Tricolor precisa vencer seu jogo e torcer por tropeço do Botafogo
Especial é um adjetivo utilizado para aquilo que se considera incomum, excepcional, raro, notável, sublime. Luis Suárez é especial. O cenário do jogo contra o Corinthians, no domingo (12), é incomum. A partida das 16h na Arena é uma oportunidade excepcional em um campeonato dos mais raros contextos. Todos estes predicados dão a chance de que os mais de 50 mil gremistas que vão ao estádio vivam momentos tão notáveis quanto sublimes.
Aos 41 minutos do primeiro tempo da partida pela 29ª rodada do Brasileirão, o torcedor Felipe Pires viu a vida do Grêmio no Brasileirão sem contornos. Era um borrão sem perspectivas de deixar de ser abstrato. Sem chance de títulos. Com uma vaga no G-4 distante e um lugar no G-6 como o melhor que podia acontecer.
Tudo porque Everton fez 1 a 0 para o Flamengo naquela noite de 25 de outubro. O diretor de atendimento nunca imaginou que 18 dias depois voltaria ao Humaitá com chance de pontear a tabela de classificação.
— Naquela hora, pensava que o Grêmio só não podia perder de novo para o Flamengo. Depois, achei que empatou cedo demais. E quando virou e fez o terceiro, ainda levou o segundo. Quando acabou foi um alívio — relatou Felipe, ao falar de sua experiência no 3 a 2 sobre o Rubro-Negro, jogo em que Suárez foi desfalque.
Ele foi um dos 22 mil gremistas que tiveram forças para ir à Arena após a derrota por 3 a 0 para o São Paulo, na 28ª do Brasileirão. Até o intervalo do jogo contra os cariocas, a diferença para o líder Botafogo estava em 15 pontos a nove rodadas e meia para o final do campeonato. Após a virada, Felipe foi para casa e mandou uma mensagem para o pai afirmando que aquela virada era a “virada de chave”.
— Mas para mim, a virada de chave era a briga por vaga na Libertadores — destaca com sinceridade.
Ledo engano porque Luis Suárez é especial e tratou cada um dos jogos seguintes como final de Copa do Mundo. Gols e vitórias épicas se materializaram. A partir dali, a vantagem do Bota desmoronou jogo a jogo até não sobrar quase nada.
O que torna a situação da 34ª rodada incomum. Não só pelo encurtamento da diferença —no momento, ela é de saldo de gols e a vantagem de os cariocas terem uma partida a mais a disputar. Mas o grupo de jogos deste fim de semana não é excepcional apenas porque Botafogo e Grêmio estão emparelhados. Também há o Palmeiras com os mesmos 59 pontos, além de Flamengo e Bragantino ouriçados pelo título. Mas a posição que o Grêmio se coloca nesse entrevero e a possibilidade que se ergue para os tricolores é notável.
— O clima é espetacular. O Grêmio está conseguindo na hora certa os resultados. O Grêmio tem as mesmas possibilidades de ser campeão de Flamengo, Palmeiras e Botafogo. Estão em condições iguais. Vai depender do momento psicológico e, nesse aspecto, o do Grêmio é muito bom — enfatiza Danrlei, goleiro campeão brasileiro em 1996.
A partida das 16h é rara porque não é todo dia que o Grêmio tem a chance de ser líder do Brasileirão. De não ter ninguém à sua frente. De estar na posição mais desejada. Se vencer um Corinthians ameaçado pelo rebaixamento, o Botafogo não pode ganhar do Bragantino para que o primeiro lugar vire realidade.
Qualquer outro resultado que não seja a vitória na Arena impossibilita que o Grêmio lidere pela 21ª vez o Brasileirão na Era dos Pontos Corridos — o equivalente a 4,5% das rodadas disputadas desde 2004, quando a fórmula passou a ser adotada. A última delas foi a segunda rodada de 2017. Seis anos. Seis longos anos que a posição de honra não é atingida. Seis anos em que o clube e os gremistas viveram de tudo um pouco.
Resta dar continuidade à campanha em casa. Com 79,2% de aproveitamento diante do seu torcedor, o time de Renato Portaluppi é o melhor mandante da competição.
Por tudo isso, o Grêmio pode transformar o que há 18 dias parecia ser um domingo qualquer em um dia sublime e deixar aberta a possibilidade que mais quatro desses virão, em um fim de ano que pode ser especial, incomum, excepcional, raro, notável, sublime.