- O influenciador e humorista Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como Nego Di, foi preso pela Polícia Civil neste domingo (14) na praia de Jurerê, em Santa Catarina.
- Segundo a investigação, ele é suspeito de estelionato. Nego Di teria lesado pelo menos 370 pessoas com a divulgação da venda de produtos por meio de uma loja virtual. Conforme a polícia, os itens nunca foram entregues.
- Anderson Bonetti, que seria sócio do humorista no negócio, é considerado foragido pela polícia, e segue sendo procurado.
- Em nota, a defesa de Nego Di afirmou que “está tomando todas as medidas legais cabíveis”, e destacou a importância do princípio constitucional da presunção de inocência, “que assegura a todo cidadão o direito de ser considerado inocente até prova em contrário”.
- Na última sexta (12), Nego Di foi alvo de outra operação do Ministério Público do Rio Grande do Sul por suspeita de lavagem de dinheiro com rifas virtuais em redes sociais.
- Após ser preso, ele participou de uma audiência de custódia, e foi transferido para o Rio Grande do Sul. Ele chegou por volta das 22h e foi levado para a Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan).
A Polícia Civil gaúcha afirmou, em coletiva de imprensa concedida no Palácio da Polícia, em Porto Alegre, que há “um farto material probatório de estelionato” contra o influenciador e humorista Dilson Alves da Silva Neto, o Nego Di.
Ele foi preso na manhã deste domingo (14), em Florianópolis, Santa Catarina, por determinação da Justiça do Rio Grande do Sul. Nego Di teria enganado, pelo menos, 370 pessoas com a venda de produtos que jamais foram entregues aos clientes.
— São 370 vítimas identificadas, R$ 5 milhões levantados, com quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico. É um farto material probatório que não nos deixa dúvidas de que houve, sim, estelionato — disse o chefe de Polícia do Estado, delegado Fernando Sodré.
Em nota divulgada no fim da tarde, os advogados do influenciador afirmaram que “a defesa está tomando todas as medidas legais cabíveis”, e destacaram a importância do princípio constitucional da presunção de inocência, “que assegura a todo cidadão o direito de ser considerado inocente até prova em contrário”.
No começo da tarde, o investigado passou por audiência de custódia, perante o Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina, e teve sua transferência para o Rio Grande do Sul autorizada. Após passar por exames, foi encaminhado à Penitenciária de Canoas (Pecan).
Esquema em loja virtual
A investigação, conforme a polícia, começou em 2022. A movimentação financeira em contas bancárias ligadas a ele, na época, passou de R$ 5 milhões. O montante foi levantado a partir de quebras de sigilo bancário.
A loja virtual, denominada Tadizuera operou entre 18 de março e 26 de julho de 2022, quando a Justiça determinou que ela fosse retirada do ar.
De acordo com as apurações, o influenciador fazia a divulgação dos produtos à venda em seus perfis nas redes sociais, como aparelhos de ar-condicionado e televisores, muitos deles com preços abaixo dos de mercado. Parte dos seguidores dele nas redes sociais, que hoje passam de 10 milhões, comprou os produtos, mas, segundo a polícia, os itens nunca foram entregues.
A investigação aponta que não havia estoque, e que Nego Di enganou os clientes prometendo que as entregas seriam feitas. Ainda assim, movimentou dinheiro que entrava nas contas bancárias da empresa.
Os delegados descartam, por enquanto, participação de Gabriela Sousa, esposa de Nego Di, no esquema da loja virtual. Anderson Bonetti, sócio do humorista no negócio, é considerado foragido pela polícia, e segue sendo procurado.
Inquérito com mais de 2,5 mil páginas
Durante a coletiva, o chefe da Polícia Civil, Fernando Sodré, a diretora do Departamento de Polícia Metropolitana, delegada Adriana da Costa e o delegado regional Cristiano Reschke, fizeram questão de detalhar a robustez do inquérito presidido pelo delegado Marco Guns, titular da 1ª Delegacia de Canoas. Os delegados também buscaram estabelecer contraponto às alegações do investigado sobre suposta perseguição política.
— Foi um trabalho de qualidade, de fôlego, com centenas de vítimas identificadas e tomada de dezenas de depoimentos — apontou a delegada Adriana.
— Gostaria de deixar muito claro que esta investigação agiu sobre indícios de crimes e não sobre pessoas. Conhecidas ou não, pessoas serão investigadas pela Polícia Civil quando houver notícia de crimes — completou o delegado Cristiano Reschke.
Titular do inquérito, o delegado Marco Guns detalhou que a apuração seguiu passos dos dois investigados desde abril de 2022, tendo entregue ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, em agosto de 2023, um conjunto de provas apresentado em um inquérito cujo volume supera as 2,5 mil páginas.
O documento, pontuou Guns, contém cruzamento de operações financeiras, com divulgações de produtos pelo investigado; análises de dados bancários, fiscais e telefônicos; depoimentos de vítimas também confrontados com movimentações bancárias, entre outros indicativos de delitos. O inquérito, naquela ocasião já pedia a prisão preventiva.
— O inquérito ficou sob análise do MP e da Justiça desde o ano passado. Tratava-se de um caso complexo e entendemos que havia necessidade de criteriosa avalição das provas apresentadas. Não cabe à polícia julgar o tempo de fazer das outras instituições. O resultado deste trabalho está sendo apresentado agora à sociedade — definiu Sodré.
O chefe de Polícia ainda citou a contrariedade aos argumentos do investigado sobre suposta perseguição pessoal contra ele por razões políticas.
— Não há nenhum conteúdo ou perspectiva política neste trabalho. Não existe cabimento, nem lógica qualquer neste tipo de argumentação e as provas apresentadas demonstram isso — concluiu Fernando Sodré.
Operação do MP
Na sexta-feira (12), Nego Di havia sido alvo de uma operação do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) por suspeita de lavagem de dinheiro. Conforme o MP gaúcho, o influenciador promovia rifas virtuais com prêmios atraentes, como celulares de última geração, videogames, automóveis e até dinheiro instantâneo via Pix.
No entendimento das autoridades, a ação do influenciador resulta em um esquema que configura lavagem de dinheiro, mas que não tem relação com a suposta fraude da loja virtual Tadizuera.
Também na sexta, Gabriela Sousa, esposa de Nego Di, foi presa em flagrante pela posse ilegal de uma arma sem registro e de uso restrito às forças de segurança. Ela foi liberada após pagar R$ 14 mil em fiança.
O que diz a defesa do investigado
Por nota, assinada pelos advogados Hernani Fortini, Jefferson Billo da Silva, Flora Volcato e Clementina Ana Dalapicula, a defesa de Nego Di se manifestou com o texto abaixo:
“Em relação aos recentes acontecimentos envolvendo o humorista Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como Nego Di, gostaríamos de esclarecer que estamos tomando todas as medidas legais cabíveis.
Destacamos a importância do princípio constitucional da presunção de inocência, que assegura a todo cidadão o direito de ser considerado inocente até prova em contrário. O devido processo legal deve ser rigorosamente observado, garantindo que o acusado tenha uma defesa plena e justa, sem qualquer tipo de pré-julgamento.
Pedimos à mídia e ao público que tenham cautela na divulgação de informações sobre o caso, uma vez que a ampla exposição de fatos ainda não comprovados pode causar danos irreparáveis à imagem e à carreira de Nego Di.
Qualquer divulgação precipitada pode resultar em uma condenação prévia injusta, prejudicando sua honra e dignidade”.
Quem é Nego Di
Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como Nego Di, é um comediante conhecido em Porto Alegre por realizar eventos de comédia “stand-up” desde 2018.
Em 2021, o humorista ficou conhecido no Brasil pela sua participação no Big Brother Brasil 21. O porto-alegrense foi o terceiro eliminado do reality da TV Globo, até então com o maior índice de rejeição da história, 98,76% dos votos. A porcentagem, porém, foi superada por uma de suas parceiras de jogo, a cantora Karol Conká, eliminada do programa com 99,17% dos votos.
Após a passagem no reality, Nego Di ampliou sua carreira como influenciador digital. Neste ano, Nego Di se envolveu em nova polêmica durante a enchente no Rio Grande do Sul. De acordo com o MP, em seus perfis nas redes sociais, o autor das postagens afirmou, sem provas, que o governador Eduardo Leite e a Brigada Militar estariam impedindo que barcos e jet skis privados realizassem salvamentos e resgates na região de Canoas. A alegação seria suposta ausência de habilitação dos condutores para esse tipo de veículo.
Checagem realizada pela Agência Lupa e publicada por GZH apontou postagens desse tipo como conteúdo falso. Em maio, a juíza Fernanda Ajnhorn determinou que a Meta, responsável por Facebook e Instagram, excluísse as publicações, atendendo a um pedido apresentado pelo Ministério Público.
Na ocasião, o advogado Hernani Fortini, representante de Nego Di, entendeu que havia um equívoco na ação interposta, “uma vez que os fatos narrados são baseados em relatos de voluntários e divulgados no momento do ocorrido”.
— O intuito das postagens era pressionar o ente público a realizar as devidas correções. Felizmente, se verificou que as situações denunciadas foram corrigidas ou melhor orientados os servidores na linha de frente — afirmou o defensor de Nego Di.