The New York Times publica reportagem mostrando elos de grupos radicais em cidades do sul do país
A serra gaúcha voltou a figurar na imprensa internacional nesta semana como um dos locais no sul do Brasil onde células neonazistas costumam usar como refúgio. Uma grande reportagem do The New York Times, o mais influente jornal do mundo, aprofundou na terça-feira (7) as investigações sobre a presença de membros dos Hammerskins, o violento grupo extremista dos Estados Unidos, no Rio Grande do Sul.
O tema já foi foco da imprensa europeia, como a coluna mostrou em setembro. Naquele mês, também mostramos que grupos neonazistas se haviam se reunido em Gramado e Canela.
Na texto do jornal nova-iorquino, assinado pela jornalista Júlia Vargas Jones e com fotos de Victor Moriyama, são relacionados os diversos ataques ocorridos no Brasil nos últimos meses, como tiroteios em escolas e agressões com facas.
O Times também destaca a operação deflagrada pela Polícia Civil de Santa Catarina que neutralizou uma célula dos Hammerskins no Estado vizinho em novembro de 2022. No Rio Grande do Sul, a reportagem conta que agentes foram recebidos com tiros ao entrar em uma casa na zona rural de Nova Petrópolis.
“A pessoa que atirou contra a polícia era uma mulher sozinha com seu filho pequeno e um bebê. Ninguém ficou ferido e a polícia disse ter encontrado duas pistolas, 96 cartuchos de munição e um tesouro de materiais nazistas, incluindo uma braçadeira com uma suástica, recordações alemãs da Segunda Guerra Mundial, a bandeira de um grupo neonazista internacional e suprimentos para produzir mercadorias para um grupo neonazista local”, afirma o texto do Times.
A maioria dos ataques, segundo investigadores, tem relação com conteúdos de ódio na internet. A polícia destaca que nem sempre os alvos são judeus, mas “qualquer pessoa que não seja branca”, conforme a reportagem.
Segundo a apuração do Times, a Polícia Federal (PF) abriu 21 investigações envolvendo neonazistas neste ano, o mesmo número dos três anos anteriores combinados.
O jornal americano destaca ainda os dados da Confederação Israelita Brasileira (Conib), divulgados também pela coluna, na quinta-feira (9). Conforme a entidade, houve, em outubro deste ano, 467 denúncias de antissemitismo, em comparação com 44 em outubro do ano passado, um aumento de quase 1.000%.
O texto lembra também um episódio que provocou polêmica em Porto Alegre: uma pintura no piso às margens do lago no Parque Farroupilha, a Redenção, cujos traços no chão lembram uma suástica, símbolo nazista.
“Em 2020, a cidade de Porto Alegre, capital do sul do estado com uma população de 1,5 milhão de habitantes, reformou um parque para incluir no pavimento um desenho original da década de 1930. O desenho lembrava uma suástica e os moradores reclamaram. Uma investigação da cidade concluiu que não havia ligação entre o desenho e o símbolo nazista. Desde então, o design foi vandalizado”, afirma a reportagem.
Em novembro de 2021, GZH mostrou que dois pareceres concluídos pela Secretaria Municipal da Cultura (SMC) apontaram que não foi localizada nenhuma relação entre a suástica nazista e a pintura do piso.
O Times lembra ainda que, antes da Segunda Guerra Mundial, de 1928 a 1938, o Brasil chegou a ter “o maior partido nazista fora da Alemanha, com 2,9 mil membros em 17 Estados”. Durante 10 anos, o Partido Nazista no Brasil operou de forma legal e disseminou ideais antissemitas por meio de jornais, eventos e em escolas da comunidade alemã.
Após a guerra, o Brasil e outras nações sul-americanas, como a Argentina, tornaram-se refúgio dos extremistas que fugiam de processos judiciais na Europa.