Mandados são cumpridos nas cidades de Cachoeirinha, Gravataí e Sapucaia do Sul. São nove prisões temporárias, além de ordens de busca e bloqueio de contas bancárias. A polícia acredita que outras pessoas tenham sido vítimas do mesmo esquema
Há cerca de dois meses, uma costureira de Canoas, na Região Metropolitana, entregou R$ 172 mil a um grupo de estelionatários. A investigação levou a polícia a identificar suspeitos de integrarem um esquema do conto do bilhete premiado – uma trapaça antiga, mas que segue fazendo vítimas. Nesta terça-feira (5), uma operação na Grande Porto Alegre mirou investigados por esse crime. Nove pessoas foram presas na ofensiva.
Foram cumpridas pela Polícia Civil nove prisões temporárias, além de 16 mandados de busca e apreensão e nove bloqueios de contas bancárias – essas últimas com intuito de tentar recuperar parte do dinheiro subtraído. Foram apreendidos R$ 25 mil em espécie, um carro e duas motocicletas.
As ordens judiciais foram executadas nas cidades de Cachoeirinha (a maior parte delas), Gravataí e Sapucaia do Sul. O grupo, segundo a polícia, é originalmente dos municípios de Cachoeirinha e Gravataí. A maioria dos alvos possui antecedentes. Eles são investigados pelos crimes de estelionato e também associação criminosa.
Segundo a polícia, os golpistas pulverizaram o dinheiro da vítima entre os integrantes dessa associação criminosa. A maior parte, inclusive, foi usada para compra de dólares em espécie em diferentes casas de câmbio.
Outro fator que chamou a atenção dos investigadores, é que os criminosos mantiveram contato por telefone com a vítima. Conforme a polícia, eles fizeram isso no intuito de manter a idosa sem perceber que havia sido ludibriada e de conseguir retirar mais valores dela. Os estelionatários conseguiram convencer a costureira a realizar outras transferências de valores para conta indicadas por eles. A vítima só percebeu que havia sido enganada semanas após sofrer o golpe.
— É o mesmo golpe, do conto do bilhete premiado. Era uma economia da vida inteira dessa vítima. Ela ficou uma semana sendo enganada. Além de fazerem todo o procedimento de retirada do dinheiro, de dizer que era um bilhete, eles continuaram mandando mensagens e ela fazendo Pix — explica a delegada Luciane Bertoletti, titular da 3ª Delegacia de Polícia de Canoas.
Neste caso, os golpistas abordaram a vítima enquanto ela estava na rua. Um homem, de aparência mais humilde, aproximou-se da idosa pedindo ajuda para localizar um endereço. Enquanto ela explicava para ele onde ficava a rua, outro estelionatário, bem-vestido, passou pela calçada e também começou conversar com os dois. A partir dali, deram sequência ao golpe.
— Ele diz que ouviu a conversa e finge ligar para um gerente da Caixa Econômica Federal. Durante a ligação, ele diz que o primeiro golpista está com um bilhete premiado. E aí a vítima entra naquela hipnose. O falso dono do bilhete diz que não tem conta, que não tem como receber o valor — detalha a delegada.
Os golpistas convenceram a vítima de que eles deveriam entregar um valor antecipado ao dono do bilhete, como garantia de que ele não seria enganado.
A polícia suspeita que o mesmo grupo possa ter feito outras vítimas. No entanto, nesses casos, nem sempre as pessoas lesadas procuram a polícia.
— Muitas vítimas de golpe têm vergonha de terem sido enganadas. Não conseguem nem mesmo contar para a família. É muito importante que essas pessoas registrem a ocorrência, para que esses criminosos sejam identificados e responsabilizados — reforça a delegada.