quatro fases — seja por motivo de cio ou doença.
A ideia do equipamento é possibilitar que o produtor tome as melhores decisões com base no que o animal sente ou passa, explicou a gerente da empresa, Jordani Cardoso:
— Conseguimos ser muito mais assertivos em melhorar o ambiente, a condição de alimento e, principalmente, no lugar onde elas ficam. Isso é sempre buscando ser mais eficiente, aumentar a produção de leite, mas também pensando em bem-estar animal, em conforto térmico e animal.
A inteligência artificial também está no centro das operações da Zeit, startup que apresenta três aplicativos para auxiliar a tomada de decisões de produtores de soja na Arena Agrodigital. As aplicações ajudam, cada uma à sua maneira, o agricultor a determinar o que será feito na lavoura desde a aplicação do fertilizante e insumos até a hora da colheita e comercialização de soja.
Conforme Júnior Navarini, colaborador da startup e estudante de Medicina Veterinária da UFSM, um dos dispositivos busca analisar os níveis de potássio da soja e, assim, avalia se a planta sofre algum tipo de estresse, como a fome oculta, que ocorre quando o cultivar tem perda de produção mas não apresenta sintomas de deficiência.
Nesse caso, a tecnologia ajuda os produtores a acompanhar as mudanças do mercado. Se antes os produtos vendidos à soja tinha como base única e exclusivamente a quantidade, como “100 sacas por hectare”, hoje a realidade é outra: além do volume, a qualidade da produção é levada em conta no momento de negociar os grãos.
— A tecnologia fornece ao produtor os níveis de umidade, proteína e óleo, e facilita para que o produtor consiga maximizar seus ganhos, onde vai vender pela qualidade desse produto, sua constituição, e não só pelo volume. Então dá mais possibilidades aos produtores, eles não ficam dependentes da quantidade da produção, mas também passam a observar a qualidade daqueles grãos que estão produzindo — explicou Navarini.
Além da soja, a startup faz testes para outras culturas, como trigo, milho e cevada. Entre as aplicações, também há um software que contabiliza o número de bactérias totais dos bioinsumos.
Até sexta-feira (8), os visitantes da Expodireto poderão acompanhar palestras e discussões sobre tecnologia agrícola. Confira a programação desta quarta-feira (6).