As duas forças de segurança gaúchas têm índices superiores à média nacional
O Rio Grande do Sul é o Estado brasileiro com mais mulheres na Polícia Civil e o terceiro em ocupação funcional feminina na polícia militar. São 43,1% delas na Polícia Civil e 20,9% na Brigada Militar (BM). As duas forças de segurança gaúchas têm índices superiores à média nacional. Os dados são do Raio X das Forças de Segurança Pública do Brasil, divulgado nesta semana pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
De acordo com o chefe de polícia do Estado, delegado Fernando Sodré, e o comandante-geral da BM, Cláudio Feoli, isso é resultado de fatores como abertura das instituições ao trabalho feminino e interesse das mulheres em ocupar as funções públicas.
— É uma condição altamente positiva. A diversidade traz o ganho de aumentar o sentido de representatividade da sociedade. Amplia a visão diversa de mundo e agrega mais capacidade de reflexão e percepção sobre os aspectos do trabalho — analisa Sodré.
O chefe de polícia destaca que as funções de comando e tomada de decisão também são compartilhadas entre mulheres. Das 13 diretorias da força, sete possuem ocupação feminina.
O comandante-geral da BM aponta uma característica que considera diferenciada no Rio Grande do Sul: os concursos, desde o início dos anos 2000, deixaram de determinar quantitativos de vagas por sexo.
— As mulheres apresentam maior poder de empatia e contribuem com sua expressividade para trazer uma imagem mais amigável para a Brigada. Temos presença feminina em todas as unidades da corporação e observamos competência e comprometimento em cada função exercida — define Feoli.
O chefe da BM reconhece que ainda não há mulheres no comando de batalhões, mas diz que esta progressão ocorrerá nos próximos anos, quando as oficiais que ingressaram na base da carreira alçarem as patentes superiores do oficialato.
Para o pesquisador da Escola de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Rodrigo de Azevedo, o estudo também apresenta informação significativa ao demonstrar que a expressão de progresso na ocupação feminina em funções de segurança pública, percebida no Estado, não se manifesta em outras unidades federativas.
— A realidade nacional é outra, de baixa presença das mulheres, enquanto aqui no Estado vemos o exemplo da Polícia Civil, onde existe uma condição quase de equidade — salienta o pesquisador, integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Azevedo indica que a média nacional para a Polícia Militar é 12,8% e para a Policia Civil é de 27%. Os Estados com o pior indicador para Polícia Militar são Rio Grande do Norte e Ceará, com 6,1% de vagas ocupadas por mulheres. Já para a Polícia Civil, o pior desempenho ocorre em São Paulo, com percentual de 21,1%.
Conforme o pesquisador, o desempenho no RS se deve à visão das instituições em não estipular limites por sexo nos editais de ingresso no serviço público, garantindo a livre concorrência entre homens e mulheres por vagas.
O fato apontado pelo especialista se confirma com a última abertura de turma para formação de inspetores e escrivães. Em agosto passado, o grupo que ingressou na Academia de Polícia era formado por 165 homens e 180 mulheres.
A professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Marlene Spaniol, acrescenta que existe uma demonstração de interesse e dedicação das mulheres em ocupar funções públicas.
— As mulheres têm muito foco nos projetos que assumem. No caso do serviço público, há o atrativo da estabilidade e da expectativa de melhores remunerações. No desempenho das funções não é diferente. Quando desafiada, a mulher consegue responder em alto nível de foco e comprometimento — descreve a pesquisadora que integra o Fórum e é oficial da reserva da Brigada Militar.
Marlene diz considerar que houve uma circunstância propícia ao progresso da ocupação feminina na corporação militar, quando o Estado começou a formar oficiais mulheres antes de passar a admitir o amplo ingresso de soldados mulheres.
— Foram as oficiais formadas nas primeiras turmas que puderam atuar como supervisoras e orientadoras da formação das atuais gerações. Isso contribuiu para a construção de um ambiente adequado para o crescimento da participação da mulher na segurança pública do Rio Grande do Sul — conclui.